Aquele dia havia sido demais para Guilherme e Rafaela. Acontecimentos estranhos acometiam aquele casarão desde que entraram lá.
— Você quer que eu te leve pra casa? — perguntou o rapaz à Rafaela.
— Não precisa. Eu pedi permissão para minha mãe para ficar aqui por um tempo. Sabe, estou de férias do colégio...
Guilherme sorriu para ela e subiu as escadas para dormir. Rafaela foi atrás dele. A moça acordou quase ao meio-dia. Desceu as escadas e viu Gui sentado em uma cadeira na cozinha lendo um livro com capa vermelha, fixou os olhos no título do livro: "Demônios e suas diabruras".
O café estava pronto, então a moça pegou uma xícara na cristaleira, encheu-a e adoçou com açúcar. O rapaz parecia muito concentrado no livro, e a namorada o observava enquanto estava lendo. No momento em que bebeu o primeiro gole, o livro de Gui voou contra a porta do porão, produzindo um estrondo altíssimo e um amassado fundo na madeira. Rafa se engasgou e Gui caiu da cadeira com o susto; o rapaz levantou e deu um tapinha nas costas da moça, que se recuperou.
— O que... O que foi isso? — disse Rafa entre as tossidas.
Gui levantou as sobrancelhas e as mãos levemente.
— Não sei! — respondeu.
As roupas da garota estavam empapadas de café porque a xícara virara em cima dela durante o susto. Ela subiu as escadas para tomar banho e trocar de roupa, enquanto isso o rapaz recolhia o livro na página em que parou de ler. Ele percebeu que o livro voara no momento em que ia começar a ler o próximo parágrafo:
"Um bom exemplo disso é o demônio Nigaka, que aparece para fazer coisas ruins com quem encontra. Há relatos que dizem que ele se alimenta do medo."
— Nigaka?! — murmurou Gui para si mesmo.
Ele subiu para seu quarto e guardou o livro em cima de uma estante. Um panfleto parecido com um bilhete caiu da cabeceira de sua cama quando ele se virou para sair. Era o panfleto que passara pela porta de sua antiga casa, que dizia algo sobre explicações sobre eventos sobrenaturais.
"Está na hora de fazer o que o panfleto manda", pensou Gui.
Ele saiu do quarto e gritou para a porta no fim do corredor, a do banheiro, onde Rafaela tomava banho:
— Apresse-se!
Ele ouviu um "JÁ ESTOU ACABANDO!" abafado pela água do chuveiro.
Descendo as escadas, Tigresa esfregou seu rabo na perna de Gui, Napoleão dormia embaixo da mesa de jantar, Luna estava na janela junto à Furacão. O rapaz repôs a ração de cada um e viu um novelo de lã perto do pacote de ração da gata, então o pegou e ficou brincando com ela até Rafaela descer as escadas.
— Aonde quer ir? — perguntou a moça, amarrando os cabelos dourados em um rabo de cavalo.
Ele entregou o panfleto para ela. Rafa leu e entregou de volta. Ao passar pela cozinha, Furacão enfiou a cabeça pela janela e soltou um guincho baixo.
— Quer ir junto, Furacão? — disse Rafaela.
O cavalo continuou olhando para eles. Rafa saiu pela porta que dava para o estábulo do cavalo e Gui saiu pela porta da frente, passando pela estante da televisão e pegando a carta de sua avó.
Rafaela o esperava lá fora, os dois montaram no cavalo e saíram a toda velocidade pela estrada de terra até chegar à casinha laranja-pêssego. Gui prendeu Furacão à cerca da casa e Rafa bateu palmas. Em alguns segundos a porta abriu e saiu dela uma moça de idade próxima à de Rafa, mais ou menos dezessete anos.
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Os Guardiões de Ana Nogueira ✔
Short StoryCom a inesperada morte de Ana Nogueira, seu neto Guilherme herda a casa grande no campo. A avó deixou tudo que tinha para o neto, inclusive os seus animais de estimação, um gato, um cachorro, um cavalo e um papagaio. Cada um destes animais, os guard...