Capítulo 15 - Fuga

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Eu acordei um pouco zonza, e não estava mais naquele lugar sujo e frio, estava deitada em uma cama confortável num quarto bonito e escuro. Luck e aquela mulher de antes estavam parados ao lado da cama conversando.
- Onde estou? - perguntei a eles.
- No meu quarto rainha! - Disse Luck.
- Porque? - Ele não me respondeu, e se virou para a mulher.
- Deixe-nos a sós por favor. - ele disse, e ela saiu do quarto.
- Quem é ela?
- Alana. Conselheira particular do rei. Tipo o Chersmire no seu reino.
- Como você é ela tem habilidades?
- A maioria dos Trïnks são de outros reinos, pessoas que foram exiladas, expulsas de seu antigo reino, entre outras coisas. Nascidos Trïnks não possuem habilidades, apenas muita força.
- Você é de onde?
- Um dia já fui do seu reino rainha. Minha mãe era uma warks, então ela conheceu Kieran, o rei daqui, eles se apaixonaram e se casaram, então eu nasci. Fim da história.
- Por isso você tem força e habilidades? Porque sua mãe tinha habilidades e seu pai a força. E por isso você é príncipe, porque é filho do rei.
- Sim. - ele disse e abaixou o olhar. - Mas ele me odeia, nunca deixará que eu assuma seu lugar como rei.
- Porque você decidiu ficar aqui e não no meu reino?
- Porque Kieran matou minha mãe, eu não tive escolha se não vir para cá.
- Sinto muito. - Eu percebi que ele ficou um pouco abalado com as memórias de sua mãe.
- Já faz tempo. Eu agradeço a ela por eu herdar as habilidades que tenho hoje, depois de você rainha, eu sou o mais poderoso com uma habilidade.
- Mas o rei também tem habilidades, como?
- Porque ele também é filho de uma mãe warks e um pai Trïnk, o antigo rei daqui. Mas suas habilidades não são tão fortes, ele herdou mais a força de seu pai.
- Ah. Qual é sua habilidade? Você me fez desmaiar quando foi me sequestrar.
- Sim, é minha especialidade. Eu controlo qualquer tipo de veneno, e posso o deixar em qualquer forma, no ar, na água, na terra. Minha mãe nunca fez mal a ninguém com as habilidades dela, os venenos também servem para fazer coisas boas. Podemos tirar os venenos de algum lugar também, como plantar ou até mesmo pessoas, pois elas não nos afetam.
- Mas você não as usa para o bem. Você me fez desmaiar e me seqüestrou, e sua amiga me bateu, quase me matou.
- Mas não matou. Eu não deixaria que ela fizesse isso. Seria uma grande perda no mundo né, uma rainha. - ele sorriu para mim. Em seguida uma mulher, provavelmente empregada do castelo, entro no quarto.
- Licença. - Ela se curvou. - O rei quer ver ela. - Ela apontou para mim.
- A rainha. Ele quer ver a rainha. Mais respeito.
- Sim... sim senhor. - Ela gaguejou um pouco. - me desculpe. - E se curvou.
- Já estamos indo. Pode sair. - Ela saiu do quarto e fechou a porta. - Vamos, levante e vá se arrumar. Tem um vestido em cima da cadeira, um par de sapatos e algumas jóias. - Eu me levantei e olhei para a cadeira, o vestido era longo e preto com algumas rendas, os sapatos eram pretos e as jóias eram feitas com grandes diamantes.
- Não posso ir vê-lo do jeito que estou? - eu estava de calça de moletom e uma regata. - Aliás, como eu estou assim? Como troquei de roupa?
- Foi Alana. Relaxa, não vi você nua. - ele sorriu. - O que não seria tão ruim assim. - Eu o olhei e cruzei os braços. - É brincadeira rainha.
- Sei. - Eu soltei um pequeno sorriso, e ele sorriu mais ainda. - Sabe que tenho noivo né?!
- Ah mas esse problema podemos resolver rapidinho. - Ele veio até mim. - mude de noivo. Se case comigo, e venha reinar aqui comigo.
- Há! Não obrigada. - Eu ri ironicamente para ele.
- Você vai mudar de idéia rainha. - ele sorriu. - Agora vá se arrumar, o rei tem pressa. Eu fui para trás do biombo e coloquei a roupa que me foi deixada.
Quando saímos do quarto, passamos por largos e grandes corredores, cheios de portas, e descemos algumas escadas, então chegamos em uma grande porta, com os mesmos desenhos que haviam nas portas da biblioteca do meu castelo. Luck as abriu e nós entramos. Era um salão grande, com janelas grandes, e um tapete vermelho comprido que ia até o trono onde o rei estava sentado, e ao lado desse tapete havia algumas cadeiras, mas não muitas. Nós fomos até a frente do tapete e ficamos ali parados.
- Você nos chamou vossa Alteza? - disse Luck se curvando.
- Eu chamei a rainha, não você. - ele disse friamente e se levantou vindo em nossa direção, e Luck não falou nada.
- O que você quer de mim? - eu disse e fiquei surpresa com minha voz, eu não gaguejei nem nada.
- Quero você ao meu lado rainha.
- Você tem muitas opções de mulheres aqui para se casar.
- Não quero me casar com você. Quero apenas que a gente una nossos reinos e governe eles juntos. - ele sorriu.
- E você acha que vou acreditar em você? Você só está esperando para que eu aceite isso, então você vai me prender aqui, e governar os dois reinos sozinho, tratando todos como seus escravos. Eu nunca vou aceitar isso. - Eu cruzei os braços e fiquei encarando Kieran.
- Sabe que eu posso fazer você mudar de idéia né?
- Você pode me matar se quiser, mas nunca terá o meu reino. Pois se eu morrer agora, já tem pessoas para assumir como rei ou rainha, e eles nunca vão concordar com você. Você precisa de mim mais do que eu preciso de você.
- Não me desafie. Você pode ser uma rainha lá no seu reino, mas aqui, você não é nada para mim.
- Assim como você também não é nada para mim, e não é um rei para mim. Os seus escravos Trïnks podem te chamar de rei, mas tenho certeza que no fundo eles te odeiam. - Eu acabei provocando muito Kieran e ele levantou sua mão para me bater, mas Luck entrou na minha frente.
- Ah que lindo. Agora você virou o protetor dela seu lixo? - Ele virou para Luck e deu mais alguns socos nele.
- Pare com isso. - Eu gritei, mas não adiantou de nada, pois ele continuou a bater em Luck.
- Vocês não sabem com quem estão lidando. Você não sai desse castelo rainha, não com vida. - ele me ameaçou e saiu do salão. Eu corri até luck que estava todo machucado e havia sangue saindo de sua boca e nariz.
- Meu deus. Porque você entrou na minha frente? Está louco? - eu disse, mas ele apenas deu um sorriso, que logo sumiu e sua expressão de dor voltou.
- Eu estou bem. - disse ele enquanto gemia fraco de dor, seus olhos castanhos brilhavam, mas eram de dor.
Eu tentei fazer alguma coisa, mas não tinha nada que eu pudesse fazer, então Alana entrou no salão.
- Meu deus. - Ela veio correndo até Luck e ajoelhou ao seu lado. Ela colocou a mão no seu corpo, e o curou.
- Obrigada. Eu não sabia o que fazer. - disse para ela.
- O rei é muito exagerado as vezes.
- As vezes? - Luck disse. - ele é sempre exagerado. Ele é louco, quer tudo do jeito dele, e se não for, ele parte para a agressão física.
- Ele já te bateu antes? - Eu me levantei e dei minha mão para que ele levantasse também.
- Ele sempre me bate. Me trata como escravo dele, e não como um príncipe. Mas eu já me acostumei, meu corpo é mãos forte do que parece rainha.
- Sinto muito.
- Não sinta. Vamos!
- Aonde?
- Para meu quarto, e eu vou lhe levar algo para comer.
- Tá bom. - Eu concordei e fomos para seu quarto. Alana foi para algum outro lugar, e Luck foi pegar comida assim que me deixou no quarto.
Eu fiquei andando pelo quarto, olhando os móveis e outras coisas que haviam lá. Era diferente do meu, não por ser decorado para uma mulher e o dele para um homem, era porque o quarto era escuro, com móveis marrom escuro e as poltronas pretas, não havia cores no quarto, era tudo tão triste.
- Gostou do quarto? - perguntou Luck quando entrou e me viu olhando tudo.
- É um pouco triste. Não tem cores diferentes, é tudo igual.
- Agradeça ao rei por isso. Ele que escolheu todas as cores dos quartos e outras salas do castelo. Ele não gosta de cores diferentes. Mas eu me acostumei com o quarto assim.
- É tão escuro. Me deixa com sono. - Eu o olhei e ri.
- Você pode dormir se quiser. Mas primeiro precisa comer. - ele sorriu.
- Não quero dormir. Mas quero comer. - Eu fui até ele e olhei o que havia na bandeja. - Humm... parece gostoso.
- Temos um bom chefe aqui, apesar de tudo. - ele sorriu.
- Nós também temos um bom chefe lá. Você iria gostar de estar lá, eu não iria te bater. - dei um sorriso um pouco sarcástico.
- É uma grande tentação rainha. Mas você está noiva. Seria estranho você sumir e depois aparecer com um homem lá. Seu noivo não iria gostar. - Eu respirei fundo. - algum problema? Você e seu noivo não se dão bem?
- Sim. A gente gosta de estar um com o outro, e ele gosta de mim, mas... - Eu o olhei. - Eu não o amo.
- Ual. Estou chocado. - ele deu risada. - Porque você não o ama?
- Eu amava outra pessoa, mas ele foi embora, então eu fiquei noiva de Charles, e ele me ama, e sabe que eu não o amo, mas eu gosto de estar com ele, então é por isso que estou noiva dele, ele será um bom marido para mim.
- Acho que você deveria se casar com alguma que você ame, e não porque a pessoa pode te proteger. Esse Charles pode ser um bom homem, mas se você não o ama, não tem porque se casar com ele, você irá o magoar mais, estando com ele e não o amando.
- Eu sei. Mas o que eu posso fazer?
- Humm... Não sei. Deve ser difícil ser rainha e ter um reino para governar. Você é gentil e boa, muito diferente do Kieran.
- Va comigo para casa. Eu não deixarei que ele vá atrás de você e te faça mal.
- Eu não posso fazer isso Alicie.
- Você sabe meu segredo. - olhei para ele confusa.
- Sim. Poucos sabem, o rei só me contou porque eu tinha que ficar de olho em você.
- Por isso você estava no avião?
- Sim. Sabe, nunca pensei que você um dia me chamaria para ir morar com você no seu castelo. Eu te espiei, te seqüestrei, não fiz nada de bom para você.
- Mas você é uma pessoa boa. Você me ajudou quando eu estava morrendo, me defendeu do rei, e está aqui, conversando comigo, quando poderia ter me deixado naquela sala suja e fria.
- É um calabouço. - ele deu risada.
- Então... - Eu o olhei. - Vai me ajudar a sair daqui e ir comigo? - Ele me olhou e sorriu.
- Com uma condição.
- O que?
- Se case comigo no seu reino.
- Luck! - Ele deu risada.
- É brincadeira. E sim, eu vou com você. Mas espero que você saiba que isso vai despertar uma grande raiva no rei. Ele vai querer nos matar. E não vai parar por aí.
- Acho que a gente pode se proteger sozinhos né. - Eu sorri. - Assim que anoitecer e o rei for dormir nós saímos. Eu queria poder avisar meus amigos e meu reino que estou bem, se eles vieram para cá, o rei os mataria ou os manteria presos aqui para que eu também ficasse.
- Eu sei um jeito de você mandar uma mensagem para seu noivo. - ele sorriu.
- Como?
- Venha comigo. - ele me puxou pela mão e nós saímos do quarto. Andarmos pelo grande corredor e paramos na frente de uma porta.
Luck bateu, e uma voz de mulher do lado de dentro mandou entrar.
- Luck. Que ótima visita! - Disse a menina correndo até ele e o abraçando.
- Essa é a rainha Lizie. - ele disse apontando para mim.
- Muito prazer. - Ela disse e se curvou. - Mas então, ao que devo essa visita?
- Bom. A rainha precisa de um favor. - ele me olhou e sorriu.
- Bem. Sim, eu preciso mandar uma msg até meus amigos no meu reino, para que eles saibam que estou bem. - Eu disse. Lizie parecia ter uns 14 anos, tinha o cabelo loiro e longo, com olhos azuis bem claros, era linda.
- Ah, claro. Vou chamar George. - Ela sorriu e foi até a janela.
- Lizie tem a habilidade de controlar os animais, e não precisa de tanto esforço que nem você. Ela tem uma coruja chamada George, e ele irá entregar o bilhete que você escrever para alguém em seu castelo.
- Qual a sua habilidade? - perguntou Lizie se virando para me olhar.
- A natureza. Mas não tenho tanto controle sobre os animais, se eu mandasse uma ave até meu castelo poderia não chegar lá, pois não tenho muita prática. Muito obrigada por me ajudar.
- Por nada. Se é amiga do meu irmão, é amiga minha também. - Ela sorriu, e sua coruja pousou na janela.
- Irmão? Não me disse que tinha uma irmã. - disse olhando para Luck.
- Irma de consideração. Os pais dela morreram e ela acabou vindo parar aqui, então eu a criei praticamente, mas o rei não gosta dela, então ela está sempre presa aqui nesse quarto. - ele olhou para Lizie com um olhar que eu não tinha visto antes. Ele protegia ela, e a amava.
- E se ela vier conosco para meu reino? - perguntei baixinho para ele.
- Eu não sei. Não quero colocar ela em perigo. - ele coçou a cabeça em dúvida.
- Mas nós podemos proteger ela. Se você for embora e a deixar aqui será pior. Eu posso proteger vocês dois Luck, o rei não irá fazer mal a vocês. Eu prometo. - ele me olhou, e aquele luck que estava sempre demonstrando ser forte e sem medo havia sumido, tinha sinceridade em seu olhar.
- Tá bom. - ele sorriu de leve, então foi até Lizie e explicou o que estava acontecendo, ela ficou feliz por poder sair do castelo. Meu bilhete já tinha sido entregue a coruja que partiu para meu reino. - Nós voltamos a noite para te buscar e ir embora. Deixe tudo pronto, leve pouca coisa, só o necessário. - Ela concordou com a cabeça e nós saímos do quarto dela e voltamos para o de Luck.
- Estou com um pouco de dor de cabeça. - Eu disse assim que entramos e coloquei os dedos massageando as têmporas.
- Descanse um pouco. Quando anoitecer eu lhe aviso e poderemos partir.
- Ok. - Eu fui até a cama e me deitei. - Você vai ficar aí de pé? - Ele sorriu e veio até a cama, e se sentou encostado na cabeceira do lado oposto que eu estava. - Obrigada. - Eu disse a ele.
- Porque?
- Por me ajudar a voltar para meu castelo, por arriscar sua vida e a de sua irmã. - Eu sorri, e ele retribuiu, então fechei meus olhos, e dormi um pouco.

- Alicie. Acorda, está na hora. - Luck me cutucou.
- An? - Acordei um pouco confusa. - Ah tá. Já anoiteceu? Todos já estão dormindo?
- Sim. Lizie já arrumou as coisas e eu também. Podemos ir.
-Certo, vamos. Ainda tem certeza de que quer isso né?
- Claro. - ele sorriu, e eu retribui.
Nós saímos do quarto e Lizie já estava no corredor. O castelo estava escuro, não tinha mais pessoas andando pelo castelo. Fomos pelo corredor e descemos uma escada, chegamos em um pequeno corredor que tinha uma porta no final.
- Aonde da essa porta? - perguntei para Luck.
- Nos fundos do castelo. Meu carro está mais para frente, e teremos que passar por alguns guardas, mas nada muito difícil.
- Não sabia que você dirigia. - disse num tom de ironia e sorri.
- Achou que eu fazia o que? Andasse a cavalo?
- Humm... - Eu me lembrei de quando eu cheguei no castelo, e Henri me trouxe a cavalo da floresta. - Na verdade sim.
- Os cavalos não é o único meio de transporte que temos aqui. Você deveria conhecer mais sobre seu mundo.
- É, mas eu voltei recentemente, não tive muito tempo para estudar essas coisas.
- Ok. - ele deu risada. - Mas eu também ando a cavalo. Posso te levar um dia se quiser.
- Eu iria adorar. - Nós ficamos nos olhando por um tempo, então fiquei envergonhada e olhei para o chão.
Continuamos andando para fora do castelo, e quando saímos, tinha três guardas caminhando e fazendo a patrulha ali atrás, não sei como passaríamos por eles, mas confiei em Luck. Nós andamos devagar e sem fazer barulho, e paramos algumas vezes atrás de umas árvores para que pudéssemos nos esconder dos guardas, mas então finalmente saímos de dentro dos muros do castelo e chegamos na floresta.
- Meu carro está mais para a frente. Vamos. - disse Luck, e apontou para a frente, mas não dava para ver, estava escuro. Ele pegou minha mão e me guiou até seu carro. Nós entramos, e finalmente eu respirei.
- Nós conseguimos! - Eu disse e Luck e Lizie sorriram.

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