Pollux

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O salão inundou-se com a luz do cosmo dourado.

Shion saboreou a cena, confiante em ter tomado a decisão certa. O rapaz, apesar da idade, inspirava-lhe profunda confiança. Cogitava-o como o sucessor a quem poderia confiar a próxima geração, assim que a hora chegasse.

Mu surpreendeu-se com a imponência da vestimenta sagrada. Conhecera, até então, somente amaduras de prata e bronze. Tinha a sensação de que esta carregava um forte poder galáctico. Lembrou-se de uma das lições recebidas no início do seu treinamento, sobre as categorias de santos e seus trajes. Na ocasião, Shion dissera-lhe que as armaduras de ouro eram as mais poderosas porque foram banhadas pelo Sol desde os tempos mitológicos. Isso sem dúvida explicava a luminosidade e o calor peculiares.

Mesmo encantado com a novidade, Mu não deixou de perceber a estranha reação do cavaleiro de Quilha.

- Esta é uma honraria da qual não sou digno, Senhor – disse Aiolos.

- Se pensas assim, supere os teus atuais limites e alcança a dignidade que almejas – retrucou o Mestre, valendo-se de sua sabedoria. – Mas sou obrigado a manifestar minha discordância. Sagitário te escolheu.

O jovem contemplou o traje em seu corpo. Sentia sua pulsação. Voltou os olhos para a armadura de bronze.

"Pégaso, guie seu novo cavaleiro com a mesma devoção que a mim", rezou.

Kanon estava transtornado. Antes que se tornasse evidente a todos, cuidou de recobrar a superficial calma, uma vez que as atenções logo deixariam Aiolos.

- Parabéns, Aiolos – disse falsamente, por protocolo e para dissipar possíveis desconfianças.

Dirigiu-se ao Mestre:

- Senhor, estou feliz por Aiolos. Certamente não há cavaleiro mais digno que ele – mentiu. – Se não for ousadia, gostaria de perguntar a razão de haver me convocado.

Kanon dava-se conta de que o mesmo poderia ocorrer a ele:

"Claro! Por qual outra razão eu seria convocado?".

O brilho maligno retornou aos seus olhos.

- A teu respeito... – começou o Papa, mas logo se interrompeu. – Bem-vindos, Lebre, Pomba e Erídano.

Os passos metálicos ecoaram, enquanto Kanon se virava para observar, com renovada raiva.

- Mestre – falou Saga –, estamos de volta. Encontramos a armadura de Taça.

- Muito bem, cavaleiros. Bom trabalho. Chegaram em boa hora.

Saga depositou a urna aos pés da cátedra. Cruzou o olhar com o de Mu e retornou para junto dos companheiros, pondo-se também de joelhos.

"Quilha e Erídano são gêmeos", notou Mu.

- Seu relatório, Saga – solicitou o Mestre.

O cavaleiro reportou com detalhes todo o transcorrido desde que chegaram ao monte Nisa. Falou dos guerreiros inaptos que tentaram detê-los; descreveu o templo de Dioniso e a estranha influência do lugar. Por fim, contou sobre a maneira como encontrou a armadura de Taça.

O Mestre coçava o queixo, pensativo.

- O que descreveste descarta completamente Ares. Seguidores do deus não demonstrariam amadorismo em batalha. O mesmo foi descrito no relatório de Aiolos.

Saga, tal como Kanon, conservou para si a surpresa com a ascensão do companheiro. Ao contrário do irmão, contudo, não considerou negativa a investidura de Aiolos. Esperava que, em algum momento, o cavaleiro subisse de posto. Algo bastante previsível.

- Dioniso estava entre minhas suposições, mesmo não sendo um deus essencialmente bélico. Tempos de paz e diplomacia devem incomodá-lo sobremaneira – ponderou Shion, partilhando sua elucubração com os presentes. – Isso somado à desorientação e aos desmaios...

Houve um silêncio atento. O Mestre não conclui em voz alta.

Voltou-se a Kanon:

- Respondendo a sua pergunta, Quilha, anuncio que tu e teu irmão duelarão pelo manto de Gêmeos.

Os irmãos trocaram olhares espantados.

"Então, terei de lutar. Isso é humilhante! Aiolos não passou por qualquer prova!", resmungou Kanon em pensamento, esforçando-se para não alterar sua expressão facial.

– É realmente obra do destino que vós, irmãos gêmeos, disputeis pela terceira casa zodiacal. Amanhã, à primeira luz, dirijam-se à arena – ordenou. – Erídano, deves descansar até lá, a fim de que tenhamos um combate justo.

- Sim, Senhor.

Em seu estado mental de crescente ganância e soberba, Saga considerou justo ser cotado para o posto de santo de Gêmeos. Sua surpresa inicial passara, mas conseguiu captar preocupação por parte do irmão, o que lhe agradou.

- Estão dispensados por hoje – finalizou Shion. – Laila e Mu, venham comigo.

Saint Seiya: Ascensão de SagaOnde histórias criam vida. Descubra agora