27 de Abril de 2019
Escuto o despertador do meu celular tocando em algum canto do apartamento, isso significa que já são 9:00hs da manhã e eu preciso tomar o remédio para a dor de garganta insistente. Pelo menos era isso que significava a umas cinco semanas atrás, quando eu ativei, hoje em dia só serve para me lembrar que eu preciso desativá-lo porque ele sempre acorda a Alicia quando ela tá aqui. Já tem vários dias que eu lembro de desativar e nunca faço isso, não sei exatamente o porquê, só sei que eu nunca faço. O que agora já está beirando ao ridículo, por que cinco semanas ao muitos dias para simplesmente continuar adiando.
Mas eu estou sempre adiando alguma coisa, se eu for parar para pensar, e isso vai de coisas simples como comprar um fone de ouvido novo porque o meu quebrou, desativar o despertador que eu ativei para um fim que já nem existe mais, até coisas extremamentes importantes como seguir em frente.
Embora seguir em frente seja dividido em partes pequenas, como empacotar os livros da Julia que estão na minha estante e devolver para ela, eu sempre travo na hora de fazer. Devolver os livros significa que eu estou pronto para deixar ela para trás e eu definitivamente não estou.
Seguir em frente me custaria muito, bem mais do que eu estou disposto a dar.
Não quero abrir mão dos livros, porque eles me trazem boas lembranças. Não quero abrir mão das lembranças, porque elas fazem parte de um momento muito importante da minha vida, que embora não existam mais por inteiro, não é algo que dá para apagar sem deixar um buraco enorme. Foram muitos anos, muita coisa, muita história, não dá para simplesmente abrir mão e seguir em frente.
Não quero abrir mão, nem dos livros, nem das lembranças e nem dela.
Nos primeiros três meses depois que ela foi embora eu realmente senti vontade de juntar tudo o que era dela ou que me lembrava ela e devolver, e eu até cheguei a juntar tudo em um canto só para depois guardar tudo de volta, não era justo que tudo o que tivesse sobrado de quase quatro anos de relacionamento fossem as coisas que ficaram para trás, porém seria mais injusto ainda se não tivesse sobrado nem isso.
O tapete felpudo da sala, a cor vermelha na parede do quarto, o fogão da cozinha e as comidas congeladas que eu continuo comprando mesmo depois que ela foi embora. Tudo isso me lembra ela
São pequenos detalhes que ainda mantém ela na minha vida enquanto ela não decide voltar de fato. Talvez um dia eu pare de adiar e realmente decida devolver tudo e seguir em frente, mas ainda não, por enquanto eu vou me apegando aos pequenos detalhes das coisas que ficaram.
Eu entendo os motivos que ela teve para querer partir, eu também iria querer ir embora se estivesse no lugar dela e eu sei que não foi uma decisão fácil, hoje em dia eu entendo muito mais do que entendia na época, quando ela tentou me convencer que era o melhor a ser feito.
Ainda discordo que tenha sido o melhor, mas eu realmente entendo a necessidade que ela tinha de ir embora, ela sempre foi mais intensa em relação a tudo, o que significa que ela sempre sentiu as coisas numa intensidade maior, logo o que era doloroso para mim, era insuportável para ela. Então se o que eu estava sentindo me corroia por dentro, eu realmente não sei como ela conseguia respirar.
Antes de ter tempo para desligar o despertador, vejo os cachinhos dourados da Alícia surgindo no corredor,ela aprendeu a descer sozinha da cama recentemente e isso quase me matou do coração, ela nunca tinha descido da cama sozinha antes, o que significa que quando ela não chorava ou chamava por mim, ela sempre me esperava ir buscá-la no quarto para poder levantar. Era um pequeno hábito nosso que mudou, porque ela sempre vem me encontrar agora.
Até semana passada ela caminhava até mim enquanto tentava se equilibrar com um urso que era quase maior que ela, mas provavelmente alguém esqueceu de mandar ele esse final de semana e eu a levei para comprar outro, por que ela se recusava a dormir sem ele, aproveitei e juntei o útil ao agradável: comprei um com um tamanho razoável para uma criança de 1 ano e 4 meses tentar equilibrar
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Os Meus Inúmeros "Amo Você"
RomanceLivre arbítrio, apesar de sempre ceder na hora de pedir comida e deixá-la escolher os restaurantes que ficam a milhares de quilômetros da minha casa, escolher ficar com ela foi a minha maior prova de livre arbítrio no mundo. Foi como se ela tivesse...