"Caleb"

14 1 1
                                    

Rasguei um pouco da minha camisa branca e depois dividi essa metade em dois, uma para limpar a ferida da besta e outra para fazer de ligadura improvisada.

Molhei uma das partes de tecido em água passando levemente em cima da pata ferida da besta que rosnava furiosamente aos meus ouvidos cada vez que lhe tocava.

- Se não me deixares te tocar, não vou conseguir te curar!- digo zangada cruzando os braços à frente do meu peito encarando os olhos da besta, e a mesma vira-me a cara bufando, mais parecia uma criança amuada, e deitou a sua enorme cabeça no tapete de relva fofa, porém ainda me observando desconfiado pelos cantos dos olhos.

Assim que consegui limpar a ferida por completo e retirar as manchas de sangue presentes no pelo branco e reluzente da besta, com a outra parte do tecido fiz umas ligaduras improvisadas apertando com força para estancar o sangue, o mesmo grunhiu de dor lançando me um olhar mortal, um olhar mais humano do que de muitas pessoas por mim já conhecidas.

Deitei-me no tapete de relva verdinho e fofo que a mãe natureza tinha criado a olha para o céu do amanhecer, eu teria de ir embora antes que notassem a minha falta no palácio do meu Senhor.

Levanto me num impulso rápido pegando na minha mochila com os livros.
Como demorei demais a encontrar a besta, não tive a oportunidade de investigar sobre a sua existência ou até mesmo que ela era.

- Amanhã á noite voltarei cá, vou esperar por ti.- anunciei em voz alta.

Obviamente não esperava um resposta muito menos que me entende-se, porém algo me dizia que o voltaria a encontrar mais cedo ou mais tarde.

Em passos apressados, refiz o meu caminho até ao palácio do meu senhor, e ao fazer a travessia a ponte que faz a junção entre a pequena vila e a enorme Floresta Púrpura, reparei nas senhoras todas elegantemente vestidas e aperaltadas.

Era domingo

Domingo era dia de missa, onde as senhoras casadas sentavam se nos longos e frios bancos de madeira maciça a rezar pela sua família e a confessar seus pecados ao padre na esperança que as suas almas podessem ser perdoadas.
Já as jovens meninas, bonitas moças solteiras, ficam á espera á frente da igreja dos seus amados dançando lindas cantigas escritas por eles ao som suave e ritmatico das pandeiretas.

Eu sou proibida de entrar na igreja já que sou a filha da bruxa porém isso não é algo que me incomode no dia à dia.

Eu realmente não me importo se os meus pecados jamais forem perdoados

Resolvi passar pela livraria do senhor Aphonse, na mais inocente esperança de encontrar lá seu filho para lhe perguntar o significado do "livro em branco" que me oferecera.

Entrei na pequeníssima loja sendo anunciada a minha presença pelo costumeiro sininho localizados no cimo da porta de entrada.

- Diana! O que te trás aqui tão cedo?- perguntou o velho senhor com o seu sorriso caloroso.

Provavelmente a loja tinha sido acabada de abrir, pois ainda se notava uma pequena desorganização tanto na arrumação dos livros nas suas respetivas prateleiras, como também as cortinas que protegiam a loja dos fortes raios solares permaneciam fechadas.

- Bom dia, o seu filho está?- perguntei cumprimentando o pequeno velhote com um leve sorriso no rosto, e ao olhar pelo canto do olho reparei que o filho do senhor Aphonse não estava na mesa do costume a ler os seus livros de lombada grossa.

- O meu filho? Ele ainda não desceu, mas se quiseres eu posso ir chamá-lo.- falou o pobre homenzinho em prontidão.

A casa do senhor Aphonse e do seu filho era bem por cima da livraria, eu nunca subira lá a cima para ver como é mas provavelmente é bem pequenina assim como a loja.

- Não é preciso, obrigada. Eu volto mais tarde.- falei sorrindo, afinal não era nada de urgente eu poderia falar com ele mais tarde.

Após me despedir do velho senhor caminhei para a praça principal para comprar uns legumes frescos, pois eu precisaria de uma boa desculpa para ter saído do palacete do meu Senhor sem a sua autorização.

Voltei para o palácio e em silêncio digi-me á cozinha para ajudar os restantes empregados a preparar a refeição para o meu Senhor e como sempre ninguém notou a falta da minha presença, afinal

Eu sou apenas um fantasma

Tudo na Floresta Púrpura estava se a tornar cada vez mais estranho, parece que quanto mais eu investido mais informações eu encontro é mais difícil fica de entender o que ser está a passar.

De quem era aquele casa abandonada?

O que se passou lá?

Quem morava lá?

Porque é que alguém viveria dentro da tão temida "Floresta Púrpura"?

E as perguntas que mais intrigava o meu cérebro:

Quem era esse "Caleb"? E porque é que a besta apareceu assim que pronúnciei esse nome?

Será que "Caleb" era o nome do antigo dono da besta? Ou tudo não passou de uma mera coecidência?

Mas quem teria algo daquele tamanho como animal de estimação? E para que objetivo?

Parecia que nada fazia sentido na minha cabeça era como se as peças se encaixassem mas ao mesmo tempo que abriam um novo horizonte com vários enigmas para desvendar.
Agora tudo o que me resta é esperar escurecer...

Continua...

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 26, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

DianaOnde histórias criam vida. Descubra agora