"They all got the same heartbeat"
[Aaron]
-Aaron...sua vez! -Lily dizia novamente.
-Eu era zoado na escola, pronto acabou. -Era a única coisa que eu dizia.
-Aaron... -Lily insistia e então dizia.-Aposto que você nunca se abriu com ninguém, por que não tenta?
Parava para pensar por alguns instantes e realmente nunca havia parado para conversar sobre meus problemas com alguém, sobre minha vida. Passava a língua sobre os meus lábios, respirava fundo, me preparava para falar sobre mim pela primeira vez, podia sentir o coração de todos bater na mesma batida que o meu, uma mistura de ansiedade com uma incrível paz, dois sentimentos totalmente divergentes mas que ainda assim me preenchiam, fechava meus olhos mais uma vez e finalmente começava a falar assim que abria-os novamente.
-Sempre cresci no meio do caos e do sofrimento, porém nunca o senti de tão perto como o senti com o passar dos anos. Fui descobrindo que minha vida não era tão perfeita quanto eu pensava ser...
Todos ficavam em silêncio olhando para mim não com o olhar de pena que geralmente as pessoas me olhavam e que ao mesmo tempo em que me irritava me colocava para baixo, cada dia mais, nunca achei que tivesse um lugar mais baixo que o fim do poço mas eu cheguei lá. Cameron e Lily me olhavam com interesse de me conhecer o que me motivava ainda mais em continuar falando.
-Desde muito cedo como eu disse convivi com o sofrimento alheio, sempre tive problema com insônia, então durante as noites eu ia para meu quarto e passava boa parte da noite acordado e por isso eu podia ouvir os sons tristes da noite, minha vizinha que eu apenas sabia que era alguns anos mais velha sendo abusada por seu pai que chegava bêbado todas as noites, meu pai batendo em minha mãe em algumas noites por motivos bobos entre outras coisas.
Molhava a garganta com saliva e continuava.
-No meu aniversário de oito anos meu pai perdeu o controle e deu um tapa no rosto da minha mãe na frente de todos os convidados, e foi nesse dia que ele falou que ia tomar um ar e nunca mais voltou. O caos pareceu se despedir da minha casa naquele dia, mas ainda assim pudia sentir o sofrimento instalado na casa ao lado, cheirava a álcool e a suor, era algo horrível. Não podia mais aguentar e denunciei a polícia o que acontecia na casa ao lado e por um momento o sofrimento foi embora da minha vida.
Lily sorria e Cameron continuava a me olhar com interesse.
-Eu tinha um melhor amigo durante o ensino fundamental, éramos apenas eu e ele. Literalmente. Não nos misturávamos com as outras crianças, éramos mais quietos e tudo estava indo bem até ele se matar com um tiro na cabeça no mesmo dia em que faltei na escola, fiquei sabendo que alguns meninos fizeram brincadeiras idiotas com ele e eu não estava lá como todos os dias, a gente protegia um ao outro. Sei que a culpa da morte dele é minha mas não queria aceitar isso...ainda não quero!
-Aaron, não foi sua...-Lily me interrompia mas eu não lhe dava atenção.
-Eu indiretamente matei meu melhor amigo e depois disso minha vida mudou, todos na escola confirmam minha teoria que eu sou o culpado pela morte de Blake, passei a ser chamado de perdedor e meu armário todo dia tinha um milhão de bilhetes me lembrando que matei Blake, minha cabeça era quase todos os dias enfiada na privada, eu passei a viver no inferno, pagar pela morte de Blake mesmo antes de eu morrer. Conheci um menino que se chama Christian eu acho e ele começou a me dar alguns comprimidos que ele carinhosamente me apresentou como pílulas da felicidade.
Cameron espirrava e depois pedia desculpas por ter interrompido.
-Tentei me matar pra livrar o mundo de mais um assassino, e na noite que conheci vocês era exatamente o que eu estava fazendo...
-Você gostava muito do Blake? -Cameron perguntava e eu confirmava com a cabeça.
-Era mais que amizade? -Lily perguntava, e eu me lembrava da sensação que tive quando Blake segurou minha mão. Sentia minhas bochechas corar e concordava com a cabeça.
Em questão de segundos sentia a mão de Lily sobre a minha e Cameron se aproximava rapidamente colando nossos lábios em um selinho demorado o que me deixava completamente sem reação, apenas piscava várias vezes seguidas enquanto o garoto se afastava novamente.
Cameron me deitava e logo depois se deitava ao meu lado, Lily fazia o mesmo. Entrelaçava meus dedos com os dedos de Lily quando sentia Cameron fazer o mesmo com os meus, ficávamos todos olhando para o teto em silêncio, até Cameron cortar o silêncio dizendo:
-Qual é o sonho de vocês mesmo?!
-Qual é o seu Cameron? -Perguntava ainda olhando para o teto.
-Roubar o carro e viajar sem destino com pessoas desconhecidas e com sorte fazer deles meus amigos.
Sorria com sua resposta e ficava a fitar o teto.
-O meu é me sentir vivo, a muito tempo não sei o que é ser vivo. -Dizia olhando para o teto.
Lily se mantinha em silêncio pela primeira vez.
-Lily? -Chamava sua atenção.
-Meu sonho? Ser lembrada quando eu me for.
-Que sonho clichê! -Cameron protestava.
-O seu também é e eu não falei nada. -Lily rebatia.
Bocejava alto o suficiente para cortar o climão que começava a se formar.
-Boa noite! -Cameron dizia se virando de lado.
-Boa noite! -Fazia o mesmo e formava conchinha com Cameron que não reclamava.
-Boa noite! -Lily formava conchinha comigo e eu sorria com o ato da garota e logo pegávamos no sono.
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♛ Eu deixei pra contar a história do Aaron em um capítulo separado e não foi simplesmente porque o capítulo ficaria incrivelmente grande se eu não o dividisse, mas sim porque estamos em um mês muito especial para pararmos e refletirmos sobre o nomo mal do século.
A depressão não é uma brincadeira, não é frescura. Acho muito triste precisarmos de um mês para lembrarmos do suicídio já que esse é um problema que não deveria mais acontecer, as pessoas deveriam ser ouvidas sem ser jugadas, ser entendidas, saber que tem alguém com elas para não precisar chegar ao extremo como o suicídio.
Aaron felizmente achou Lily e Cameron mas nem todos tem essa sorte grande. Antes de fazer um comentário maldoso sobre alguém pare e pense, você nunca sabe o que aquela pessoa passa ou já passou. O suicídio já levou muito dos nossos jovens, mais do que a AIDS e isso é um número muito grande. MUITO GRANDE.
Só queria lembrar que estamos em setembro e a campanha Setembro Amarelo está acontecendo, vamos dar mais atenção a ela e pensar no que podemos fazer para acabar com esse grande número de jovens e pessoas suicidas, obrigado. ♛
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PS: OBRIGADO PELOS VOTOS E PELOS COMENTÁRIOS E PELAS VISUALIZAÇÕES. PRA QUEM INTERAGE EU AMO VOCÊ, PRA QUEM NÃO INTERAGE EU AMO VOCÊ TAMBÉM PORQUE AMO TODO MUNDO.

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Cool Kids
Ficción GeneralA vida é uma via de mão dupla de fato, deparar-se com circunstâncias totalmente diferentes a todo momento a faz não perder a graça. Realmente esse livro segue a mesma linha. Pessoas de estados completamente remotos encontraram-se - por isso digo que...