Agora que meu castigo acabou e que estou livre da mediunidade, passo boa parte dos dias na companhia de Miles e de Gina, encontrando-os para um cafezinho, fazendo compras no shopping, vendo filmes, batendo perna na cidade, assistindo aos ensaios de Hairspray, feliz da vida por estar de volta à normalidade. E na manhã de Natal, quando Riley aparece, fico aliviada ao constatar que ainda posso vê-la.
—Ei, espere aí! — ela diz, bloqueando sem mim, né? — E sorri tão radiante que sua imagem parece quase sólida, sem nenhum resquício do desbotamento de antes. — Sei o que você vai ganhar. — Ela força uma risada. — Quer uma dica?
— Nem meia dica! — respondo rindo, fazendo que não com a cabeça. — Estou adorando não saber de nada, pra variar.
Riley vai para o centro do quarto e executa uma série perfeita de estrelas acrobáticas.
— E por falar em surpresas — e dá um sorriso —, o Jeff comprou um anel pra Sabine! Dá pra acreditar numa histórias dessas? Saiu da casa da mãe, arrumou um apartamento só pra ele e está implorando pra Sabine voltar!
— Sério? — digo, feliz ao constatar que minha irmã abandonou de vez as fantasias e parou de copiar minhas roupas: hoje apareceu com um jeans desbotado e duas camisetas sobrepostas.
Ela faz que sim com a cabeça.
— Mas a Sabine vai devolver o presente, claro. Aliás, pelo menos eu acho. Nem ganhou ainda, então a gente vai ter de esperar pra ver. Mas as pessoas são tão previsíveis, você não acha?
— Você continua espionando celebridades por aí? — pergunto, ávida por uma fofoca qualquer.
Riley faz uma careta e revira os olhos.
— Parei completamente. Já estava ficando viciada, sabe? Além do mais, é sempre o mesmo enredo: elas enfiam o pé na jaca... quer dizer, nas compras, na comida ou nas drogas, e depois vão pra reabilitação. Jaca, culpa e internação, o mesmo ciclo vicioso de sempre. É muito chato.
Dou uma boa risada, em vez do abraço que realmente gostaria de dar. Estava morrendo de medo de perdê-la.
— Está olhando o quê? — ela pergunta desconfiada.
— Você.
— E?
— E estou tão feliz que você esteja aqui... e que eu ainda consiga vê-la! Achei que tinha perdido esse dom quando Sibila me ensinou a fazer o tal escudo.
Riley sorri e diz:
— Pra falar a verdade, perdeu, sim. Tive de dar uma turbinada em minha energia, senão você não ia conseguir me ver. Aliás, até usei um pouquinho da sua. Não está se sentindo meio cansada?
Dou de ombros.
— Só um pouquinho. Mas é que acabei de acordar.
— Tudo bem. O importante é que estou aqui.
— Riley... — olho para ela —, diga pra mim. Você continua... visitando a Sibila? — pergunto, segurando a respiração enquanto espero pela resposta.
Ela faz que não com a cabeça.
— Que nada. Também parei com isso. Agora vamos lá pra baixo, estou doida pra ver sua cara quando você desembrulhar o iPhone! Oops! — Ela ri, colocando uma das mãos sobre a boca e atravessando de costas a porta fechada do quarto.
— Você vai mesmo ficar? — pergunto baixinho, e saio ao corredor, abrindo a porta da forma tradicional. — — Quer dizer, você não tem nenhum compromisso? Algum lugar pra ir? Riley acomoda-se no corrimão e desce escorregando, sorrindo e olhando para trás ao dizer:
— Compromisso nenhum. Lugar nenhum. Agora, não mais!
Sabine devolveu o anel, ganhei um iPhone novo e Riley voltou a me visitar todos os dias, por vezes até indo comigo para a escola. Miles começou a namorar um dos dançarinos de apoio de Hairspray; Gina pintou os cabelos de castanho-escuro, excomungou o gótico, começou o doloroso processo de apagar sua tatuagem com laser, queimou todos os vestidos à la Pancy e adotou o look emo. O Ano-novo veio e foi embora, comemorado com uma reunião simples em minha casa, que incluiu cidra para mim (a essa altura eu já estava oficialmente sóbria), champanhe contrabandeado para meus amigos e um banho de jacuzzi à meia-noite: uma festinha recatada para os padrões, porém bastante divertida. Astória e Cho continuaram olhando torto para mim, como sempre fizeram, ou talvez um pouco mais nos dias em que me viam vestindo algo bacana, o prof. Snape tocou sua vida adiante (sem a filha e sem a mulher) e a prof. Minerva continuou torcendo o nariz para meus quadros na aula de educação artística. E, entre tudo isso, Draco.
Como o cimento num muro de tijolos, como a cola na encadernação de um livro, ele tem preenchido todos os espaços vazios de minha vida, mantendo a coesão das partes, a solidez de toda a estrutura. Sempre que faço uma prova na escola, lavo os cabelos, faço uma refeição, assisto a um filme, escuto uma música ou tomo um banho de jacuzzi, penso nele, consolada apenas por saber que ele anda por aí em algum lugar — ainda que eu tenha decidido ficar sozinha.
E eis que chega o Valentine's Day.A essa altura Gina e Miles já estão apaixonados mas não um pelo outro. E embora sentemos juntos na hora do almoço, daria no mesmo se eu estivesse sozinha. Eles estão ocupados demais digitando em seus respectivos Sidekicks para notar minha existência, enquanto meu iPhone permanece a meu lado, silencioso e ignorado.
— Cara, isso é hilário! Vocês não vão acreditar em como ele é inteligente! — diz Miles pela milionésima vez, levantando o rosto do torpedo que acabou de receber, vermelho de tanto rir, já pensando na resposta que precisa dar agora.
— Caramba, Harry acabou de mandar, tipo assim, trocentas músicas! E eu nem mereço tanto... — resmunga Gina, digitando seu torpedo.
Embora eu esteja feliz por ambos, feliz por eles estarem felizes e tudo mais, não consigo pensar em outro assunto que não seja a aula de artes no sexto tempo: não sei se vou ou não à aula da prof. Minerva. Porque hoje na Bay View não só é Valentine's Day como também é o Dia do Coração Secreto. O que significa que finalmente serão distribuídos aqueles pirulitos em forma de coração, com um cartãozinho rosa amarrado no palito, que eles vêm empurrando nos alunos durante toda a semana. Miles e Gina estão seguros de que receberão os seus, muito embora seus respectivos namorados não estudem aqui; quanto a mim, só espero chegar ao fim do dia sem maiores arranhões e com um mínimo de sanidade mental.
Mas devo admitir: depois que abandonei o pacote capuz/iPod/óculos escuros o interesse masculino por mim só aumentou. Não que eu tenha me interessado por alguém.
Porque a verdade é a seguinte: não tem nenhum garoto nesta escola, ou neste planeta, que se compare a Draco. Nenhum. Zero. Simplesmente não é possível. E, tipo assim, não tenho a menor intenção de baixar meus padrões, pelo menos por enquanto, só para dizer que estou namorando.
Mas quando toca o sinal do sexto tempo chego à conclusão de que não posso matar aula. Meus dias de delinquente juvenil já ficaram para trás. Então respiro fundo e vou para a sala, já pensando no desastre de minha obra mais recente. Agora temos de fazer uma pintura ao estilo de um "ismo" qualquer. Escolhi o cubismo, depois de cometer o engano de achar que seria fácil. Não é. Pelo contrário, é muito difícil.
Já na sala, alguém se aproxima por trás, e quando me viro para ver quem é dou de cara com um garoto apontando um pirulito em minha direção. Achando que é um engano, nada digo e volto para minha tela. E quando o tal garoto cutuca minhas costas de novo nem me dou o trabalho de olhar.
— Garota errada, meu amigo — digo apenas.
Ele resmunga alguma palavra, depois limpa a garganta para dizer:
— Você não é a Hermione?
Faço que sim com a cabeça.
— Então pegue logo este pirulito. — Ele balança a cabeça, impaciente. — Tenho uma caixa inteira pra entregar antes do fim da aula.
O garoto arremessa o pirulito em minha direção, e, assim que se afasta, largo o carvão na mesa para ler o bilhete, que diz:
Pensando em você. Sempre.
Draco
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Para Sempre, Saga Os Imortais, Dramione [Em Pausa]
FanfictionUma vida perfeita: essa era a realidade de Hermione Granger. Ela era uma garota popular, acabara de se tornar líder de torcida do principal time da escola e morava numa casa maravilhosa, com o pai, a mãe, uma irmãzinha e a cadela Buttercup. Nada no...