Egoísta - 07

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                                                                                    Valentina


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— Você é uma egoísta! – grita Safira segurando a bolsa.

— Não vou me submeter a isso Safira – falo tentando conter o tom de voz, não queria que Camilla ouvisse.

— Eles vão nos dar um salário! Uma casa e remédios. Vão cuidar de nossa saúde, nos tornar aceitáveis...

— Aceitáveis? Quer dizer que além de tirar tudo de nós, vão nos deixar aceitáveis? Por acaso somos animais para sermos domesticadas? Ficar aceitáveis?

— Meu Deus tudo você leva para o lado pessoal. Olha, eu vou para aquela entrevista, se você não quer ir tudo bem é problema seu, sabemos que mamãe não seria aceita, mas eu e você temos uma chance e se você não quer aproveitar... A culpa não é minha.

Bate a porta. Ela e Míriam combinaram de ir até a Casa Grande, colocaram suas melhores roupas e estavam dispostas a agir como se tivessem fazendo um favor a eles. Ou pior, como se eles tivessem fazendo um favor a elas.

— Porque ela gritou com você? – pergunta uma voz tensa logo atrás. Viro-me e analiso Camilla que respirava de forma acelerada. – nunca vi vocês brigarem.

— Não foi nada – digo forçando um sorriso.

— Não me trate como uma criança por favor. Preciso saber o que está acontecendo, mamãe não quer me contar. – sinto seu tom de voz estressado.

— Vamos resolver esse problema te garanto – me aproximo e coloco-me de frente para o pequeno rosto – não precisa se preocupar – toco em seu rosto para um carinho e sinto sua pele quente, na verdade estava pegando fogo. Coloco-a na cama e coloco o termômetro recém-comprado abaixo de seu braço.

— O que houve? – ouço a voz de Sílvia, sei que está próxima mas a ouço distante. Minha cabeça dá voltas e sinto meu estômago revirar.

— Mãe, cuide dela vou até a fazenda.

— Não precisa fazer isso – diz me lançando um olhar caloroso.

— Sim, preciso – saio do quarto e tomo um banho rápido. Existiam algumas peças em nosso pequeno guarda-roupa que eram sagradas, apenas para ocasiões especiais. Puxo uma saia que acho particularmente horrível, era preta com renda na ponta, ficava um pouco acima do joelho. Pego a única blusa preta que não estava rasgada ou encardida. Coloco o brinco que ganhei quando as condições de vida ainda eram aceitáveis. Penteio o cabelo e deixo os cachos armados de uma forma bonita. Calço a bota de Safira – que era um número maior que o meu – e passo uma sombra leve no olho. – me analiso no espelho e não estou tão mal, mas queria ter que me arrumar para algo que fosse realmente especial, que me desse alegria e empolgação. Porém, é totalmente o contrário.

Conheço Camilla e sei que febres assim precedem crises terríveis. Somente Safira não será o suficiente. – engulo todo meu orgulho e toda vontade de chorar.

Ela tinha razão, eu estava sendo egoísta, preciso aprender a cuidar das pessoas que amo e me sacrificar por elas. Sílvia dá um beijo em minha cabeça e força um sorriso, e por mais simples que esse gesto seja, sinto-me abraçada e encorajada.

                                                                                                    *

— O que... O que houve? – olho para cima e vejo um jovem alto encostar na porta. Reconheço-o e abaixo a cabeça. Todas permanecem em silêncio sem saber ao certo o que falar – posso ter uma resposta?

— Sim, senhor – falo com a voz falha – foi um mau entendido...

— Olhem, enquanto estiverem nessa casa, qualquer mau entendido ou incomodo será motivo para arrumarem as malas e irem embora. Entendido? – sinto arrepios na espinha, e o homem que se chamava Lucca analisa-me severamente, mas dá uma leve risada, a forma como seus lábios sem movem me faz estremecer, depois dá as costas e saí.

A governanta continua a conversar com as outras garotas, analiso Safira que trançava meu cabelo desarrumado. – sei que estou corada, e quero ir embora. Na verdade, ainda estou pensando em como fazer para ir embora. Vejo como as mulheres olham para mim e sinto certa indiferença.

— Consegui o trabalho, e você também – sussurra minha irmã – você escutou o que ele disse? Teremos uma boa casa e remédios para Camilla.

— Teremos uma casa que não será nossa, teremos remédios para vermes porque eles tem nojo e teremos trabalho porque ele está com crise de consciência. Se bem que acho meio difícil aquela coisa ter consciência – falo um pouco mais alto que o recomendado, e a governanta se cala por alguns segundos.

— Mas temos não é? Foram quase 20 mulheres, e só ficaram seis. Estamos com sorte, e isso basta. – termina a trança e se põe ao meu lado.

— Então senhorita... – fala a mulher de 40 e poucos anos.

— Valentina senhora – falo tentando demonstrar algum decoro.

— Já que aqui está, ficará nesse quarto, e sua irmã também... Safira, assim como Rita – a governanta se move e vejo uma garota de cabelo ruivo e pele de porcelana se aproximar. Safira sorri o que me leva a pensar que já fizeram amizade.

— Senhoritas Melaine, Míriam e Paulla me acompanhem. – respiro aliviada ao ouvir Míriam, certamente estava do outro lado da porta. Míriam ainda estava resfriada, e talvez estivesse evitando o olhar rigoroso da mulher. – ah – diz a mulher voltando – depois gostaria de falar com a senhorita... – fecha os olhos e suspira com desdém – Valentina.

— Como desejar senhora – respondo abaixando a cabeça em respeito.

— Já a detesto – fala a ruiva na minha frente. – até nossas roupas ela pegou tentando encontrar alguma qualidade – diz indo em direção ao armário.

Olho para trás e analiso o ambiente, era um quarto com uns 5 metros (bem maior que o meu e de minhas irmãs), tinham três camas, eram um pouco pequenas para Safira que era bem alta, mas eram ótimas para mim (muito confortável, diferente dos colchões furados que minha coluna estava adaptada), tinha um pequeno armário, pequeno demais para três mulheres, mas creio que só teríamos que guardar o necessário. – observo Rita abri-los e vejo algumas mantas e fronhas de travesseiro que preenchiam quase todo o espaço. No final tinha uma grande janela de madeira, que poderia ser aberta e cumpriria perfeitamente o papel de arejar o ambiente. Ao lado tinha um espelho encostado a parede e a pintura estava um pouco desbotada, mas não tinha cheiro de mofo e tinha uma lâmpada muito eficiente por sinal.

Lá fora a chuva cessava, e nunca tinha visto tamanha beleza. A casa era imensa, tanto em estatura quanto largura. Eram três andares isso é, os que pude contar. Diziam que a muito tempo foi um castelo, e depois passou a ser uma mansão usada em festas e eventos luxuosos. Mas com a crise teve de ser vendido, e como o Sul é um lugar belo para se viver e morar, então a descendência dos Lipphaus acabaram comprando.

— Bem, já conhecem os aposentos. Queiram me acompanhar – diz a mulher que a alguns segundos descobrir que se chama Paulinne Ferronato.



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Olá amores! O que estão achando da nova realidade da Val? Será se ela conseguirá burlar seu orgulho? Esperamos que sim!!!


Estarei postando novos capítulos no dia 19.08; Queria postar antes, mas não será possível por conta dos estudos! 

Bem é isso!

Beijos!!

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⏰ Última atualização: Aug 13, 2017 ⏰

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