07 - À vida e às Estrelas

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Puxo Henry pelo braço e ele parece surpreso, mas até agora não questionou nada e está deixando os planos por minha conta. O salão está cheio e vou me desviando das pessoas até avistar quem está me interessando: o garçom.

— Deseja mais uma taça, senhorita? — ele me pergunta enquanto devolvo-lhe minha taça vazia.

— Na verdade, gostaria de saber se o senhor poderia me dar a garrafa — aponto para a garrafa de champanhe que se equilibra em sua bandeja.

A garrafa? — falam os dois em uníssono, Henry e o garçom.

— Sim, a garrafa. Por favor? — dou-lhe meu sorriso mais encantador e pisco os olhos. Sei que será difícil para ele negar.

Henry olha para mim, confuso, e o garçom olha para nós dois, mais confuso ainda. Ensaia gaguejar alguma coisa, mas acaba suspirando fundo e me estendendo a garrafa de sua bandeja.

— Claro — ele diz, com um sorriso cortês. — Providencio outra lá dentro.

— Muito grata, senhor — agradeço e saio novamente segurando a garrafa de champanhe em uma mão e puxando Henry pela outra, mas ele reluta.

— Está maluca? — ele cochicha atrás de mim. — O que está fazendo?

— Confie em mim. E me faça um favor: consiga outra garrafa com aquele garçom, sim? — aponto para um garçom que passa a alguns metros de nós.

Ele me encara, sério, duas ruguinhas se encontrando no centro do cenho. Não está com cara de quem vai colaborar.

— Faça o que eu digo, Henry! — incentivo-o com empurrões nas suas costas.

Ele me olha feio, a muito contragosto, mas resolve me atender. Ótimo. Quem negaria uma garrafa de champanhe ao piloto número 1 da Delacaux, não é? Uma outra garçonete passa elegantemente ao meu lado, equilibrando uma bandeja com salgadinhos e canapés, e decido pôr em prática a parte final do meu plano.

— Com licença! — chamo sua atenção. — Será que pode me ceder essa bandeja? Henry Montgomery está solicitando.

Sem dar a mínima chance de ela me responder, tomo de suas mãos a bandeja com os salgadinhos, enquanto a garçonete de coque perfeito me olha, perplexa, incapaz de pronunciar qualquer palavra.

— Obrigada!

Dou meia volta e vejo Henry vindo em minha direção, vitorioso, com sua garrafa de champanhe em uma das mãos. Mostro a ele minha bandeja de salgadinhos e canapés recém-conquistada.

— Olha o que consegui! — vibro de felicidade.

— Por favor, me diga que tem um bom motivo para termos virado ladrões de champanhe e salgadinhos em eventos sociais — Henry me censura, com a cara fechada.

— Para de resmungar e vem logo!

Saio ziguezagueando as pessoas no salão com Henry em meu encalço até chegar na saída e me dirijo ao átrio do edifício. O elevador chega e nós entramos junto com mais umas cinco pessoas, que nos olham curiosas, mas não chegam a perguntar nada. Aperto no botão do último andar, esperando enquanto vamos parando nos outros andares e as outras pessoas vão saindo. Fazemos todo o trajeto em silêncio. Henry está sério como uma rocha e não me dá um único olhar até ficarmos a sós no elevador. Sua expressão é tão dura que posso ver seus músculos da mandíbula e das têmporas contraindo, e sua tensão preenche todo o local.

Chegamos ao último andar do prédio e Henry me segue para fora do elevador em silêncio. Vou em direção à porta vermelha que dá para as escadas de emergência e vejo que ele me lança um olhar desconfiado, parando debaixo da soleira.

O Grande Prêmio (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora