CROSSOVER, CROSSOVER EVERYWHERE

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Muita gente me pergunta porque eu resolvi fazer as histórias se interligarem. Não sei se eu resolvi, mas acontece que gostei tanto de Ponte Belo que queria muito aproveitar a cidade como um todo. E como é uma cidade pequena, me parecia inviável que as pessoas ali não se cruzassem em algum momento. E a vida é feita disso, né? Nós nos aproximamos de pessoas, com suas histórias, compartilhamos risadas, cafés, ou algo mais, e somos um monte de pequenas histórias retalhadas em conjunto.

De todo modo, talvez, porque eu cresci apaixonada no modernismo e pós-modernismo, é muito comum ver crossovers nas histórias. Muitos dos meus autores preferidos (desde o cult James Joyce até a popular Emily Giffin) fazem isso com maestria, e, portanto, como a literatura reflete o gosto do autor, cá estamos.

Mas, principalmente, porque eu tenho muita dificuldade de desapegar dos personagens. Por tudo isso, vocês veem as histórias se cruzando e pode ser que se percam algumas vezes, mas tudo bem, né? Vamos tentar esclarecer isso aos poucos...

Vocês conseguem me dizer qual foi o primeiro crossover na história?!

Eu sei que não.

O primeiro personagem de outra história (desconsiderando Caio e Luana, obviamente) que passou pela visão de um protagonista foi...

João Gabriel!

É verdade. No Capítulo em que Vênus está no Mundo da Lua, há uma passagem rápida sobre ele, que, obviamente, nenhuma de vocês poderia saber. Mas ele estava bem aqui:

"Amarrei o avental e voltei para a bancada, no exato momento em que minha amiga entregava ao homem o pedido que ele havia feito. Luana revirou os olhos assim que o cliente deu as costas e eu tossi para avisar que a peguei no flagra. Ela corou no mesmo instante. Sorri.

— Expresso duplo hein? – provoquei, sussurrando.

Minha patroa detestava qualquer pedido de expresso-duplo as duas da tarde.

— Que se pode dizer sobre as pessoas? – ela respondeu, também num sussurro – Elas são estranhas."

Depois disso, ele ainda aparece outras vezes, sempre pedindo expresso-duplo, sozinho e efêmero como só João Gabriel consegue ser. E arrancando bufadas exasperadas de Luana, é claro.

Dafne também aparece, em forma de fotografia pela história, no capítulo 15, logo depois da festa na República Canabias:

"— Você tá sempre quebrando coisas? – Pedro disse, vindo até a mim.

— Juro que dessa vez foi sem querer – falei – Mas não quebrou – mostrei a moldura para ele, a foto exibindo ele e uma garota muito branca e muito loira, com olhos verdes quase cristalinos, ao lado dele – Sua irmã?

Ele assentiu, pegando o porta-retratos da minha mão.

— A caçula.

— Hm – assenti – Bem bonita. Eu já a vi em algum lugar? – era uma pergunta mais para mim, na verdade, mas Pedro me olhou e colocou o porta-retratos no lugar que estava antes.

— Provavelmente. Ela está sempre estampando os jornais por aí.

— Modelo?

— Com certeza, não – ele entortou a boca num quase sorriso muito engraçado – Mas os fotógrafos gostam dela, pro seu desespero de adolescente que odeia ser fotografada.

— Sim, posso imaginar como uma genética dessa pode ser desesperadora... – revirei os olhos."

Menina Jess também dá as caras em Vênus, lá pela metade, querendo saber como era cursar história (capítulo 26). Acho que desse crossover vocês vão lembrar.

"— Você faz História, né? – ela me encarou.

— Isso aí – enchi minha caneca de café gelado.

— É legal? – ela piscou várias vezes os olhos castanhos para mim.

Dei um sorriso, reconhecendo onde ela queria chegar. Dava para farejar isso à distância: último ano de ensino médio, pressão dos pais, perdida nas escolhas. No fundo, as coisas não mudavam muito para a maioria dos formandos.

— Você gosta de História?

— Ah... Acho que sim – deu de ombros.

— Ainda estamos no começo do ano, Menina Jess-do-Macchiato – Lua disse e sorriu para ela, lhe entregando o café – Tenho certeza de que você vai achar o que vai te fazer feliz, antes do fim dele.

— Diga isso ao meu pai – ela fez uma careta – Ele tá do outro lado do mundo e ainda assim quer mandar na minha vida!"

Em Cores de Um Recomeço a gente descobre que, na verdade, ela gosta bastante de história. Embora não o suficiente para cursar a profissão, no momento em que resolve falar com Vênus.

A sagacidade de Lua também aparece um tempo depois, quando Jess entra no lugar abraçada a Pietro, no capítulo 30:

"— Olá, Menina Jess – Lua sorriu para a morena de cabelos encaracolados.

— Ei – ela deu um sorriso enorme, se agarrando num adolescente ao seu lado – Me faz um Machiatto?

— Claro.

— E um chocolate quente para mim – o garoto disse – Vamos nos sentar ali, Jess – a puxou.

Balancei a cabeça e terminei de beber meu café, para ajudar Luana a preparar os pedidos. Lua fazia o Machiatto com o cenho franzido.

— Que foi? – cochichei.

— Não gosto dele – ela deu de ombros.

— Do namorado? Por que não?

— Sei lá. Ele tem esse ar, sabe? De canalha.

— Mas, nessa idade, todas gostam de canalhas. E disso posso falar bem.

— Claro que pode. Você tem mais ou menos a mesma idade, idiota.

Sorri, fazendo Lua revirar os olhos.

— Ela eu entendo. É ingênua. Primeiro namorado. Superprotegida pela mãe. É normal se envolver com caras idiotas. Mas você... De verdade, Vê, depois de tudo, de todas as perdas e machucados, como pode não ter crescido?"

Mal sabia Luazinha que poucos meses depois estaria queimando a cara do garoto no seu Café, e vendo seu mundo inteiro virar de cabeça pra baixo com Caio a chamando de "minha mulher". Mas isso já é questão para outro tópico... 

 

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Guia Politicamente Incorreto De Ponte BeloWhere stories live. Discover now