Capítulo 6

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Cuidado, cupido, eu corro perigo
Tenho muito medo de me apaixonar
Já sofri o bastante, você como antes
Vem sempre apronta sem medo de errar
Sou eu que perco o sono
Sou eu que luto com o amor
Você não dá trégua pro meu coração
Você só quer que eu ame
Não quer ouvir que eu reclame
Me deixa sozinho e na contramão
Por favor, cupido, responde essa minha oração

Péricles

         O fim de semana passou como uma lesma, no sábado Alice ligou para Júlia desmarcando o encontro delas, dizendo que estava com dor de cabeça. O que não deixava de ser mentira. Ela passou os dias revivendo cada segundo que tinha passado com Igor na sexta à noite. Com sua mente fértil imaginou mil motivos para ele ter saído às pressas daquele jeito, e tinha certeza absoluta que tinha mulher no meio. Mas insistentemente negou para si mesma que estava sentindo uma pitada de ciúmes.

         Na segunda cedo, Caio ligou dizendo que passaria lá para dar carona para ela, ela aceitou e se apressou para se arrumar. Na prática era o seu segundo dia de trabalho, mas como ainda estava com o pé imobilizado teve que improvisar uma roupa que combinasse com seu all star azul. E com isso decidiu vestir um vestidinho branco básico, um pouco acima do joelho, soltinho da cintura para baixo, jogou um casaco por cima, e colocou um cinto. Ela adorou o look, mas ficou meio insegura de estar muito simplesinha para uma advogada, por isso caprichou no cabelo e maquiagem.

         Ao descer do elevador, encontrou um Caio bem vestido e cheiroso conversando com Sr. Pedro o porteiro. Caio foi um fofo, só elogios para o look dela. Já no carro, conversaram de tudo um pouco, sobre o maldito trânsito, sobre a adaptação dele na cidade, sobre a universidade, descobriram que os familiares deles moram em cidades vizinhas. Quando já estavam na garagem do prédio da empresa, ele se ofereceu em levá-la para retirar o gesso no final do expediente.

         Ao chegarem no elevador, logo Alice reconheceu quem esperava pacientemente o elevador, pelo jeito que encarava eles, com uma sobrancelha erguida Alice suspeitou que ele estava observando-os desde que entraram no seu campo de visão. Alice o cumprimentou com um bom dia e Caio deu um aperto de mão, aperto esse que Alice achou não muito cordial na parte dos dois, parecia uma leve disputa de mijos. Igor virou-se para ela e com a voz mais sexy do mundo perguntou  ̶   Seu pé está melhor Alice? Ela respondeu  ̶   Sim, obrigada.

         Ao entrar no elevador Caio continuou a conversar com Alice como se mais ninguém estivesse ali perto. Ela pode perceber que mesmo com uma cara de cansado e com olheiras, Igor estava deslumbrantemente lindo. E por mais que ela tentasse prestar atenção no que Caio conversava, ela não podia deixar de sentir os olhares de Igor queimando sobre ela.

         Assim que chegou no seu andar, ela olhou nos olhos de Igor e esboçou um sorriso leve, foi quando ele piscou pra ela e sorriu no canto da boca, o que ela achou a coisa mais linda do mundo, principalmente pela covinha única que ele tem na bochecha esquerda. Alice passou o dia com essa imagem na cabeça.

         Igor não conseguia descrever o que sentiu quando viu Alice aos risos saindo do carro de Caio na segunda de manhã, ele deu um de doido e perdeu o elevador, só para ir com o casal. Na mesma hora que pensou nos dois como um casal, ficou apreensivo e repreendeu esse pensamento. Por mais que soubesse que não tinha nada com Alice, ele não estava gostando nada do que via.

         Nem se preocupou em ser rude com Caio, apertando a mão dele com rispidez. E passou todo o caminho do elevador observando cada detalhe de Alice, o quanto ela estava linda, pra não dizer perfeita, ele se perguntou como uma mulher pode usar vestido e all star e ser a coisa mais linda que ele já viu. Seu desejo era agarrá-la bem ali, na frente de Caio, só pra sentir o cheiro dela mais de perto e poder abraçá-la, seu coração acelerou quando ela já saindo do elevador, se virou de sorriu pra ele, trazendo-lhe um sorriso besta no rosto.

         Igor se puniu mentalmente, por ter que deixá-la na sexta à noite, sem nem sequer pegar o telefone dela, mas ao receber a ligação da sua irmã, dizendo que tinha se envolvido num acidente de carro, ele não pensou em mais nada, só no medo de perder mais alguém que amava. E como ele passou todo o final de semana no hospital acompanhando a irmã que precisou passar por uma cirurgia, não teve como procurar Alice novamente, mas já estava pensando em um jeito de se desculpar. E já tinha mil expectativas que ela gostasse da surpresa.

        Ao chegar na sua mesa Alice ficou surpresa ao encontrar Tio Roberto com um balão na mão e Júlia com um cupcake, sorrindo de orelha a orelha, ela já amava aquela menina, sabia que isso tinha sido coisa dela. Ficou toda boba com a demonstração de carinho. Abraçou os dois com um abraço de urso e agradeceu imensamente o carinho.

Doida pra começar a trabalhar de verdade, meteu a cara num processo que Tio Roberto pediu que ela desse sua opinião. A manhã passou correndo, na hora do almoço se juntou com Caio, Júlia, o menino da correspondência Felipe, e duas meninas do escritório, Rafaela e Mônica e foram almoçar no restaurante da cobertura do prédio da empresa.

No fim do dia se encaminhou para o hospital com Caio, que todo atencioso, passou o caminho todo falando com ela de músicas, o que ele também era apaixonado, ela o fez prometer que iria lhe ensinar a tocar violão, coisa que ela sempre quis aprender e nunca teve oportunidade.

Como não era uma consulta de emergência eles tiveram que esperar mais do que o previsto para ser atendida. Caio se ofereceu para comprar um lanche enquanto esperavam. Quando Alice estava em meio aos seus devaneios, ficou perplexa com o que viu saindo da sala de um médico, com uma calça jeans surrada e uma camisa polo preta, um deus grego. Ela ficou tão sem ação que demorou eternos segundos para responder a Igor, quando ele perguntou o que ela fazia ali. ̶ Não me diga que você caiu de novo?  ̶  Ah, eu vim ver como está meu pé, e saber se posso me livrar desse gesso. E você o que faz aqui, está tudo bem?

̶  Ah sim, esse é o motivo de eu ter corrido na sexta à noite, minha irmã sofreu um acidente automobilístico e se encontra internada nesse hospital. Por isso não te procurei nos outros dias. ̶ Poxa, mas ela tá bem? Foi muito grave?  ̶ Ela tá bem sim, teve que fazer uma cirurgia no ombro, mas está se recuperando bem, na medida do possível. ̶  Caramba eu sinto muito, ela é mais nova que você, não é?

Quando Igor ia responder ele avista Caio chegando com nossa comida e diz  ̶  Vejo que você tem companhia, vou indo, tenho que ver como minha irmã está. Na saída ele cumprimentou Caio com a cabeça e nem olhou para o lado em que Alice estava.

Toda felicidade de Igor sentiu quando viu Alice no hospital foi embora quando ele se deparou com a presença de Caio, que não sai da cola de Alice em todo momento. Ele ficou tão puto em saber que Caio estava auxiliando Alice no lugar dele, que nem se preocupou em ser rude, saindo sem despedir.

Com um Caio curioso e um pé sem gesso, Alice foi pra casa sem dar muitas explicações, mas agradecendo muito a ele por toda ajuda e amizade.

Enquanto houver razõesOnde histórias criam vida. Descubra agora