Príncipes Cygnet

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Ao chegarmos perto da entrada da biblioteca, noto que há algo de diferente nos sentinelas que ali se fixaram. Não são nossos sentinelas, são de outro lugar. Um lugar frio, pelo que vejo em suas vestimentas. Estão usando peles negras, luvas e botas de couro, e esbanjam em faixas as cores da Casa a qual servem.
Um tom forte de azul e prata.
São Ninfóides, percebo.

Aprofundo-me em minhas memórias para descobrir mais sobre os misteriosos seguranças, de uma pessoa que ainda é um mistério para mim.
Congelo. Paralizo, no instante em que me recordo das aulas de Julian Jacos.
Um maravilhoso professor, um ótimo amigo.

Lembro-me na hora, de que existem apenas duas grandes Casas Prateadas compostas por Ninfóides e que apenas uma delas possui esta combinação de cores.

Casa Cygnet, de Lakelands.

O que uma Casa inimiga estaria fazendo em um território inimigo?
E pior...
O que minha família estaria tramando e, quão importante eu sou em seus planos; me pergunto.
Mais um fardo para carregar, penso.

Antes das portas serem abertas, seguro minha mãe, de uma forma suave, e ouso penetrar sua mente.
Fazendo-lhe uma pergunta. A qual me arrependeria em breve.

-O que a Casa governante de Lakelands faz aqui?

Elara me encara, olha no fundo dos meus olhos e não me responde. Apenas, manda os sentinelas abrirem as portas, gesticulando com sua mão.

O nervosismo toma conta do meu corpo. Minha ansiedade triplica. Sinto medo.
Medo de que algo ruim aconteça.
Com minha família, minha Casa, meu país.

Quando adentramos a biblioteca, toda essa emoção se esvai. Levada embora por uma brisa leve, provavelmente entrando por uma janela aberta. Apenas sinto paz e leveza.
Algo no ambiente faz com que eu sinta tudo isso.
Talvez seja a beleza dos três irmãos Cygnet, três príncipes, presentes no local. Já havia ouvido falar de sua extrema "perfeição", mas pessoalmente eles são ainda mais belos.

Tiberias, Maven e Mare Cygnet estão sentados ao lado de seu pai. Orrec Cygnet, rei de Lakelands.
Conversando, tranquilamente, com meu pai e minha irmã, Victoria.
O jeito que gesticulam uns com os outros chega a ser irônico. Me causa arrepios.
Conversam, como se nunca houvesse uma guerra entre nossas nações.
Uma guerra que considero, no mínimo, um verdadeiro desperdício.

Ao perceberem nossa presença, os príncipes se levantam subitamente, seguidos de seu pai.
Percebo que não foi devido a nossa, mas sim, a minha presença. Elara já esteve aqui.

Me aproximo e me apresento.
-Prazer, sou Regan da Casa Vianna. Quinto de meu nome. Único em minha geração. Futuro rei de Norta.
Os quatro se curvam.
Fazendo uma reverência perfeita. Talvez, estejam acostumados com toda a encenação da nobreza.

Príncipe Tiberias VII, de olhos cor de bronze, cabelos negros e corpo definido, é o primogênito e será o futuro rei de Lakelands. Talvez sejamos parecidos. Em parte.
Percebo que tem um certo apreço por minha irmã, pois a encara a todo momento. Victoria sempre retribui, dando de presente de vez em quando, um sorriso.

Princesa Mare, de olhos castanhos, morena e de pele dourada. Ela me lembra Mareena, em todos os aspectos.
Isso me faz sentir angústia; principalmente quando estou perto dela.
Talvez tenha apreço por livros, talvez tenha sido sua ideia escolher a biblioteca, rodeada por todo tipo de livro.
Penso que o plano dos nossos pais seja nos unir. Unir nossas Casas através do matrimônio. Criando uma certa paz, duradoura, entre as nações.
Essa ideia me dá arrepios, mas sei e aceito que em pouco tempo se tornará minha, ou melhor, nossa realidade.

O último príncipe, Maven, se parece comigo. Sua aparência, olhos claros e cabelos negros.
Seu jeito de ser. Ele é diferente e sente isso.
Como eu sou, e sinto.
Ao tocar sua mão, sinto um calor anormal penetrar em meu corpo.
Isso não é normal, principalmente vindo de um Ninfóide.
Ele sente o mesmo. Posso ver em seus olhos.
Talvez, nós dois nos daremos bem.

Rei Orrec, espera que eu vá até ele. O faço, cumprimento-o.
Ele é um homem esbelto, com olhos cinzas e cabelos acinzentados. Sua pele é branca como a neve, combinando com suas vestimentas.
Ele usa um terno preto, com detalhes pratas e pedras preciosas com vários tons de azul.
Seus dois filhos estão usando a mesma roupa que o pai.
Mas, Mare, está com um vestido único. Feito especialmente para ela. Combina com todo o seu corpo.
Composto por seda tom de azul marinho, inteiramente coberta por diamantes.
O de Elara nem chega aos seus pés.
Ela fecha a cara por isso.

Rei Orrec me oferece um presente.
Aceito, sem hesitar. Uma caixa dourada que ele diz ter um objeto de grande valor para sua família.
Meu pai, Regan IV, observa com seus lindos olhos dourados, atentamente, enquanto eu a abro.

Dentro, há um exuberante colar.
Feito inteiramente de diamantes, de diferentes cores e dimensões. Deslumbro-me com a joia, assim como todos no local.
Até o próprio Orrec ainda se impressiona, tendo orgulho de seu bem. Agradeço e faço uma reverência.

Agora entendo o por que de roupas tão formais para uma ocasião como esta. A Casa Cygnet é extremamente rica e poderosa. Esbanjando e ostentando o que tem por todo lugar que passa.
Por justa causa, digo a mim mesmo.
Estou entendendo cada vez mais as intenções de ambos os lados.
"Mostre ser poderoso, que você terá o que quiser."
Minha mãe dizia.
Sábia, para muitos.
Ignorante, para mim.

O rei Ninfóide não joga para perder, pondo na mesa suas intenções para com seu presente.

-Como em seus costumes, seus pais me comunicaram que haverá um baile de comemoração a paz.

Concordo, com a cabeça. E ele continua.

-Por que você não faz bom uso do presente que lhe dei?

Suas intenções eram claras e limpas, mas não poderia responder da forma que penso e o que realmente desejo dizer.
Digo a ele.

-É claro que farei.

Mas, o que queria dizer, na verdade, é que não quero e não vou me casar com sua filha. Não vou ser obrigado a isso.
Nada sai da minha boca.
Neste momento me sinto aprisionado, mas quando olho para o lado e vejo Maven, me sinto leve e seguro.

Realmente não sei o que há comigo e tenho medo de descobrir.

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