06 - Paris

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Acho que o mais seguro para minha própria saúde mental e para a saúde física dos demais seja passar o resto do dia bem longe de Henry. Foi muito Henry para um primeiro. Talvez se eu começasse a vê-lo apenas poucas horas, e ao longo dos dias fosse adicionando mais tempo, assim como o sedentário que começa fazendo poucos exercícios e depois está conseguindo correr vinte quilômetros, quem sabe em algum momento eu consiga passar um dia inteiro ao lado dele sem querer me jogar viva numa fogueira em chamas.

Passo a tarde em meu escritório resolvendo pendências. Reservando voos, checando reservas de hotéis, horários de encontros importantes. Se vamos a Paris no final de semana, todas as pontas têm de estar bem amarradas e tudo arrumado.

Finalmente tomo um pouco de coragem e aviso a Steve que terei de viajar e não poderemos assistir à ópera no sábado. Fiquei um pouco apreensiva, com medo de que ele ficasse chateado, mas afinal, ele não pode reclamar, pode? Ele viaja muito a trabalho, desmarcamos encontros o tempo todo por conta disso e eu sempre fui muito compreensiva. Quando dou a notícia, afinal, Steve não parece realmente se importar muito. Teríamos outras oportunidades, ele diz. Uma parte egoísta e infantil de mim queria que ele tivesse ficado muito transtornado com a notícia e dito que iria sofrer muito na minha ausência. Mas que bom que ele entendeu no final das contas, não é mesmo?

Os próximos dias se passam rapidamente à medida que tento me manter o mais ocupada possível, e logo o final de semana bate na porta.

Henry e eu embarcamos para Paris no começo da manhã. A ideia de passar um final de semana inteiro com ele, tendo overdose de Henry, me atormenta um pouco e deixa meus pés suados dentro dos sapatos. Odeio tudo que deixa meus pés suados. Ou minhas bochechas coradas, pois geralmente são coisas sobre as quais eu tenho zero controle. Ao mesmo tempo, sinto-me empolgada por voltar às viagens e sair um pouco da rotina meio pacata que é o período entre temporadas.

Empurro repetidamente o topo da caneta que tenho em mãos fazendo um click clack ritmado, a ponta aparecendo e desaparecendo do outro lado. Ao meu lado, a maquiadora da revista Sports aguarda ansiosa pela oportunidade de ir lá retirar a oleosidade do rosto de Henry e, quem sabe, acidentalmente ter o prazer de encostar sua pele na dele. Ele descansa confortavelmente em uma poltrona antiga de couro, como se fosse o rei do Sudão ou algo do tipo, enquanto um jovem rapaz de cabelos escuros lhe faz perguntas e toma notas em um pequeno bloco.

Se eu pudesse descrever Henry com uma palavra, seria esta: presença. O homem tem presença. Ele chega e parece ocupar todo o ambiente. Vejam bem: ele só está sentado em uma poltrona, como um mero mortal, certo? Errado, porque ele parece um maldito imperador romano, os braços ao longo dos braços do estofado, uma das pernas cruzada elegantemente sobre a outra, numa postura de quem governa o mundo inteiro. Como ele consegue?

Olho para a pobre menina e imagino se seria rude entregar um lencinho descartável que tenho na minha bolsa a fim de ela não babar.

— Você se acostuma depois de um tempo, sabe? — eu lhe falo.

— Hum? — ela geme em resposta, desviando o olhar para mim.

— Henry — aponto para onde ele está com seu entrevistador e uma fotógrafa, e sinto que estou me divertindo com isso.

— Ah, não... eu não... — ela se apressa em levantar e recolher suas coisas o mais rapidamente possível, as bochechas mais vermelhas que pimentão. — Eu não estava... vou terminar de organizar meu material.

Ela sai em disparada, os estojos de maquiagem quase caindo dos braços, e eu sorrio, quase malévola.

Depois que o jornalista termina com as perguntas, nos dirigimos a um miniestúdio montado no outro lado do salão para a sessão de fotos.

O Grande Prêmio (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora