Enquanto abria os olhos, sentia uma respiração quente mesmo por cima da minha cara.
- Alex! Ela acordou! - dizia uma menina pequena que estava a dois centímetros de distância de mim.
- Deixa-me em paz, Mia! Hoje a Maddison vem cá. Leva-a para o teu quarto. Não quero que ela a veja! Ainda começa a fazer perguntas e eu não sei o que responder.
Simpático.
- Não ligues, ele é estúpido. Vá, anda, o meu quarto é lá em cima. - dizia ela enquanto me ajudava a levantar.
Subimos as escadas que se encontravam no final do corredor e passámos pelo quarto que penso ser do Alex. Era claramente de um adolescente do sexo masculino e estava todo desarrumado. Mas houve uma coisa que me chamou à atenção. No meio do chão, estava um caderno gráfico. Sabem? Aqueles cadernos onde fazemos desenhos? Ele tem mesmo jeito para aquilo! Era uma ilustração de uma rapariga.
- Vens? - disse a menina.
Segui-a para um quarto que ficava quase em frente do quarto do Alex. Era completamente rosa, mas não vou dizer que não gostei, porque gostei. Encontrava-se com peluches por todo o lado, o que lhe dava um ar engraçado.
- Giro. - disse eu.
- Obrigada! - disse a Mia muito empolgada - Portanto, aqui vai ser onde tu vais dormir. Sabes, a minha irmã costumava dormir aqui. - fez uma pausa prolongada - Mas já não dorme...
Estranho. Ao dizer aquilo a Mia ficou com uma cara mesmo triste.
Naquele momento a minha cabeça só pensava numa coisa: na minha nave. Só de imaginar que alguém a podia encontrar... Tinha que tirá-la rapidamente dali! Felizmente já tinha escurecido, era pouco provavel alguem a encontrar assim. E para além do mais, o modo Slupe estava ligado. Não havia razões para me preocupar.
- Bom, eu não me apresentei muito bem. Sou a Mia e tenho 6 anos. E tu? - disse ela com os olhos cheios de alegria outra vez.
- Ahh... Luna. O meu nome é Luna. Tenho quinze. Aliás, já tenho dezasseis.
- Luna? Que nome tão giro! A mãe, pelos vistos, hoje não janta cá em casa porque teve de tratar de alguns assuntos no trabalho, por isso estás à vontade para dares uma olhadela no frigorífico e comeres o que quiseres.
Uhm... frigorífico? Mas o que neste mundo é um frigorífico?
- Ahn... vens comigo?
- Sim, claro. - dizia ela muito desorientada à procura de qualquer coisa - Mas onde é que ele está...?- disse ela entredentes. - Ah, encontrei! Este é o Sr. Coelho! E é o meu melhor amigo.
Descemos as duas. A Mia não tirava os olhos do "Sr. Coelho". Era um peluche mesmo estranho! Eu também tinha imensos peluches quando era nova, nomeadamente, um peluche igual ao meu animal de estimação, o Buba Luba. Era um shinok, um animal muito comum no meu planeta.
Quando passámos pela sala, vi o Alex a jantar com uma uma rapariga. Então aquela era a tal "Madison"...
- Eww - sussurava a Mia com uma expressão de nojo - odeio aquela menina! Sabes, é a namorada do Alex. Pode ser muito bonita por fora, mas é horrível por dentro.
Para uma miúda de 6 anos, a Mia até que era bastante inteligente. Chegámos à cozinha e ela tirou uma travessa de comida do tal "frigorífico". No meu planeta todas as casas tinham uma máquina que faz a comida por nós, é só dizer o que nós queremos. Não precisavamos de nenhuma máquina de armanezamento como o frigorífico, pois a máquina que faz comida do meu planeta já nos dá as porções certas.
- A mãe não me deixa mexer no microondas, mas eu sei trabalhar com ele.
O "microondas" era um aparelho muito fácil de usar. No planeta Ukne usávamos aparelhos quatrocentas e dez vezes mais difíceis, que, para mim, como já estou habituada a eles, eram facílimos de utilizar. Portanto, trabalhar com um aparelho como um microondas era "canja".
Lá nos arranjámos e aquecemos a nossa "carne de vaca com arroz".
-Bom, se a mãe me visse acordada a esta hora matava-me... acho que vou dormir. Vens?
******
Não conseguia dormir. Eu só queria voltar para casa. Eu só queria ver a minha mãe... o meu pai...
A Mia já estava a dormir. Mais uma vez, estava agarrada ao Sr. Coelho. Ela deve gostar mesmo daquele peluche. Decidi levantar-me e fui à varanda.
Reparei que da varanda dava para subir para o telhado. E foi isso que eu fiz. Comecei a olhar para as estrelas uma a uma. Analisei constelações. Mas ao fazer aquilo, comecei a pensar na minha casa e no quão difícil vai ser voltar para lá. Não aguentei mais e comecei a chorar.
- Porque choras?
Virei-me e estava o Alex na varanda a olhar para mim.
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A verdade para além das fronteiras
Science FictionLuna, uma rapariga que acabara de fazer 16 anos, tinha uma grande admiração desde pequena por um pequeno planeta chamado Terra. Sendo este o único Planeta que não pertencia à Base Mãe (o sítio onde todos os planetas partilham informação) por razões...