"Oi, Lou." Ele disse baixo para um Louis que mal ouviu, encarando a imagem de Harry ainda com as características joviais que se esperam de um garoto de dezesseis anos, no entanto, com praticamente a mesma altura de Tomlinson e os ombros razoavelmente mais largos do que o beta se lembrava.

A primeira reação do mais velho —a que se passou por sua mente, ao menos— foi voltar para dentro e fingir que não tinha visto Styles, ou qualquer besteira sem sentido do tipo. Mas ele não era tão forte e se pegou olhando para o cacheado com um ar meio debochado, meio suave, quase divertido, não fosse pelo ardor na sua garganta que lhe avisava que aquilo não acabaria bem. Tratando-se de um futuro próximo ou não.

Ou talvez fosse apenas a fumaça do cigarro queimando suas vias aéreas, era difícil dizer.

Com uma longa tragada, virou-se parcialmente na direção daquele que costumava ser seu amigo de infância e olhou-o de cima a baixo, analisando-o da forma como a péssima iluminação permitia: traços suaves, cabelos mais longos desde a última vez, roupas de garoto que ainda é vestido pela mãe, que incluíam uma camiseta apertada demais com uma piada matemática que Louis sequer entendia e um par de tênis que fazia Harry parecer ainda ter uns dez ou onze anos e ficar vermelho de irritação sempre que Tomlinson ria de seu jeito meio nerd, meio mauricinho de se apresentar. Era nostálgico.

Além disso, ele apertava entre seus dedos uma blusa de moletom em nervosismo óbvio enquanto se aproximava ainda mais em passos hesitantes.

Ele simplesmente não se encaixava no cenário e no contexto em que estava, principalmente por estar frente a frente do Beta depois de anos de silêncio.

Com toda a acidez disfarçada por um manto de diversão que Louis conseguiu reunir, ele soltou roucamente com suas palavras acompanhadas por fracas nuvens de fumaça:

"Não é hora de criança estar na cama? Also..." Ergueu um pouco o queixo e coçou o mesmo antes de desviar o olhar para a parede à sua frente. O movimento pareceu muito mais casual do que se sentira ao executá-lo. Pontos pra ele. "Eu me chamo Louis, e agradeço muito se me chamar pelo meu nome na próxima. Bem, se houver uma."

Harry parecia não querer demonstrar que estava ferido enquanto demorava muito mais que o necessário para responder. Louis apenas tragou de novo e continuou:

"O que faz aqui?"

Observou o Alfa negar com a cabeça algumas vezes antes de responder. "Minha irmã comentou que você às vezes tocava aqui. Acho que fiquei curioso."

Tomlinson o encarou por alguns instantes antes de se pronunciar mais uma vez:

"Em New Verona."

"Me meti em problemas."

O mais velho ergueu as sobrancelhas e riu seca e brevemente, jogando a bituca de cigarro no chão e pisando em cima. "Nunca te vi como alguém que fosse acabar virando um garoto-problema."

"Não é isso, é que eu-"

"Meu intervalo acabou. Obrigado pelo apoio, não se esqueça de pagar pelo covert quando for fechar sua conta, e blá-blá-blá." Andou em direção à porta e parou. "Ah, e se eu fosse você, tomaria muito cuidado por aqui. Você é Alfa mas não é feito de ferro e muito menos tem preparo pra lidar com o tipo de gente que às vezes tem por esse lado da cidade. Ainda mais com a sua cara de riquinho e suas roupas de otário."

A expressão de ofensa no rosto de Styles foi impagável, principalmente porque Louis realmente não falou nada demais. Mas foi divertido de assistir.

"Bem, não é como se você não fosse como eu."

"As coisas são um pouquinho diferentes quando você é a ovelha negra da família."

"Então acho que vou me virar bem, já que assumi esse posto também e-"

Louis riu, mais sincero dessa vez. "Aw, o filho prodígio, o Alfa perfeito descoberto cedo, o varão da família, está passando por problemas no paraíso?" De repente ele queria acender outro cigarro. Talvez a carteira inteira de uma vez. "Lobinho, é só você respirar perto de uma ômega de uma família influente que você ganha eles de novo."

"Lobinho?" Styles repetiu com um torcer de nariz. "Olha, Louis, eu vim aqui numa boa, querendo me reaproximar, ou sei lá, e-"

"Oh! Adorável da sua parte tentar uma reaproximação quando você 'tá na merda, muito fofo mesmo. Os amiguinhos do colégio interno não te quiseram mais porque você se fodeu? E a minha substituta? Cansou de te fazer de boneco Ken e brincar de casinha?" O Beta rebateu já novamente encarando o mais novo de frente.

"Você é ridículo. Você é completamente ridículo."

"Ridículo foi eu ficar sozinho nessa porra dessa cidade passando pela porra do inferno por algo que eu não posso controlar! Você sabe o que sozinho significa, Harry?"

"Não, mas pelo visto você sabe muito bem já que está olhando só pra própria bunda sem nem dar abertura pra-"

"Abertura pra quê?! Pra você entrar de novo na minha vida e eu ter que te perder de novo quando você achar outra pessoa melhor? Não, obrigado, eu 'tô amando não ter nada nem ninguém. Evita muita merda desnecessária." Disse com a voz um tanto quanto falha, resultado da forma como sua garganta se apertava cada vez mais. Deus, como ele detestava aquela sensação. Às vezes queria poder excluir sua capacidade de sentir da face da Terra.

"Louis..."

"Não. Você sabe que você fez merda e eu honestamente não tô com um pingo de energia pra reconciliação e qualquer palhaçada que você inventou nessa sua cabeça. O que você pensou que ia acontecer? Que você chegaria aqui, daria um sorriso, me chamaria de 'Lou' e, pronto, amizade restaurada? Até pro seu nível de otimismo absurdo isso soa patético, pelo amor de Deus."

"Eu não-"

"Não. Eu não quero você nem a dez metros de mim. Se você me ver na rua, contorna o quarteirão ou ao menos tenha a decência de atravessar a rua. Se você entrar em um lugar e eu estiver lá, eu acho bom que você saia antes que eu perceba você. Eu não quero te ver, não quero te ouvir, e não quero ser a porra do seu estepe. Tudo estava muito melhor quando você estava fingindo que eu não existia, e eu quero que continue assim." A cada palavra era como se alguém aumentasse a intensidade de uma chama aos seus pés e isso fizesse com que os líquidos presentes em seu corpo começassem a ferver. Ele sentia que estava suando, tinha certeza de que estava vermelho.

No rosto de Harry, que estava retorcido em chateação, uma modificação ilegível ocorreu. Era quase de surpresa, mas não era fácil diferenciar uma vez que o mais velho já não sabia mais as mudanças nas expressões dele de cor ou qualquer outra coisa que se referisse a ele no que tangia os últimos três anos. Além disso, Louis estava muito focado na própria raiva para pensar racionalmente ou prestar atenção no que o Alfa à sua frente tinha a dizer quando chamou por seu nome novamente.

Tomlinson era como uma tempestade quando deixou ele para trás e adentrou de novo o bar, batendo a porta com força e buscando cegamente um rumo, ouvindo os sons de coisas se quebrando e sentindo seus braços sendo segurados, no entanto vendo tudo muito distorcido, um rosto ou outro, nenhum conhecido, luzes, um pouco de sangue. Depois disso, só escuridão.

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⏰ Última atualização: Sep 17, 2018 ⏰

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heaven in hiding // l.s. (a/b/o)Onde histórias criam vida. Descubra agora