- Nada, não foi nada... - disse eu enquanto limpava as lágrimas.
- Está uma noite linda, não está? - disse o Alex para mudar o assunto - Sabes, eu venho cá todas as noites ver o céu, as estrelas. É tão bonito... Por vezes só me apetece sair deste maldito planeta, deixar todos os problemas para trás e viajar. Viajar para bem longe. Para o espaço se fosse possível.
Não sabia qual era a razão para ele estar a dizer aquilo, mas, por um segundo, até pensei em dizer que era possível. Que tanto os habitantes do terra como nós, habitantes do resto do espaço, estavamos a ser alimentados por uma mentira desde o dia que nascemos. É verdade que só cheguei agora a este planeta e, também é verdade, que me resta descobrir muitas coisas sobre ele, mas, posso dizer, e agora sim, posso dizer por experiência própria, que não há nada de errado com este pequeno planeta. Não há nada de errado nem com o ar, nem com as pessoas. Mas eu juro-vos que vou fazer o máximo para descobrir o porquê desta exclusão. Do porquê de estarem a privar tanto as pessoas da Terra como do resto do universo.
- Posso sentar-me aí contigo? - perguntou ele.
- Sim, sim... Claro.
E ficámos ali perdidos a olhar para o céu infinito durante o que pareciam ter sido horas. Até que acabei por adormecer.
******
- Bom dia! - disse Mia.
- Bom dia, Mia. Que horas são?
- 7:00! A mãe está lá em baixo. Já deve ter preparado o pequeno-almoço. Vamos!
******
-Bom dia, Luna. Pão?
- Sim, por favor.
Sentei-me na mesa onde o Alex já estava a comer as suas torradas. Desde que tinha entrado, ele não parara de olhar para mim.
A Sra. Mendes sentou-se ao meu lado, ao mesmo tempo que me dava as torradas e começou a fazer aquelas perguntas do género "de onde vens?" ou "andas em que escola?". Como não podia responder a metade delas, decidi permanecer calada. Mais tarde chegámos a um acordo. Até arranjarmos uma solução, eu morava debaixo daquele teto. Sentia-me lisonjeada. Pelo menos não estava sozinha naquele mundo. Já quase no final da refeição, tanto eu como a Sra. Mendes concordamos em eu começar a frequentar a mesma escola que o Alex. De certeza que não íamos ficar na mesma turma, pois ele é um ano mais velho que eu. Mas isso não me incomodava.
*******
Segundo o relógio da cozinha, já eram 15:00 horas. Eu encontrava-me sozinha em casa, pois tanto a Mia como o Alex estavam na esola. A escola deles começa mesmo cedo! No planeta Ukne, as aulas só começam quando a luminosidade do núcleo toca na torre principal, mas a tecnologia é tão avançada, lá no espaço, que todas as casas têm, obrigatoriamente, uma miniatura da torre principal que funciona tipo despertador. A Sra. Mendes também não estava em casa. Estava a inscrever-me na escola.
No momento que ía sair de casa para ver o estado em que se encontrava a minha nave, o Alex chegou.
- Olá dorminhoca. Por acaso a minha mãe já chegou? - disse ele ao mesmo tempo que colocava o casaco no bengaleiro - Queria mesmo falar com ela sobre um jogo de futebol.
- Não, ainda não. Hum...- fiz uma longa pausa- futebol?
- O quê?! Não me digas que nunca chegaste futebol. - disse ele espantado.
- Hum... nop. Devia?
Ao mesmo tempo que acabava de falar, o Alex agarrou na minha mão e puxou-me até ao jardim.
- Deixa-me adivinhar... vamos jogar "futebol"? - disse eu num tom sarcástico.
- Correto! Vê lá a tua sorte! O teu primeiro jogo vai ser a jogar comigo. - disse ele.
Não consegui conter uma risada.
- Uau! Nada convencido. Vá, ensina-me lá como é que se joga!
Passámos o resto do dia naquilo. A meio do jogo, a Mia acabou por se juntar a nós. Quando demos conta do tempo, já eram horas de ir jantar.
Foi um dia mesmo giro. Não só comecei a falar mais com o Alex (que agora tem a mania de me chamar "dorminhoca", porque eu adormeci no telhado enquanto estavamos a ver as estrelas e ele teve de me levar para dentro), como também me comecei a sentir mais à vontade com as pessoas que me circundavam. A partir de agora ia começar a dar mais atenção à amizade que tinha para com estas pessoas, pois elas, desde o primeiro minuto que me virão, deram a atenção que eu precisava, ajudaram-me quando eu precisava e deram-me um lar, quando eu mais precisava. Por mais que tivesse saudades da minha família e dos meus amigos, acho que não me fazia mal nenhum ter umas férias de longa distância.
Falei com a Sra. Mendes e ela já me tinha inscrito na escola do Alex. Como é óbvio, não foi muito fácil inscrever-me, pois eu não tinha nenhuma documentação, mas lá conseguiu.
Mais uma vez, a meio da noite, eu e o Alex fomos para o telhado observar as estrelas. Depois deste dia, estou, sem dúvida, muito mais à vontade quando estou com ele. Começámos a falar das estrelas, mas rapidamente mudámos de assunto. Das estrelas passámos para as constelações (ele percebe muito daquilo, mas posso dizer que eu percebo mais) e das constelações passámos para muitos assuntos variados, incluíndo a escola. Ele explicou-me mais ou menos como é que aquela escola em si funcionava. Independentemente do facto que eu tinha mais horas de aulas e mais recursos tecnológicos, a escola de cá não é muito diferente da minha escola em Ukne.
******
Pela primeira vez na vida, acordei antes do despertador tocar. Sentia um nó na barriga. Parecia que era o meu primeiro dia de aulas. Bom, tecnicamente até era. Vesti algumas roupas que a Sra. Mendes me tinha comprado no dia anterior, até escolher definitivamente a roupa que iria levar. Arranjei-me por completo em menos de 30 minutos. Como a Sra. Mendes naquele dia trabalhava, não nos conseguiu levar à escola, logo, eu e o Alex fomos de autocarro. A escola até que era relativamente perto de casa, por isso, não houve grandes conversas entre mim e o Alex.
Era uma escola mesmo grande. Segundo o meu horário, a minha primeira aula era Educação Física. Começámos logo bem.
O Alex explicou-me onde eram as minhas aulas. Tive de leve o pressentimento que estava toda a escola a olhar para mim e para o Alex e, mais tarde, percebi o porquê...
Ouvi alguém tossir brevemente para chamar a nossa atenção. Percebi de imediato que era a Maddison, a namorada do Alex.
- Olá! - disse ela ao mesmo tempo que me dava um beijo - sou a namorada do Alex e tu és...?
- Luna. Luna Malkhin.
- Hum, ok. - disse ela, friamente - Bom, eu e o Alex temos de ir a um sítio. Não é, bebé?
Não consegui conter um riso. Bebé? Ahahah.
- Bom, parece que tenho de encontrar o caminho até aos balneários sozinha.
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A verdade para além das fronteiras
Ciencia FicciónLuna, uma rapariga que acabara de fazer 16 anos, tinha uma grande admiração desde pequena por um pequeno planeta chamado Terra. Sendo este o único Planeta que não pertencia à Base Mãe (o sítio onde todos os planetas partilham informação) por razões...