Vermelho Escarlate

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Acordo, pela madrugada, todo suado, gritando e com chamas ao meu redor. Assusto-me e logo, o alarme de incêndio soa por toda a ala do palácio. Vislumbro toda a água, em seu máximo esplendor, apagar as chamas que já destruíram minha cama e o tão raro tapete que habita aquele quarto há tantas gerações.
Agradeço por ele ter deixado de existir. Odiava suas cores já apagadas pelo tempo e as tantas lembranças de outros príncipes.

Escuto as portas do meu quarto serem abertas, às pressas. Tenho, ali, uma rara visão de reis, rainhas e príncipes assustados. Rei Orrec e príncipe Cal estão com suas mãos preparadas para usar seus poderes, para me ajudar.
Talvez desconheçam, ou tenham esquecido de que posso, assim como eles, controlar a água. De que posso controlar tudo.

Agradeço, mesmo assim; fazendo uma reverência que, por anos fui instruído a fazer.

- Desculpem-me por isso.- Digo a eles.
- O que houve aqui?- Meu pai, já nervoso, pergunta.

Digo que não sei. Mentindo. Mas, sinto alguém penetrar em meus pensamentos e memórias. Elara.
Ela me encara, profundamente, com seus olhos azuis. Sabe, arrancou de mim, o motivo para o fogo.
Diz a todos que foi apenas um pesadelo e que estava tudo bem.

- Ah, esses jovens 'dourados'. São como uma chama: imprevisíveis.- Meu pai brinca, para amenizar a situação.

Todos riem de algo que não deve ser visto como uma brincadeira. Sou perigoso e tenho plena noção disso.
Bastou apenas estes pensamentos para que lembrasse de Mareena, morta, em minhas memórias. Mas agora foi diferente. Ao pensar nela, lembro de outra pessoa. Uma que não está ali. O mais estranho é que sinto sua falta.

Passo o olho em cada pessoa presente no aposento, para apenas confirmar sua ausência.
Todos estão vem arrumados, como de costume. Mesmo vestidos para dormir, parecem-se com deuses.
Os Cygnet quase chegam a ser engolidos por tantas pedras de topázio azul incrustadas.
Meus pais, e irmã, ostentam pedras como: rubi e esmeralda. Apenas Mare e eu estamos vestindo simples roupas de seda. Descubro que temos um traço em comum: simplicidade.

Confirmo que Maven não está presente e, com uma estranha preocupação, abro minha boca para perguntar algo. Mesmo sabendo que num futuro próximo, poderia me arrepender.

- Onde Maven está?

Todos, com exceção de Elara, espantam-se com minha pergunta.
Ela sabe o motivo de eu perguntar por ele. Sabe também que, o real motivo para o fogo, não foi um pesadelo, mas sim um sonho.
Um maravilhoso sonho.
Com ele. Maven.

Talvez, por eu estar nervoso com o baile, sonhei que entregava a Mare, o colar de seu pai. No fim, a levava para minha cama e fazia o que todo casal faz: a tocava, beijando-a e lhe entregava meu amor.
Mas, no calor do momento, Mare se transformava em Maven.
O estranho é que eu continuava. Indo cada vez mais fundo.
Até chegar ao ponto de não conseguir controlar meus poderes e deixar que o fogo consumisse o local. Me matando; matando Maven; matando meu sonho.
Mais uma vez, a merda do meu sangue matou minha ideia de mundo perfeito.
Matou, mais uma vez, meus sentimentos.

Rei Orrec não soube o que responder. Não sabia onde o filho estava e apenas pôde se desculpar.

- Desculpe-me por isso, majestade. Vou procura-lo imediatamente.

Com pena de Maven, sabendo que o pai o puniria, me ofereci para ir procurá-lo em seu lugar.
Isso iria aliviar meu stress e acabaria com minha preocupação.

- Vocês poderiam mandar um criado vermelho ir procura-lo e, voltar a dormir.- Meu pai logo retruca.
- Perdão, meu pai. Mas, prefiro mostrar ser um bom anfitrião e ir procura-lo pessoalmente. Aliás, é melhor eu respirar um pouco de ar puro.

Sangue DouradoOnde histórias criam vida. Descubra agora