Pomba

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Dia anterior, na Sala do Grande Mestre:

- Designei você para esta missão porque nutro altas expectativas a seu respeito.

- Obrigado, Senhor. Não sou digno de tamanha consideração – respondeu Saga respeitosamente ao patriarca.

- Erídano, a humildade é uma virtude louvável, tanto quanto a verdade. És o mais apto entre os santos de bronze – retrucou Shion.

- Se me permite, Senhor, seu pupilo é bastante promissor. Os dons que demonstra são extraordinários para alguém de sua idade, apesar de ainda não haver se sagrado cavaleiro. Além dele, há Aiolos.

- De fato, são guerreiros excelentes. Entretanto, Mu deve se concentrar em seu treinamento, já que disponho de tempo muito limitado para instruí-lo. Quanto a Pégaso, está neste momento tendo sua excelência provada. Conferi-lhe uma missão de grande importância.

- Desculpe-me o atrevimento, Senhor.

- Não te preocupes, Erídano, aprecio suas ponderações – atenuou. – Agora vá preparar-se. Leves consigo os cavaleiros de Lebre e de Pomba.

Uma gota de suor escorreu pela têmpora de Saga. Pensou consigo qual seria a intenção do Mestre em designar um de seus aprendizes para acompanhá-lo. A respeito do novo santo, a Lebre, sabia pouco. Apenas que era um prodígio entre os recrutas. Continha suas inquietações em seu íntimo.

Resignado, fez uma mesura e retirou-se.

- Mais elogios, hein? – alguém provocou Saga, por detrás de uma das longas colunas do corredor de acesso.

- Não venha me atormentar! Estou ocupado.

- Um guerreiro da sua envergadura não merece outra coisa senão elogios.

- Pare de bobagens! Sabe muito bem que nossas habilidades se equiparam.

- Será mesmo? – o gêmeo revelou-se. Trajava a vestimenta sagrada da constelação de Quilha. – Parece que o Grande Mestre pensa diferente, afinal, sou um cavaleiro de prata e você... Mesmo sendo tão poderoso, está acorrentado à categoria mais baixa.

- Isso é o que menos importa, Kanon! Sou um santo de Atena. Devo me preocupar somente em conquistar a força necessária para protegê-la, quando a deusa finalmente ressurgir neste mundo – retrucou, reafirmando suas convicções com veemência.

- Saga... – desdenhou. – Todos no Santuário o reconhecem. Você não se permite questionar, uma vez sequer, os desígnios do Mestre?

A esta provocação, Saga interrompeu seu caminhar. Kanon sorriu, saboreando o momento.

O silêncio tomou o ambiente, de modo que nem o vento atrevia-se a soprar. Dois segundos de pura tensão se passaram até Saga retomar o passo.

O cavaleiro quase não conseguia disfarçar seus conflitantes sentimentos, os quais o irmão conhecia bem e fazia questão de atiçar.

O cavaleiro quase não conseguia disfarçar seus conflitantes sentimentos, os quais o irmão conhecia bem e fazia questão de atiçar

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- Saga – chamou Laila, assaltando-o de seus pensamentos.

- Sim. O que foi?

- Sabe alguma coisa a respeito daqueles arqueiros de agora há pouco?

- Não mais do que vocês. Parecem estar a serviço da divindade por trás de tudo que vem acontecendo.

Os três corriam agora em formação triangular, com Laila na ponta anterior, de modo a deixar menos brechas e a antecipar novos ataques inimigos.

- O que me preocupa no momento – retomou Saga –, é confirmarmos a intervenção da divindade na Terra. Atena ainda não encarnou e considero nossa capacidade de fazer frente a deuses, uma vez que contamos com apenas dois cavaleiros de ouro.

- Tem razão – concordou Laila. – Mestre Shion é poderoso, mas sinto que a idade pesa-lhe os ombros. O mesmo vale para o cavaleiro de Libra, que permanece na China.

- Por que o Santuário não ordena logo mais santos dourados? – questionou Draco, sem meias palavras.

- Confie nas decisões do Mestre, Draco. Sua perspicácia é grande. Certamente compreende a situação melhor que nós – ponderou Saga. – Você ainda é novo em nossa confraria. Com o tempo, perceberá por conta própria.

As palavras que dirigiu a Draco eram as mesmas que devotamente repetia para si. Saga remoía sua inquietação, lutando para conservar a índole de um legítimo seguidor da deusa da sabedoria.

- Auto! – avisou Laila.

Assim como os demais, a amazona sentia-se desorientada naquele lugar. Haviam varrido o perímetro pelo menos duas vezes, sem sucesso. Nessa terceira tentativa, Laila assumira não mais basear a busca nos movimentos do cosmo. Entendia agora a razão para seu mestre tê-la inscrito naquela missão. Seu dom de telecinese lhe permitia não somente movimentar objetos com a mente, mas perceber, numa espécie de extensão do tato, a estrutura de qualquer material.

- A entrada deve ficar por aqui – esclareceu. – Sinto que falta substância àquele paredão – apontou para uma grande formação rochosa a nordeste.

- Entendido. É um bom lugar para se desconsiderar. Pode ser aqui – ponderou Saga caminhando até o local.

Em frente à rocha, como se fosse sua adversária, Erídano assumiu uma postura ofensiva de combate – braço esquerdo estendido acima da cabeça e a mão direita próxima ao tórax, acumulando cosmo; pernas espaçadas, com a esquerda adiante.

Draco observava a tudo silente. Conhecia a fama do cavaleiro e estava prestes a presenciar outra exibição de suas habilidades.

Saga executou um rápido movimento, similar a um jab, mas com a mão espalmada. Aparentemente nada aconteceu, para surpresa dos atentos expectadores.

Então, uma forte corrente, vinda de várias direções, passou pelo cavaleiro, agitando seus longos cabelos loiros em direção à pedra. Assim que o vento cessou, a sensação de desorientação que aquele local exercia perdeu efeito. Dos arredores escorria uma espessa névoa violeta.

Flores silvestres e branquíssimas colunas saltavam à vista agora. Barulho de água corrente e risadas ecoavam ao fundo. Estavam diante da entrada do templo de Dioniso.

Saint Seiya: Ascensão de SagaOnde histórias criam vida. Descubra agora