Bellamy não se importava com o fato de a Terráquea ser uma garota. Ela era uma espiã. Ela era o inimigo. Ela era uma das pessoas que tinham matado Asher e levado sua irmã. O medo cintilava em seus olhos, e os cabelos negros voavam sobre seu rosto enquanto ela se debatia na terra, tentando se desvencilhar. Mas Bellamy, ajoelhado ao lado de Wells, apenas segurou com mais força. Eles não podiam deixá-la escapar, não antes de ela lhes dizer onde Octavia estava. Ele ajudou Wells a colocar a menina de pé e a empurrou com força. — Onde diabos ela está? — gritou ele. Seu rosto estava tão próximo do dela que sua respiração fazia mechas do cabelo dela voarem. — Aonde vocês levaram a minha irmã? A garota se encolheu, mas não falou nada. Bellamy torceu seu braço atrás de suas costas, exatamente como costumava fazer com garotos que ele pegava importunando Octavia no centro de custódia: — É melhor você me dizer agora mesmo, ou desejará nunca ter saído de qualquer que seja a caverna de onde você veio! — Bellamy — falou Wells de forma séria. — Acalme-se. Não sabemos de nada ainda. Ela pode não ter nada a ver com... — Até parece que não sabe — disse Bellamy, o interrompendo. Ele esticou o braço e puxou o cabelo da menina, trazendo seu rosto para mais perto do dele. — Você me conta agora mesmo, ou isto vai ficar muito desagradável, e muito rápido. — Pare com isto — gritou Wells. — Até onde sabemos, ela não fala a nossa língua. Antes de fazermos qualquer coisa, precisamos... Wells foi interrompido novamente, dessa vez por uma tempestade de gritos e passos quando o resto do grupo, atraído pelo barulho, veio investigar. — Você pegou uma — falou Graham, abrindo caminho até a frente. Sua voz tinha um quê de admiração. — Então ela é da Terra? — perguntou uma garota de Walden, boquiaberta. — Ela sabe falar? — perguntou outra.
— É provavelmente uma mutante. Vocês podem ser envenenados pela radiação só de encostar nela — disse um garoto arcadiano alto, esticando o pescoço para ver melhor. Bellamy não se importava se a menina era radioativa, ou se tinha malditas asas. Tudo com que se importava era descobrir aonde ela e seus amigos haviam levado sua irmã. — O que vamos fazer com ela? — perguntou uma garota trocando sua lança de uma das mãos para a outra. — Nós a matamos — disse Graham, como se aquela fosse a coisa mais óbvia do mundo. — E então colocamos sua cabeça numa estaca para mostrar aos outros o que fazemos com pessoas que nos ameaçam. — Não antes de eu e ela termos uma conversinha — rosnou Bellamy. Os olhos da menina se estreitaram quando Bellamy se aproximou, e ela levantou o joelho numa tentativa de atingi-lo, mas ele se esquivou. — Bellamy, afaste-se — ordenou Wells, se esforçando para mantê-la parada. Graham zombou: — Você quer se divertir um pouquinho com ela antes? Não posso dizer que entendo seu gosto para mulheres, mini-Chanceler, mas acho que todos nós temos necessidades. Wells ignorou Graham e se virou para pedir que um garoto de Walden trouxesse uma corda: — Nós a amarraremos e a manteremos na enfermaria até decidirmos o que fazer com ela. Bellamy olhou para Wells enquanto sua ira subia do estômago para o peito. Aquilo não era o suficiente. Quanto mais ficassem ali, para mais longe o povo dela podia estar arrastando Octavia. — Ela precisa nos contar onde podemos encontrar minha irmã — irritou-se ele, desafiando Wells a enfrentá-lo. Como se aquela fosse uma decisão para ele tomar. Bellamy não tinha realmente se importado quando os outros começaram a deferir a Wells. Era melhor ele do que Graham. Mas aquilo não significava que Wells podia decidir o que fazer com essa garota — a única ligação com a irmã de Bellamy. O garoto de Walden chegou correndo com a corda. Wells amarrou as mãos da menina pelas costas, então habilmente amarrou seus pés para que pudesse dar apenas passos curtos e arrastados. Seus movimentos tranquilos e treinados lembravam Bellamy de que Wells não era apenas um phoeniciano mimado. Antes de ser detido, estava treinando como guarda. Como oficial, na verdade. Os punhos de Bellamy se cerraram na lateral do corpo. — Abram caminho — gritou Wells, conduzindo sua prisioneira na direção da cabana.
Seus longos cabelos negros caíram do rosto, e Bellamy conseguiu realmente olhar para ela pela primeira vez. Ela era jovem, talvez da idade de Octavia, tinha os olhos verdes amendoados. Sua blusa preta felpuda não era a coisa mais estranha nela. Havia algo em sua pele, Bellamy percebeu. A pele dos Colonos possuía uma grande variedade de tons, mas os cem tinham todos se queimado em sua primeira semana na Terra, antes de Clarke começar a insistir que as pessoas limitassem sua exposição ao sol. Mas a pele da prisioneira exibia uma espécie de brilho e algumas sardas sobre as maçãs do rosto. Ao contrário do resto deles, crescera sob a luz do sol. Sua raiva se transformou em náusea quando pensou sobre como seu povo poderia estar tratando Octavia. Será que a tinham amarrado? Será que a haviam trancado numa caverna em algum lugar? Ela odiava lugares apertados. Será que ela estava aterrorizada? Será que gritava seu nome? Naquele momento, teria sido capaz de pegar aquele machado e arrancar sua mão se achasse que aquilo ajudaria a irmã. Bellamy seguiu Wells e a Terráquea até a cabana da enfermaria, que agora estava vazia, a não ser por Clarke, que ainda dormia. Ele observou Wells instruir a menina a se sentar no outro leito, checar se suas mãos estavam bem amarradas atrás dela e depois dar um passo para trás, a examinando com uma expressão que ele deve ter aprendido em seu treinamento para oficial. — Qual é o seu nome? — perguntou ele. Ela olhou fixamente para ele e tentou ficar de pé, mas suas mãos amarradas a desequilibravam. Era fácil Wells empurrá-la de volta para a cama. — Você entende o que estou dizendo? — continuou ele. Um pensamento perturbador tomou forma em meio à névoa de fúria de Bellamy. E se ela não falasse inglês? Podiam ter pousado na América do Norte, mas isso não significava que Terráqueos falavam a mesma língua que falavam trezentos anos antes. Wells agachou para seus olhos ficarem na mesma altura dos da menina: — Não sabíamos que ainda havia gente vivendo aqui. Se fizemos algo que os ofendeu, nos desculpe. Mas... — Desculpe? — proferiu Bellamy. — Eles levaram minha irmã e mataram Asher. Não vamos nos desculpar por nada. Wells lançou um olhar de advertência para ele, então se virou novamente para a Terráquea: — Precisamos saber para onde vocês levaram a nossa amiga. E você ficará aqui até nos dar alguma informação útil. Ela se virou para Wells, mas, em vez de responder, simplesmente apertou os lábios e o encarou. Wells se levantou, esfregou a cabeça com frustração, então começou a se virar.
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dia 21
ActionVinte e um dias após os cem terem chegado à Terra com a missão de recolonizar o planeta, um inimigo desconhecido é descoberto. Pensa-se que eles eram os únicos humanos a pisar na superfície terrestre em séculos, mas agora, nada mais é certo. Entre r...