sete

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Antes de decidir cair dura de estresse e te deixar sozinho com uma pai alcoólatra, sua mãe lhe disse que quando realmente se viveu algo, a mente vira pedra, e lá pode-se gravar a memória.

Eu nunca a conheci, mas por alguma razão, tenho uma visão muito específica da minha sogra falecida. Você nunca me falou muito dela, mas a vejo mais clara do que posso lembrar os contornos do meu próprio corpo; uma mulher de corpo magro, selvagens olhos negros e cabelo castanho chocolate emaranhado descendo até as escápulas. Posso imaginá-la com o seu pequeno ser de nove anos entre os braços, cantando uma música baixinha. Eu gosto de passar a imagem de um pequeno você na minha cabeça. Uma criatura de luz e pureza, antes dos personagens em seu tortuoso caminho — os quais você quase nunca mencionou — te corromperem.

Acho que não vivi você.

Vivi com você, e por você. Mas não vivi você.

Por que a memória do seu cabelo entre meus dedos não me parece tão real, e seus lábios na minha bochecha, fazendo um estalo seguidamente por tantos e tantos dias se esvaem da minha memória.

Não vivi você.

Mas eu me contento com menos. Na hora, achei estar vivendo, e isso é bom. É suficiente. Não quero admitir que quero voltar, nem que quero parar de respirar toda vez que não consigo me lembrar claramente de algo sobre você. Não quero admitir que não sou forte o suficiente para seguir em frente, nem para acreditar em um futuro otimista com alguém melhor que você. Porque, independentemente do quão horrível para mim você fosse, e é, não há ninguém melhor, nem nunca haverá.

BLACK BOX {yoonkook}Onde histórias criam vida. Descubra agora