Capítulo 2

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Já passavam das onze horas quando a melodia do piano preencheu o quarto de cores claras sombreado pela luz das velas. Era uma melodia tensa e melancólica que funcionava como uma conversa muda do nobre com o piano, em que os dedos finos e habilidosos da alteza travavam notas que contavam todas as preocupações que o assombravam naqueles dias. Haviam anos desde que ele abandonou a musica como passatempo, mas o garoto nunca superou completamente o fato de que ele tinha agora um reino completamente instável para tomar conta, muito disso devido ao seu pai.

O piano era um dos seus únicos meios de fuga daquela realidade que rapidamente parecia envelhecer todos ao redor. Seus olhos azuis como dos irmãos já tinham rugas contornando-os, o sorriso terno que ela carregava quando mais novo se perdeu nas feições frias de um guerreiro. Ele não era educado agora apenas para governar, seu dever também era aprender a liderar um exército se fosse necessário.

Apesar de acreditar que a música era capaz de acalma-lo, esse era um segredo que ele preferia manter o mais restrito o possível. O piano era antigo, apesar de estar impecável devido aos trabalhos dos serviçais, e era uma peça um tanto quanto deslocada no seu cômodo. Como quase ninguém se atrevia a ir tão longe nos aposentos reais, aquele era ainda um pequeno segredo que poucos sabiam sobre.

—Lottie, eu sei que você está escondida atrás da minha porta – disse o homem, com um tom ameno que ele usava raramente, geralmente para se referir a irmã.

A garota arregalou os olhos, e suas feições demonstraram um pouco de espanto. Por mais que ela sempre tentasse se esconder, o irmão conseguia sentir a presença da jovem curiosa pela música.

—Eu não queria atrapalhar, mas preciso dar um recado.

Abrindo totalmente a porta, ela entrou para dentro do quarto, caminhando vagarosamente pelo cômodo. Aquele pequeno canto do castelo era um refúgio de seu irmão, as paredes todas cobertas de espadas, mapas de batalha, pinturas sobre guerras e livros didáticos e técnicos. Era um local que respirava guerra, mas por mais que o menino tentasse negar sua paixão pela música, a irmã notava como seus olhos brilhavam ao admirar uma melodia finalizada.

—Você quase nunca atrapalha, irmã – Louis disse em uma tentativa breve de ser agradável, apesar do pequeno sorriso que se formou em seu rosto demonstrar alívio por não ter sido o pai a se apresentar por trás das portas. – Diga.

—Os Styles chegaram.

Louis William Tomlinson cruzou os braços, uma proteção contra qualquer demonstração de carinho que ele acabara de expressar. Lottie sabia que essa postura militar do garoto se dava pela influência do pai, cujo príncipe tinha como um modelo a ser seguido a risca. A garota se sentia enjoada só de pensar na maneira como seu pai era capaz de condenar a pratica das artes, principalmente se viesse de um garoto, e nem queria imaginar pelo que Lou teria passado caso fosse seu pai ao abrir aquela porta. O rei dizia durante toda a infância dos irmãos que arte só servia ainda naquela família para relembrar a todos que; apesar de Louis ser um futuro comandante, monarca e líder, ele continuava a ser fraco enquanto tivesse afeição por música.

Depois disso, se tornaram raríssimos os momentos que qualquer um da família apreciasse um passatempo como aquele. Percebendo o silêncio do homem, que apenas se levantara para preparar seu traje, a princesa se aproximou do piano cobrindo-o com o tecido que estava jogado por cima da peça a tanto tempo. Se Louis sequer se desse o trabalho de retirar o tecido grosso de cima do instrumento já seria alarmante, o fato dele estar tocando.... Seu irmão não estava nada bem.

—Como foi a tarde com o Zayn?

Uma pergunta inocente, mas que foi suficiente para contorcer as feições do garoto.

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