Deuterônomio

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"Faça tudo para cumprir o que os seus lábios prometeram."

  Não se trata de uma história bíblica. Sinto-lhe decepcionar. Não se trata de um narrador formal que estudou toda a história do céu e da terra. Se trata do relato de um acontecimento...  

***

Levei a mão a cabeça e me protegi dos estilhaços que voaram pela casa. 

Todos os copos, e todas as lâmpadas da casa simplesmente haviam estourado. Corri do meu quarto tentando proteger o meu rosto de ser atingido por algum caco.

Ouvi vozes, ouvi passos...

 Algo parecia estar andando dentro da minha casa. E eu sabia que não era algo humano. Vi coisas sendo derrubadas e reviradas como em um filme de terror.

Desci pra sala, e sai pela porta da frente, com os pés descalços. Meus pés sangravam. Acabei pisando nos cacos quando desci pra sala, pois eu já havia apagado as luzes da casa.

Eu não tinha o que fazer por mim naquele momento, a não ser correr pra casa do Padre.

Bati na porta aos gritos.

— Padre! Abre a porta! Padre Fábio! — insisti dando socos na porta de sua casa.

Ele estava demorando abrir, e no desespero por sentir estar sendo perseguida, comecei a chorar e gritar. Supliquei que ele abrisse a porta, sentei no pé da porta.

— O que esta acontecendo? —disse ele abrindo a porta assustado.

— Achei que não abriria essa porta... por favor, me deixe entrar. — falei me arrastando pra dentro da casa.

— Entre pelo amor de Deus... —disse ele fechando a porta novamente depois de me ajudar chegar ao sofá.

— Eu... — tentei falar, mas meus pés ardiam demais.

— Você esta deixando um rastro de sangue por onde passa. O que aconteceu com os seus pés? — disse ele com os olhos arregalados.

—Eu pisei em cacos. Tudo que era de vidro dentro da minha casa estourou. Algo passou por la, Padre. Eu ouvi vozes, eu vi vultos, coisas foram derrubadas. Tinha uma presença lá dentro. Sai correndo no escuro e... cortei os pés ao passar por cima dos cacos. — falei quase não aguentando a dor.

— Deus tenha misericórdia... esta sangrando demais. Deve estar doendo muito. Eu, eu... vou trazer uma bacia. Espere aqui. — disse ele indo pra cozinha.

Fiquei sentada tremula, quase não aguentava a dor que eu estava sentindo. Senti que eu estava começando a ficar febril. Eu não sabia o que fazer naquela situação, chorar já não era novidade. Alguns minutos depois, Padre Fábio voltou, e com uma bacia cheia de agua, e outra coisa que me causou preocupação.

— O que vai fazer com isso? — falei olhando para o vinagre que ele havia trazido.

— Você andou pela calçada com os ferimentos abertos... precisamos lavar isso, e aplicar uma compressa de vinagre. Pra evitar coisas piores. Me desculpe por não ter os medicamentos corretos no momento... — disse ele pedindo permissão para lavar meus pés.

— Isso vai doer mais ainda Padre! —gritei.

— É necessário Agda! — disse ele enfiando meus pés na água.

— Eu vou agonizar de dor, pelo amor de Deus... não tem outro jeito? — falei antes que ele jogasse o vinagre na água.

— Não tem outro jeito no momento... — disse ele me dando um pano branco.

O EmissárioOnde histórias criam vida. Descubra agora