Invasora de Mentes

102 5 5
                                    

Volto a observar os pássaros e o deslumbrante jardim a minha frente. Minha mente está mais uma vez, vazia e ao mesmo tempo, repleta de pensamentos.
Escuto a grande porta de madeira maciça, entalhada com símbolos de nossa Casa, em ouro, abrir-se. Fico pensando na árvore derrubada para fazê-la, nos vermelhos que perderam seus dedos para esculpí-la.

Logo, esse pensamento deixa minha cabeça e percebo o por quê.
Elara entra em meu aposento, estonteante como sempre.
Tem um andar elegante e uma beleza divina.
Está usando um vestido um tanto quanto formal, ostentando as cores da Casa Merandus, azul marinho e branco. Tendo oitenta porcento do vestido ornamentado com diamantes e os outros vinte, com seda.
Isso me preocupa, e muito.
Talvez tenhamos conosco um convidado especial; mas, o mais estranho é que, eu não fui informado de nada.

Traz consigo, em seus braços, uma roupa um tanto quanto chamativa. Em seda, com um tom de preto puxado para azul marinho. Com detalhes em prata por toda ela e medalhas de ouro. A maioria é falsa. Não em material, mas em mérito.
Não fiz nada para tê-las, mas elas ainda assim estão ali.

Na hora, eu penso: tomara que não seja para mim.

De nada adianta. Usando seus sussurros, ela lê o que penso e confirma o que temia.

-Sim, é para você meu filho. Vista o mais depressa possível.

Arrisco-me a perguntar o por que de tanta formalidade, mesmo sabendo de que nada adiantaria. Deveria apenas fazer o que ela manda, sem questionar.
Já estou acostumado. Mesmo tendo herdado a habilidade de minha mãe, mesmo sendo três vezes mais poderoso, eu nunca tentei barrá-la ao tentar entrar em minha cabeça.
Com o tempo, passei a ver aquilo apenas como uma rotina. Fui e sou um tolo por isso.
Ao mesmo tempo em que sou forte e poderoso, por ter o controle de tudo e todos; sou fraco e inseguro, por deixar que ela me controle. Me molde do seu jeito

Para a minha surpresa, ela responde.

-Me acompanhe até a biblioteca e você verá.

Fico me perguntando...
Quem se vestiria tão bem para ler.
Surge uma curiosidade em mim e fico ainda mais ansioso.
Poderia facilmente ler os pensamentos de minha mãe para descobrir de uma vez o que está acontecendo, mas é muito arriscado. Para ambos.

Ligeiramente, visto minha roupa. Olhando-me no espelho, percebo que há alguns rubis incrustados na roupa e ligo os pontos. Estou vestido com as cores da minha Casa e as de Norta.
Confirmo em meus pensamentos que há alguém muito importante naquele imenso cômodo.
Quando penso na biblioteca de Whitefire, vem em minha cabeça lembranças da época em que fui feliz. Quando ainda conhecia o amor.

Lembro-me de que era nosso "castelo" particular, meu e de minha irmã. Líamos, brincávamos e descobríamos passagens secretas por tráz de pinturas, esculturas e estantes.
O ouro se destaca aqui. Estando em cada estante, lareira, pintura, janela e até nos livros propriamente ditos.

Os livros me lembram ela. Não só porque ela os amava, mas também porque estar com ela era como ler meu livro favorito.
O tempo todo uma emoção nova, e a cada momento descobrindo algo novo e interessante.

Volto a realidade, quando Elara me faz uma pergunta que não deveria ter feito. Não agora.

-Pensando na Mareena?

Ah, esse nome. O nome que não escuto há exatamente três anos. O nome, que decretei para meu coração, nunca mais ser mencionado.

-A senhora poderia, por pelo menos um minuto, parar de usar seus poderes em mim?

Retruco, sabendo que não adianta de nada pedir. Não a ela.

-Já disse para você esquecer aquele verme vermelho.

Ela diz, como se não houvesse dentro do seu coração, uma mínima gota de compaixão. Se é que ela tem um coração.
Me enfureço. Ela percebe.
Sabe que posso explodir e a qualquer momento varrê-la, junto daquele aposento, da existência.
Com o mais imprevisível dos poderes.

Ela se levanta de uma poltrona, ornamentada com fios de ouro, e pergunta, mudando de assunto; talvez, com a esperança de me acalmar, se eu já estava pronto.
Faço que "sim", com a cabeça, mas de nada adianta sua tentativa fajuta de me acalmar.

Saímos em um corredor com espelhos do chão ao teto, com várias plantas raras em vazos feitos do mais caro mármore, com detalhes em ouro. Talvez, este seja um dos poucos lugares que ainda me encantam aqui. Talvez.

Seguimos em direção a biblioteca.

Sangue DouradoOnde histórias criam vida. Descubra agora