Exôdo

306 70 97
                                    

Não se trata de uma história bíblica. Sinto-lhe decepcionar. Não se trata de um narrador formal que estudou toda a história do céu e da terra. Se trata do relato de um acontecimento...

***

"Eis que te envio um anjo para que te guarde em teu caminho"

13:30 da Tarde

Eu precisava sair. Já estava no portão, trancando o cadeado. Segui pela calçada e comecei a ouvir os passos de alguém logo atrás de mim. Eu conhecia aquele jeito de andar só de ouvir. Mas não soube deduzir quem era... comecei a andar mais rápido como se tivesse sendo perseguida.

  —  Agda! — disse a voz que me fez parar e olhar pra traz.

Eu conhecia aquela voz, eu sabia quem era. Se tratava do Padre Fábio. Ele era meu vizinho a alguns dias. E já havia falado comigo antes de vir morar aqui do lado, as vezes parecia tentar me convencer a me converter a religião católica. Mas no geral ele nunca forçou sua religião. Sempre foi amável, e procurou me deixar livre.

  — Eu preciso falar com você... —  disse ele me deixando meio curiosa.

— Sobre o que se trata, Padre? —  falei protegendo meus olhos dos raios de sol que insistiam em refletir na calçada.

—  Fábio, pode me chamar de Fábio. Já falei que não precisa me chamar assim. Mas... eu preciso falar com você sobre algo muito importante. —  disse ele se aproximando.

  — Padre...  se é sobre eu me converter a igreja católica, melhor não insistir. Eu não estou sem religião. Eu acredito em Deus... se for isso, desiste. — falei me virando.

  — Desde que a minha paróquia pegou fogo... ou seja, desde o dia que você foi a paróquia... —  disse ele tentando explicar algum raciocínio.

  — Não venha dizer que a igreja pegou fogo só porque fui la... pelo amor de Deus, ja basta os pivetes terem feito essa piadinha. —  falei cruzando os braços.

— Não é piada. Desde aquele dia... eu venho pensando porque tudo aquilo aconteceu. E veja, eu acabei virando seu vizinho, morarei aqui ate que a paróquia seja reconstruída.  E hoje cedo, enquanto eu fazia minhas preces... eu descobri uma explicação. —  disse ele.

  — Não faço ideia do que o senhor esta falando... suas teorias estão me deixando confusa. — estranhamente eu o chamava de senhor, mesmo ele sendo só uns 10 anos mais velho do que eu.

— Claro que faz. Precisamos conversar sobre isso... —  disse ele insistindo.

  —  Preciso ir... não sei do que esta falando,Padre. Desculpe se eu pareço estar sendo grossa...—falei me virando pra sair.

  — Sei que é jovem e bonita e deve ter muitos compromissos... —  disse ele em voz alta.

Não Padre. Eu não tenho muitos compromissos...  você não imagina o quanto eu sou sozinha. O quanto eu sou diferente das outras garotas. Penso isso,  mas não digo. Suspiro fundo e continuo andando, ignorando tudo que ele dizia.

— ... mas se não me ouvir, perderá tudo isso quando ele voltar. — disse ele me fazendo paralisar.

— Do que esta falando? — sussurrei cerrando os olhos.

— Sabemos que ele irá voltar. Precisamos  fazer alguma coisa... — disse ele tentando me convencer de que ele sabia o mesmo que eu.

— Seja claro, Padre,por favor... — sussurrei novamente.

— O emissário... Azazel esta voltando. —  disse ele com um ar apocalíptico no tom de voz.

  —  Como sabe sobre ele? Como..? — fico sem entender como ele sabia do meu sonho.

— Não foi um sonho, foi uma visão. Foi um aviso. Eu posso tentar te ajudar... —  disse ele estendendo a mão pra mim.

— Eu não vou estender a mão pra você... eu sei o caminho,ta? —  falei desviando dele de vagar.

Eu não sou uma pessoa fria, nem um monstro. Mas eu conseguia ouvir daqui as velhas sussurrando nas janelas. Elas vigiam essa rua o dia inteiro e a noite inteira.
Parece que o remédio de dormir delas não funcionam mais. Eu sabia que elas espalhariam pra cidade toda que eu entrei na casa de um padre, mas eu decidi conversar com ele antes que fosse tarde demais.

— Pode ficar a vontade... quer uma água? Café? Chá? —  disse ele sentando no sofá a minha frente.

— Não precisa de nada disso... só, pelo amor de Deus, diz tudo que sabe sobre ele. — falei demonstrando estar muito agoniada com a situação.

— Posso te contar desde o princípio... — disse ele de maneira razoavelmente calma.

— Conte, por favor... —  falei.

— Azazel, é uma figura que ainda levanta muitas dúvidas. Ninguém sabe ao certo qual a versão real de sua origem e existência. Mas, uma das versões mais críveis diz que ele era um arcanjo, que se chamava Nataniel. Mas que caiu junto com os 200 anjos lançados do céu. Ou seja, se tornou um anjo caído. E acreditam que ele desceu a terra pra libertar sua amada de uma prisão no inferno.  — disse ele.

— Que??? —  falei dando um pulo no sofá, pois batia muito com o sonho que eu havia tido.

— Isso mesmo... veio a terra libertar sua amada de uma prisão dentro do inferno. E o fato de sua amada ser humana, faz com que ele repita esse feito a cada 100 anos. Ou seja, a cada vez que ela reencarna, ele volta pra encontra-la. — disse ele tentando não me assustar.

  — Ah, meu Deus... é o que eu to entendendo? Eu sou... ah, não... —  falei tentando raciocinar.

— Calma... você não pode se desesperar. —  disse ele tentando me acalmar.

— Eu sou a "amada" de um demônio e você quer que eu fique calma? —  falei começando a chorar.

— Azazel talvez não seja exatamente um demônio... algumas partes na bíblia dão a entender que ele seria um emissário. Que levaria os pecados das pessoas e ajudasse o próprio senhor a levantar as faltas e os pecados das pessoas para que elas fossem julgadas. —  disse ele limpando as lagrimas que escorriam do meu rosto.

  — Eu dei uma pesquisada sobre ele... eu sei que o nome dele ta ligado a orgias, cultos terríveis, holocaustos, sacrifícios. Não tem como ele ser bom... —  falei chorando muito.

  — Olha pra mim... —  disse ele levantando meu rosto.

— O que vai acontecer comigo, Padre? —  falei entre os soluços do meu choro.

— Eu não posso dizer o que vai ou não acontecer. Azazel só obedece a Lúcifer, e seria um dos anjos caídos mais poderosos da demonologia atual. Mas, acreditamos em Deus... não acreditamos? Então eu vou estar aqui sempre que precisar... e quando ele aparecer, eu vou estar aqui, do seu lado, somos vizinhos... Pra te ajudar... — disse ele tentando me consolar.

— Pelo visto a vinda dele é inevitável? Eu estou ferrada, Padre. —  falei levando a mão ao rosto e limpando o rímel que havia escorrido.

— Calma... —  disse ele indo pra cozinha e pegando um copo de água com açucar.

Não consegui me sentir protegida. O Padre é uma ótima pessoa, e parece querer me ajudar. Mas eu não acredito nos princípios religiosos da igreja dele. Mas sei que devo respeitar e aceitar sua ajuda. Mas lamento muito sentir que ninguém vai poder me ajudar... 

Ninguém.

  ***

Ola!!! Gostou da história? Da um voto se gostou! Isso ajuda muito, e se quiser, comente! Até o próximo!  ;)  Ele ta chegando hein!!!

O EmissárioOnde histórias criam vida. Descubra agora