Os Vale são, para muitos habitantes, aqueles que movem o comércio de Ponte Belo e empregam boa parte dos moradores. O que, claro, os coloca numa situação de poder muito peculiar, que eles não cansam de tentar manter cada vez num patamar mais distante das outras pessoas. Mas como é que os Vale chegaram em Ponte Belo? E quem são eles?
Reza a lenda que os Vale estão na cidade o mesmo tanto de tempo que Ponte Belo existe. Ou seja, ao que parece as duas coisas surgiram juntas. Por que eles vieram para a cidade, no entanto, é uma história que ninguém conseguiu precisar direito. De todo modo, o fato de estarem na cidade quando ela começou a surgir, assim como o fato de sempre terem tido bastante dinheiro, os fez comprar boa parte do terreno e se fixar ali como a família mais importante e imponente da região.
O grande patriarca da família era um sujeito chamado Aureliano, falecido logo após o nascimento do neto mais velho (Daniel). Apaixonado por dinheiro tanto quanto por poder, ele era um homem muito inteligente, que multiplicou a fortuna da família, com investimentos certeiros e ações um tanto quanto duvidosas. Sua mulher, Eliodora, era uma grande defensora de uma educação de qualidade e, de presente, ele deu a ela o Colégio Eliodora, que, por muita dedicação da Avó Vale e uma cláusula explícita no testamento, é considerado uma das melhores escolas de Minas Gerais.
Os dois tiveram cinco filhos, e cada filho ficou responsável por uma área. Preconceituosos, sem escrúpulos, moralistas até a página dois do jornal, sempre loiros de olhos verdes, a exceção de uma mancha vermelha em sua árvore genealógica, os Vale podem ser descritos melhor em sua segunda geração:
O mais velho, Hélio, é um médico que, apesar de questionado como ser humano, é muito conceituado em seu campo de atuação. Ele é o principal dono do Hospital Ponte Belo, em que seu filho mais velho trabalha sem a menor ambição (oi de novo, Daniel!). O casamento de Hélio foi arranjado pelas famílias, de modo que não há nenhum amor na relação, o que é confirmado quando Daniel descobre que ele tem várias amantes perdida pelo caminho. Ele teve três filhos (Daniel, Diogo e Eliodora) e dois netos (filhos do Diogo), Gustavo e Gabriela (seis e quatro anos, respectivamente). Eliodora, seguindo os passos do pai, está prometida a um primo, que eu posso falar mais adiante.
O segundo filho do casal Vale foi Simas, um empresário de sucesso que, embora tenha algumas empresas em Ponte Belo, tira a sua maior parte do lucro nas empresas pelo resto do Brasil. Ele é pai de quatro filhos: Pedro, Paulo, Patrícia e Dafne. Sua mulher é formada em direito, mas nunca trabalhou, pois abriu mão de sua independência para ser uma digna mulher valeniana. Ele é um homem sem escrúpulos e sem pudor, que é capaz de fazer qualquer coisa por dinheiro, e nunca perdoou seu filho mais velho por não querer ser médico e, ainda por cima, recusar seguir a carreira do pai, administrando suas empresas.
A terceira filha é Helena, a que controla os jornais da região e praticamente todas as mídias de Ponte Belo. Sua função na família é muito simples: varrer os podres dos Vale de tal modo que ninguém da cidade desconfie de suas falcatruas. Ela é casada com Ricardo, um homem que não tem a palavra dentro de casa e é visto pelo resto da família com um completo inútil. Os dois tem três filhos e três netos, e raramente aparecem pois é muito trabalhoso manter os segredos guardados a sete chaves e ainda ter uma vida social agitada.
O quarto filho, Ignácio, herdou a administração da educação pontebelense, para seu próprio desespero. Tudo o que ele queria era se livrar da obrigação do Colégio Eliodora, mas uma cláusula no testamento (a matriarca esclareceu que qualquer um que tentasse se livrar do colégio e/ou o fizesse cair de rendimento perderia sua herança automaticamente, repassando para os outros irmãos) o impede de realizar seu sonho. Felizmente para ele, se casou com uma mulher (Eliza) que gosta de educação tanto quanto Pedro ou Eliodora. Eles são pais de três meninas: a alienada Larissa, Emanuelle e da Luísa. E corre boatos que estão praticamente falidos, embora eles jamais vão dizer isso para vocês.
A caçula da família é aquela que veio ao mundo para dar trabalho – ou, ao menos, aquilo que os Vale consideram trabalho. Sarah é dona das lojas de grife da cidade e só quer saber de diversão, festas, bebidas e... bem, algumas orgias, por que não? Ela e seu marido são bastante livres nesse ponto, e estão sempre causando desconforto nas reuniões familiares por dizerem coisas que não deveria ser ditas, e fazendo com que Helena perca muito tempo ocultando suas aventuras. Infelizmente, seu talento para se divertir não é proporcional ao seu talento para dinheiro, e Sarah é, o tempo todo, amparada financeiramente pelos irmãos, para continuar a manter sua pose pela cidade. Isso faz com que seu filho mais velho, Tiago, seja prometido a prima (a Eliodora citada acima), e causa um grande conflito dentro de sua casa. Ela tem mais dois filhos, Davi e Emanuel que, seguindo os passos dos pais, são mais rebeldes do que os Vale podem aguentar.
Se a primeira geração é conhecida por sua obstinação de multiplicar seu dinheiro, e a segunda geração é conhecida pela ambição e falta de escrúpulos, a terceira geração é compreendida como os "rebeldes sem causa", os filhos que, de certo modo, não concordam com as atitudes dos pais e ameaçam o posto de família tradicional. A quarta geração, com as crianças, é uma incógnita que vai dizer se os Vale permanecerão intocados em seu poder ou se seus dias de glória estão contados.
De todo modo, é fácil admirar e detestar os Vale na mesma proporção. Não é tão fácil assim gostar deles, realmente, mas alguns poucos sortudos acabaram cativando uma pequena plateia de fã... ao deixarem seu poder para trás e irem buscar o que realmente queriam. Para desespero de seus pais.
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Guia Politicamente Incorreto De Ponte Belo
AléatoireOnde todas as suas dúvidas vão ser tiradas do melhor jeito possível. Ou, bem, talvez não... Capa feita por: Brenda Sousa <3