Pós-traumático - Júlia

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18 de maio de 2019

Transtorno do estresse pós-traumático

É isso que minha psicóloga me ajudou a descobrir que eu tenho, e o que eu já achava que tinha.

Embora agora seja bem mais leve do que era no começo, foi isso que eu desencadeei com o acidente e a morte de duas pessoas importantes para mim.

Foi prepotência minha achar que iria conseguir superar sozinha, sem ajuda profissional, mas eu tenho a justificativa de sempre ter sido a minha ajuda profissional, em vários momentos da minha vida.

Também existe o instinto do ser humano de nunca achar que algo está errado e sempre ficar em negação mesmo sabendo que tem algo errado. Eu me recusava a achar que estava tão mal porque eu estava dando conta.

Consegui sobreviver, não ilesa, mas consegui sobreviver a todos os sintomas que agora eu sei que tive, e até consigo entrar em carros e dirigir normalmente, embora prefira não o fazer.

Mas o meu acidente de carro desencadeou o estresse, isso é um fato incontestável.

No começo eu não tinha identificado isso, o estresse, achava que tudo o que eu estava sentindo era porque tinha sofrido um trauma muito grande e precisava de tempo para o meu cérebro processar.

Mas aí os sintomas pioraram e eu não conseguia mais ser a mesma Júlia de sempre.

Começou com os pesadelos e as lembranças do acidente e do hospital, que eram totalmente espontâneos e involuntários. Eu estava frequentemente revivendo o acidente, várias e várias vezes, geralmente muitas vezes em um dia só. Os flashbacks acabaram desencadeando hiperexcitabilidade psíquica em mim, o que me levou a ter crises de pânico e insônias.

E era exatamente nesse momento que eu deveria ter procurado ajuda, porque eu sabia o que estava acontecendo, eu sabia que não podia me ajudar sozinha, e ainda sim insisti.

Principalmente porque eu sei que não tem cura de fato. Embora as chances do quadro de estresse pós-traumático se estabilizar com tratamento adequado sejam altas, não tem cura.
Então eu fiz questão de ignorar todos os sintomas que eu apresentava.

Eu coloquei na minha cabeça que eu só teria aquilo se eu fosse a um psicólogo e aceitasse que tinha de fato, enquanto eu estivesse negando, mesmo que fosse para mim mesma, eu não teria

Mas as crises de pânico e a insônia começaram a desencadear o desejo de me afastar de qualquer coisa ou pessoa que me lembrasse do trauma, e consequentemente evoluíram para o desejo de me afastar de tudo e todos que estavam relacionados à causa. Distanciamento emocional e sentimentos negativos eram os únicos sintomas que faltavam, e eles tinham começado a aparecer, então não importa o que eu quisesse provar para mim mesma, eu tinha desenvolvido TEPT com o acidente.

E ainda sim eu fui burra o suficiente para não buscar ajuda.
Terminar com o Gustavo foi um sintoma, pelo menos estava relacionado a um dos sintomas, por que ele estava ligado diretamente às minhas lembranças do acidente, mas eu não tinha percebido isso até começar a ir em uma psicóloga. Eu poderia ter me afastado de qualquer outra pessoa que estivesse comigo no carro, poderia ser a Lívia, se ela estivesse lá. E poderia ter sido a Amara, se ela tivesse sobrevivido.
Poderia ser a Alicia, mas segundo a minha psicóloga, ter a Alicia foi o que me ajudou a aguentar por tanto tempo sozinha. Eu a usei como âncora e por isso o meu cérebro não achou que ela fosse uma ameaça.
Mas infelizmente meu cérebro não conseguiu fazer isso com o Guto.
Então inconscientemente estar perto dele fazia as minhas crises piorarem, isso não significava que eu não o amava mais, significava apenas que a quantidade de ocitocina que meu cérebro produzia por ele não era suficiente para rebater a quantidade de cortisol que o meu cérebro produzia por estar perto dele.
E foi por isso que eu fui embora, minha psicóloga me ajudou a entender, eu fui embora porque o meu sistema de defesa achou que seria melhor assim.
Por isso que eu sabia que a primeira psicóloga estava errada quando ela me disse que o que eu estava sentindo era culpa.

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