➳Capitulo 3 Part. II

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A primeira coisa de que tive consciência foi a constante sensação de dor em minha cabeça, que parecia ter aumentado. Mexi a cabeça devagar, com movimentos mínimos, e ouvi o arranhar suave de atadura raspando em algodão. Tentei levantar um braço para investigar, mas me detive ao sentir o puxão doloroso de algo enfiado em meu antebraço. Parecia que eu estava ligado a uma máquina. Um bipe persistente vindo de um equipamento atrás de mim confirmava que eu devia estar conectada a algum dispositivo de monitoramento, assim como ao soro. Era óbvio que eu me encontrava em um hospital, mas por que não conseguia ver nada?

Pisquei várias vezes. Era estranho, mas minhas pálpebras pareciam ter dificuldade em responder. De todo modo, isso não fez nenhuma diferença, tudo ainda estava na escuridão. Por que eu não conseguia ver? O que acontecera comigo? Senti uma poderosa onda de pânico começar a me envolver. Por que não me lembrava? Qual era o problema com a minha cabeça- e com meus olhos? Esforcei-me para recordar. Tinha vislumbres fugazes do dia anterior.

Podia me lembrar de ter visitado minha antiga casa, e em seguida veio a imagem acelerada de um restaurante. Depois eu voltara para o hotel. Tinha tomado um táxi? Não conseguia lembrar.

Então chegara ao quarto... e depois... nada. Havia um abismo enorme no ponto em que deveria estar o restante de minhas memórias.

Lutei para me mover, para me sentar, mesmo com todos os fios e tubos presos a mim. O ruído dessa agitação inútil alertou alguém no quarto.

- Ora, olá. Bem-vindo de volta, Louis. É bom ver você acordado. Deixe-me chamar o sua mãe.

De repente veio o som de uma porta se abrindo e passos se afastando depressa, ecoando por um corredor. Eu me dei conta de que estava sozinha antes mesmo que pudesse ordenar a meus lábios entorpecidos que formulassem uma pergunta.

Será que ela tinha ido telefonar para minha mãe? Alguém já informara a ela que eu estava no hospital? O medo de como ela teria reagido àquela notícia percorreu meu corpo. Ela estava doente demais para lidar com outra preocupação nesse momento. Eu me perguntei se eles poderiam trazer o telefone até minha cama. Talvez apenas ouvir minha voz fosse suficiente para tranquilizá-la sobre minha saúde. Mas como eu poderia me acalmar, e também a ela, quando nem eu mesmo sabia qual era a situação? Deixei escapar um gemido zangado de pura e impotente frustração.

- Ei, ei... nada disso. Tudo vai ficar bem.

Passos rápidos e firmes se aproximaram da cama. Como isso era possível?

Comecei a levantar a cabeça do travesseiro, ignorando quaisquer agonias que isso pudesse provocar. De todo modo, minha cabeça já girava em choque.

- Mãe? Mãe, é você?

Uma mão quente, familiar e áspera envolveu a minha, que repousava nos rígidos lençóis do hospital.

- É claro que sou eu, meu amor.

Seu hálito aqueceu meu rosto quando ela se debruçou para me beijar.

- Ah, mamãe... - comecei, e então, embora houvesse mil coisas que eu pudesse dizer, devesse dizer, nenhuma delas saiu, pois de repente estava me desmanchando em lágrimas, num choro ruidoso.

- Pronto, pronto, pronto - murmurou minha mãe, aflita, dando tapinhas na minha mão.

Eu a conhecia bem o suficiente para, mesmo sem enxergá-la, saber que expressão estaria em seu rosto. Ela sempre ficara perturbado com minhas lágrimas, fosse quando eu era criança ou em meus turbulentos anos de adolescente. Sabendo como era difícil para ela lidar com elas, fiz um esforço verdadeiro para conter o choro.

Uma Curva no Tempo ➳ L.S (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora