02 - Sr. Montgomery

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Entro no Hotel de Paris Monte-Carlo e o atravesso a passos largos e firmes o átrio em direção ao terraço, onde se localiza o restaurante Côté Jardin. O dia está bonito hoje em Mônaco, faz um clima agradável com um céu sem nuvens e uma brisa suave. As mesas do restaurante estão dispostas no terraço e no gramado, protegidas por enormes guarda-sóis, e proporcionam uma das melhores vistas da cidade para a marina lá embaixo.

Procuro rapidamente com os olhos e avisto Henry sentado em uma das mesas próximas ao gramado, mexendo no celular de forma distraída. Está vestindo uma calça social bege e uma camisa azul claro com as mangas longas puxadas até os cotovelos. Os raios de sol refletem em seu cabelo castanho displicentemente despenteado, parecendo uma fotografia bem iluminada. É difícil de admitir, mas Henry Montgomery talvez seja um dos homens mais bonitos que já vi na vida.

Talvez Deus estivesse de muito bom humor quando decidiu criá-lo, com seus quase um metro e noventa, desenhando seu rosto centímetro por centímetro com uma régua e um compasso. Milimetricamente simétrico. O queixo quadrado, nariz perfeitamente bem desenhado, barba desleixada e propositalmente deixada por fazer. Seus ombros são largos e ele usa uma camisa justa o suficiente somente para marcar seu corpo não exageradamente musculoso, mas muito bem definido.

Resumidamente, Henry Montgomery poderia muito bem ser modelo para aquelas estátuas de deuses romanos, perfeitos e simetricamente esculpidos. E ele, sabendo muito bem disso, sempre usa esses seus atributos a seu favor. Está sempre com sorrisinhos, sempre com mulheres a sua volta, sempre consegue o que quer com sua conversa e seu charme. É patético ver a forma que elas se comportam perto dele, principalmente quando o veem pela primeira vez. Mais conhecido na F1 como "efeito Henry".

— Sr. Montgomery — falo ao chegar na mesa, fazendo-o rapidamente desviar os olhos do celular para mim.

Ele se levanta para me cumprimentar, enquanto o garçom puxa a minha cadeira para que eu possa sentar. — Pode me chamar de Henry. Como está o seu dia? Tomei a liberdade de lhe pedir um suco de laranja. Espero que goste.

Ele sorri com aquele sorrisinho. Seus olhos azuis faíscam. Como está o meu dia? Pondero por um momento se vale a pena contar realmente como está sendo, mas acho melhor não. Sorte dele de pelo menos eu adorar suco de laranja.

— Bem — limito-me a dizer. Abro o cardápio e desvio meu olhar para as entradas. — E o seu?

— Melhor impossível. Fiquei muito feliz quando Steve me disse que teria uma assistente pessoal.

— A Etnus não lhe fornecia uma assistente? — pergunto surpresa, mas desinteressada o suficiente para não desviar meu olhar das opções de carpaccio.

— Não — ele dá de ombros. — Nunca ninguém antes esteve ao meu dispor para satisfazer todas as minhas vontades.

Levanto a vista e pisco duas vezes, encarando-o incrédula, pensando se seria digno estapeá-lo no meio do restaurante, se valeria a pena ser notícia dos jornais no dia seguinte. Talvez valesse, né?

— Estou brincando, Srta. Delacaux — ele diz com um risinho descontraído no canto da boca, ao ver que está bem perto de sair fumaça pelos meus ouvidos, como nos desenhos animados.

Socorro, quero ir para casa.

— Ok. Posso chamá-lo de Henry, certo? Vamos esclarecer algumas coisas. Eu não sou nem serei sua babá ou nada do tip...

— Oh, por favor, eu estava mesmo brincando! — ele me interrompe. — Você não tem nenhum senso de humor?

Permaneço em silêncio para ver se ele entende a resposta de sua pergunta.

O Grande Prêmio (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora