Beleza do interior

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Tem muitas manas que sonham acordadas com o tipo de macho que me persegue, tipo o Tonho. Eu até o acho bem fofo, mas ele tem um sério problema: é romântico. Não é só romântico, ele quer casar, encher a casa de crianças e bichos adotivos, me quer como "rainha" do lar. 

Mas nunca! 

Ou talvez um dia...

Tonho não é rico, é um ser que tem um sítio e fabrica geleias, banana desidratada e outras coisas do tipo pra vender. Imagina que no verão ele fica na praia com um carrinho, vendendo pamonha. Jesus querido!

Cada parágrafo termino com uma exclamação, mas é que não posso com aquele figurão. Sim, ele me trata como a melhor oferenda da natureza e embora eu seja muito confiante que SOU absoluta e poderosa, não quero mais do que uns amassos com esse colono gostoso.

— Abi, eu tava "passano" aqui no centro, fui pagar umas duplicatas no banco e te trouxe um lanche. Tu é muito magro que fico preocupado que pode ter umas "anemia". Tó. Tá fresco, a mãe assou de tarde.

Meu bom Jesus de Iguape, um pão caseiro do tamanho de um bonde. Nem faca eu tenho pra cortar o troço.

— Agradece tua mãe, lindo. Mas vou levar pra casa.

— Espera. — Ele tira de uma sacola um salame e um pedaço de queijo. Um torresmo prensado, meia dúzia de laranja, uma penca de banana, três ovos que ele disse que já estão cozidos e um vidrão de conserva com doce de fruta. — Pode ir comer que atendo pra você.

Eu estou com meus olhos arregalados e a mandíbula travada. Minha sex shop tá catingando linguiça. Esse macho bruto e gostoso quer me deixar gordo. Minha "sogra" tá pegando pesado. O sítio dele está me seduzindo muito mais que os olhos azuis escuros de cílios fartos daquele pedaço de mau caminho.

— Tonho eu acabei de comer uma rosca de polvilho inteira. — Falo enquanto enfio todas as coisas dentro da sacola de papel. — Agradece a dona Bastiana.

— Quem?

— Tua mãe.

— É Francisca.

— Que seja, meu doce de leite pastoso do Abi. Eu tenho que atender agora.

— Vou esperar pra gente prosear "despois".

— Vai demorar.

— Posso ir na sua casa?

Misericórdia...

— Tá, vai. — Número um: preciso mesmo dar uma transada. Número dois: faz tempo que não sou o passivo da foda. E número três: esse homem me deixa melada.

— Então inté.

Cacete, o homem é tão grosseiro que bate a porta da minha lojinha como se fosse a caminhonete D-20 que ele dirige. Beleza tenho algo garantido para mais tarde. Um belo mastro e um macho que não tem dó de usar. Nossa! Não paro de umedecer. Atendendo o cliente que compra um consolo preto, o maior que tenho e me olha todo tímido.

— Menino, posso dizer uma coisa pra ti? Eu já usei um mais grosso que esse. Liga não. Aqui, pelo menos eu sou super discreto, quero que venha sempre comprar comigo. E olha uso esse tipo de embalagem sem identificação, fica tudo bem disfarçado.

Puta merda, me pisquei todo depois que Tonho saiu daqui. Fecho minha loja meia hora antes pra ir em casa dar aquele "preparo" antes de encarar a "bazuca" do cara. Preciso transar e hoje, terça-feira, a noite pede uma pegada mais bruta.

Depois de prontinho, a pontualidade toca meu interfone... cinco vezes seguidas. Faço ele subir e o ser me estica um buquê de flores. São realmente lindas, mas... mas assim fica difícil.

Com quem Abi vai ficar?Onde histórias criam vida. Descubra agora