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Ter Aisha com eles durante as duas primeiras semanas de férias não foi como Louis imaginou que seria. Logo ele foi atingido pela realização de que talvez não tivesse mais um espaço na vida de Harry como o próprio trio achava que tinha. As piadas internas, os sorrisos brilhantes e a confidencialidade agora pareciam uma coisa mais do cacheado com a garota do que com seu amigo de infância.

E, okay, Tomlinson entendia. Claro que ele entendia. A ômega foi a provável pessoa mais próxima de Styles por mais de um ano, depois de um momento complicado que provavelmente o deixou vulnerável, e era natural que eles tivessem desenvolvido um forte relacionamento. Um que não exatamente tinha espaço para a presença do beta, por mais que eles tentassem. E, se Louis fosse honesto consigo mesmo, era angustiante. Nenhum dos três falava sobre, mas o mais velho podia sentir em seu âmago a pequena tensão como uma presença física avulsa em qualquer lugar que fossem juntos. Não ajudava também a família de Harry o olhando atravessado a cada vez em que aparecia à porta da enorme casa deles —mansão, a bem da verdade. Mas Anne preferia que não fosse chamada assim para não tirar a 'atmosfera familiar' que aquele 'lar' supostamente carregava. Sim, este é o momento em que você imagina Louis revirando tanto seus olhos que é perigoso nunca mais voltar ao normal.

De qualquer forma, a situação ficou tão incômoda que, quando o momento do casal partir para a casa dos pais de Aisha chegou, mais do que tristeza de se separar de seu melhor amigo de infância e primeira paixão mais uma vez, Tomlinson sentiu alívio. Sim, alívio, pois enquanto Styles estava distante em um lugar desconhecido por um motivo fora de seu controle, era mais fácil manter a ilusão de que pertenciam ao lado um do outro, mesmo que da forma mais fraterna possível. Mas perceber como isso afetou o relacionamento entre os dois, como estavam naturalmente se afastando e deixando de se encaixar... Isso destruía Louis como nada no mundo.

E o afastamento se estendeu, pois, mesmo que tivessem trocado números e outras formas de contato, cada vez mais a quantidade de assunto diminuía proporcionalmente à medida que Harry ficava cada vez mais ocupado com sua vida a quilômetros e quilômetros de distância.

Quando o inverno chegou, o cacheado não veio como havia prometido, pois seus pais e ele viajaram para esquiar com Aisha e a família dela.

Isso não era um problema, definitivamente não. Mas seria mentira dizer que não machucou quando Styles só lembrou-se de lhe desejar feliz aniversário e feliz Natal no dia 29 de Dezembro. Não que Louis achasse que ele possuía algum tipo de obrigação quanto a isso, claro que não. Ele nunca cobraria nada de seu amigo de infância. Era só que ele imaginou que teria ao menos uma única pessoa que se importaria o bastante para não lhe parabenizar com sorrisos falsos durante uma pequena reunião com alguns membros da família que seus pais organizaram apenas por aparências.

Mas tudo bem, passou e Tomlinson não podia e nem ia ficar chateado com isso para sempre. Principalmente quando os diálogos entre os dois eram tão escassos e ele não queria gastá-los chateando Harry com sua carência e paranoia excessivas.

Então, no verão seguinte, quando Louis finalmente terminou o Ensino Médio, Styles também não veio. No inverno, quando completou seus 18 anos, ele também não estava lá.

Bem, esta última afirmação não era uma exata certeza, uma vez que em algum ponto do Outono, o mais velho finalmente desistiu de insistir e eles pararam de se falar. Não que tivesse havido algum esforço da outra parte para que continuassem, de qualquer forma. A questão era que New Verona não era a maior das cidades e boatos se espalhavam com a velocidade de três guepardos. O assunto do Natal daquele ano? Ambos os filhos dos Styles estavam em casa para as festas.

E Louis tentou. Ele tentou muito se convencer de que, sim, acontece. Pessoas saem das vidas umas das outras o tempo inteiro e ninguém era obrigado a ficar preso a ele para sempre apenas porque ele era um beta solitário de merda que simplesmente perdeu em algum ponto do caminho a sua capacidade de fazer amizades que durassem mais do que uma semana ou algumas festas.

Entretanto, os sentimentos que ele engolia eram cacos de vidro e ele sabia que era jovem demais para sangrar tanto por dentro, mas... O que mais ele poderia fazer? Ele era inútil. Ele não fazia ideia do que fazer com sua vida além de ficar chapado e escrever músicas sobre sexo e ficar triste. Era idiota, era patético, era o que ele sabia ser e fazer.

Ele só queria que aquilo acabasse.

Suspirou e passou os olhos pela mensagem que recebera do dono de um bar local pedindo que tocasse lá no fim de semana. Não seria recompensado com uma quantia tão grande de dinheiro, mas era melhor do que nada já que seus pais se recusavam a lhe ajudar financeiramente desde que se tornara um "vagabundo" e que, aparentemente, teve a "sorte" de eles deixarem que continuasse morando sob o teto deles mesmo que fosse um "completo inútil". Ele os entendia, não tinha como entender. Se recusou a seguir com os negócios da família, era gay e beta —o que significava nada de herdeiros— e não se importava se morreria no dia seguinte ou não. Era impressionante que ainda lhe dirigissem a palavra, se ele fosse honesto.

Bebericou seu chá e suspirou enquanto, na mesa ao seu lado, cochichos que não pareciam possuir intenção alguma de serem realmente baixos atraíram sua atenção por motivos óbvios.

"Você ouviu sobre o menino dos Styles? Ao que parece está de volta." Uma das vozes disse. "Estão dizendo que ele se envolveu com um ômega macho no colégio interno e eles estão esperando um filho, ou algo assim, e por isso ele foi expulso."

"Sério? Porque, pelo que me disseram, ele descobriu que a namorada de anos traia ele com outra garota e ficou explosivo e acabou agredindo as duas. Por isso que foi expulso e voltou." Foi a resposta.

Louis não escondeu seu rosto retorcido em desagrado. O que diabos aquelas pessoas ganhavam espalhando boatos ridículos como aqueles? Perdera a conta de quantas vezes teve seu próprio nome e os de suas irmãs preenchendo aquelas más bocas. Era ridículo, e repugnante e ele odiava aquela cidade e cada um presente nela.

Levantou-se impaciente e jogou para o fundo mais sombrio de sua mente a suposta informação de que Harry estava de volta. Ele definitivamente não se importava. Não devia se importar.

Mas enquanto depositava o copo descartável vazio no lixo e apertava a alça da case de seu violão, não pôde deixar de se perguntar: como era Harry Styles aos seus dezesseis anos? Os genes de alfa já teriam sido capazes de modificar sua aparência suave de traços delicados? Ele teria cabelos curtos como quando se viram pela última vez? Seus olhos ainda teriam a mesma transparência?

Droga. Ele realmente, realmente esperava não ter de descobrir as respostas para suas perguntas. Não achava que tinha barreiras emocionais suficientes para isso.

heaven in hiding // l.s. (a/b/o)Onde histórias criam vida. Descubra agora