onze

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Eu morri bem ali, naquele carro, naquela estrada, naquele escuro, naquele segundo, eu morri junto ao som da bala de espalhando pela montanha, eu morri imediatamente e repentinamente, eu morri, eu morri.

Minha vida, com dizem os clichês, passou em frente aos meus olhos. Não, a sua vida. A vida que vivi, mas que pertenceu a você. O que vivi, mas vivi por você, o que vivi, mas vivi em você, o que vivi, mas vivi entre seus braços. Tanto calor e tanta frieza e momentos de prazer insanos e tristezas tamanhas e meu coração quebrou e se refez tantas vezes naquele segundo.

Meu deus, só de descrever já sinto todos os meus órgãos implodindo. Aquele segundo durou quinhentos anos, outros quinhentos, mais quinhentos. O tempo se recusava a passar. Paralisado, eu implorava. Não sei pelo que, não sei para quem, mas implorava.

Então, a porta se abriu. Morri pela segunda vez, só pelo susto. E morri uma terceira, de alívio.

Porque lá estava você, o anjo prateado e fluorescente que eu conhecia, o ser brilhante e pequeno, com sangue denso na camisa e a expressão severa de um general.

— Estamos indo para um lugar. Não diga nada.

Foi o que aconteceu. Eu não disse nada. Você, as mãos agarradas nos volante tão forte que as juntas estavam da cor de marfim, uma gota de suor insistente pendendo da bochecha, deu ré e pegou uma entrada discreta. O carro deslizou para dentro das árvores e eu fiquei ali, morto, morto, morto.

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⏰ Última atualização: Apr 24, 2019 ⏰

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