Capítulo 1

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PARTE I: BARROQUI

           

Aquele era um território que definitivamente valia a pena visitar mais de uma vez na vida. A grama era mais viva, as árvores misteriosas dentro da floresta cheia de cores e sombras relembravam de toda a imponência por trás da natureza que aquele local guardava, apesar de ninguém realmente saber em sua totalidade o quão poderosa ela era. Música vinha de algum lugar perto das casas a beira da floresta, casas que eram feitas das mais diversas cores, mas seguindo de certa forma um padrão com o mesmo telhado de telhas de barro para a maioria delas. Existiam também prédios naquela cidade com uma arquitetura rica em detalhes e com grandes passagens em formatos de arco, mas eles eram muito mais próximos ao centro tumultuado do local onde se encontrava o maior centro de mercadores de toda a região, próximo ao vasto litoral. Não era atoa que a família real morava em um dos locais mais prósperos do condado.

O castelo era exuberante, e a simples iluminação do sol durante seu ciclo deixava as pedras azuis da construção mais destacadas com um leve brilho. Ele ficava afastado daquela agitação do centro da cidade, assim como aquelas casas coloridas cujo o príncipe encarava ao longe, da sacada larga de seus aposentos que dava vista para a grande floresta de sonhos e pesadelos. A região montanhosa acinzentada servia como uma muralha para a parte de trás do castelo, onde o reino era praticamente delimitado. Diferentemente de outros reinos, àquele era movido à arte. A música, o teatro, a pintura, a dança, a escrita e as esculturas eram tão importantes quanto quaisquer outras mercadorias ali presentes, o que certamente era um diferencial tendo em vista o histórico de todos os reinados. Todas as obras, mesmo àquelas feitas por mãos da pelebe, eram abençoadas com certa magia, tornando-as fascinantes sendo que algumas chegavam a ser mais valiosas que ouro. Mas de todos os bens que o rico condado oferecia, a paz era celebrada como uma das maiores conquistas dali.

O príncipe notava isso de maneira clara quando estava disfarçado entre os plebeus, passeando com seus amigos pela cidade. Aquela vivência do dia-a-dia sem a preocupação de viver em um reino que poderia desmoronar a qualquer momento, fazendo planos para os dias seguintes sem nem cogitar o fato de que a morte pode estar à espreita.

Infelizmente, isso não iria durar por muito tempo.

O barulho da madeira da porta ecoando pelo quarto afastou o homem de seus devaneios, obrigando-o a se recompor dos pensamentos sombrios que logo surgiram manchando aquela vista colorida e viva com tons de caos e destruição. Caminhar até o outro lado do quarto se tornou difícil enquanto tantos pensamentos lhe atingiam ao mesmo momento.

—Sim? – O príncipe questionou, os olhos verdes demonstrando certo espanto ao constatar que não era um criado parado ali, esperando-o por trás da grande porta dupla. – Henry, o que foi?

O homem a sua frente devia pelo menos ter uns dez centímetros a mais que o mesmo, e os olhos dele brilhavam em um tom de verde diferenciado dos de Harry. Os cabelos ondulados cor de chocolate já tinham sido maiores um dia, antes de que ele fosse iniciado no treinamento para controlar sua impressionante força física e sua magia, que se manifestou prematuramente.

Magia que podia pelo menos destruir uma cidade inteira se não fosse devidamente controlada.

—Preciso da sua ajuda.- ele falou em um tom ameno, apesar da voz parecer mais cansada do que o normal.

À túnica vermelha leve e esvoaçante a qual ele habitualmente usava não fazia parte do visual carregado do rei Henrique no momento. Sua mão percorreu os cabelos curtos, contrastando os anéis prateados nos tons escuros de marrom e dourado do final da tarde, na pouca iluminação do local. O príncipe deu espaço para ele entrar, observando atentamente o uniforme de treinamento do mesmo. As vestes de couro escuras pareciam absorver toda a luz ao redor, o que destacava mais ainda a lâmina da espada revestida de inscrições antigas, a qual o irmão carregava pendurada na cintura.

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