E estava eu, ali, sozinho, envolvido na solidão e no silêncio ensurdecedor das ruas mais paradas e quietas da cidade. Fiquei parado, tentei refazer uma síntese do acontecido - pontapé; mãos; carro; solidão; abandono. Fujo dos pensamentos, tentando encarar o presente, a infeliz realidade que tanto temia apenas por atravessar o triste olhar dos solitários que passavam pela rua da minha, antiga, casa. Mesmo os meus pais sendo brutos, egoístas, sempre fui fiel, simplesmente, por ter ruído um sapato e um galho, tive este destino. PORQUÊ? PORQUÊ QUE O SER HUMANO, NÃO PENSA, QUE OS CÃES TÊM SENTIMENTOS, TAIS COMO FASES, NECESSIDADES. Começo a correr e dou conta que fui contra a algo... Patinho para trás e encaro um Cão, bem grande, forte e peludo. A minha cauda desce, colocando-se no meio das minhas pernas, enquanto meu pelo arrepia-se, por conta do medo. - Bem-vindo... Abandonado... - o uivar dele era assustador e arrepiava-me. O timbre grave que escapava da sua boca fazia qualquer um duvidar das intenções do bicho, aparentemente, mau...? - Hum... Obrigado... - gaguejo. - Não tenhas medo... Segue-me patudo. Não iremos para muito longe, apenas escaparemos da fome. - foi um trocadilho em tanto. Nunca gostei deste tipo de frases. Fazia o meu cérebro dar um nó e, a não ser que me explicassem, perdia-me no sentido da 4º palavra. Obedecendo às suas ordens, sigo-o, parando quando ele faz o mesmo. Olho à minha volta, estava à beira de um caixote do lixo... nojento. Fedia a fezes e a peixe estragado. Havia resquícios de bichos mortos. - Aqui será a tua fonte de alimento. - o quê? Fezes? Ossos duros estragados misturados com um rato apodrecido? Assenti porque, depois de olhar à minha volta, tentar escapar do fedido lixo, não encontrei outra saída a não ser morrer à fome. - Agora não tens mais um teto. Esta é a minha matilha, todos estes pobres que mendigam comida e teto. Tens aqui ajuda ou tens ali - ladra referindo-se ao além - uma vida autónoma. Qual preferes, cão? Eu não sabia, mas a minha mente impulsionaram as minhas cordas vocais: - Acho que os meus donos vão se arrepender, por tanto, fico por minha conta - ouvi um riso pelas costas do peludo, sério, à minha frente. - Só me resta desejar boa sorte. - as palavras dele foram desanimadoras. Não o sentido em sim, mas o timbre dele. Ele estava desconsolado e desconfortável, o que me deixou angustiado.Vejo o cão a desaparecer na escuridão, misturando-se ao borrão dos outros que escavavam o lixo. Eu estava com sono, mas, onde eu vou dormir, onde vou me refugiar nas tempestades mais frias do inverno, do calor mais escaldante do verão? Onde arranjo um ser humano bom, que me ofereça carinho, água, comida e teto? Onde está o meu sofá, a minha cama? Agora tudo foi por água abaixo, tudo porque duas pessoas, frias e crueis, amargas e falsas, descontaram a sua personalidade em mim. Agora, só resta esperar a morte. Deito-me no meio de umas folhas secas, enquanto o vento arrepia-me, deixa-me trêmulo, cheio de frio, enjoado, transbordando lágrimas de dor e de saudade, de medo. Agora, como seria a minha vida? Acabará com um final feliz e desejado, por qualquer animal, ou acabará com um final triste e cruel, doloroso e frio. Encolho-me, para acolher todo o calor oferecido pelo meu corpo, e pelo meu pelo, por enquanto, fofo e limpo, espero o transe dos sonhos e pesadelos com esperança de acordar amanhã com o barulho da taça de comida a ser remexida.
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Destino d'um Cão Abandonado (EM REVISÃO)
Short Storybaseado numa história verídica | Will apenas não sabe para onde vai, está perdido, abandonado e a sua única companhia é a sua sombra que aparece e desaparece ao sabor que passa pelos candeeiros da rua. Ele sentia que fora traído. Mais um cão entre...