Acordo, sonolento, com meu estômago implorando por comida, despertando meu lado esfomeado.
Levanto-me e espreguiço-me, bocejando.
Eu estava um pouco afastado do caixote do lixo, mas havia marcado "território" pelo caminho, até ao meu novo ninho.
Vou cheirando até encontrar o caixote do lixo, e outros muitos cães à sua volta.
Vou até lá e vejo um pouco de carne, corro até ela e devoro-a com toda a força e rapidez, num movimento ágil e agitado.
Mas o meu estômago implorava por mais, implorava para que eu o aconchega-se com um pouco de comida.
Procuro mais comida, avistando um pedaço de batatas.
Flashback On
Pai — Anda, anda!
Mãe: Corre atrás do pai — fala com um sorriso reconfortante no rosto.
Corro atrás do meu pai, alcançando-o e saltando até ele.
Pai: Tolo! Amo-te pequenote! — diz e beija minha boca e eu lambo sua face.
Mãe: Toma aqui estas batatinhas. — Ofereceu 3 batatas.
Quando coloquei um coto da batata na boca, fiquei rendido ao sabor salgado e viciante da batata.
Flashback Off
Vou até ao pedaço miserável de batatas, comendo uma a uma, parando na terceira batata, pois já não havia mais.
Procurei mais e mais comida, mas tive um resultado negativo.
Deito-me perto do caixote quando ouço os passos de algum humano se aproximarem de mim.
Entro em transe, com um medo inexplicável, sendo que não me mexi.
Ganho coragem e encaro o ser à minha frente.
Humano: Olá patudo! — disse acariciando minha cabeça.
Aquele ser, estava prestes a levar-me para sua casa, quando avistou outro cão, acho que era um caniche.
Ela larga-me e corre até ao miserável cão, pegando nele e entrando num carro bem depressa.
Foi como levar uma facada no coração, um pontapé na barriga, e uma chicotada na cara.
Eu sentia-me sem chão. Perdi o teto, e agora o chão.
A dor que eu senti, a dor de ser renegado, tudo pelo o aspeto.
A dor de ser trocado facilmente.
A dor de ser encarado, só pela imagem.
A dor de ser trocado, por um cão que, que estava ali, e que não estava nem sequer magro.
A dor de ser enganado.
A dor de ser desprezado.
Observei o a mulher partir, com o cão a ladrar.
Uma lágrima solitária desce, acumulando-se no meu pelo.
Corro, corro, corro, corro em direção ao meu ninho. Um ninho de folhas velhas, folhas pisadas.
Ao chegar ao ninho.
Encolhi-me, ladrei, chorei, senti...
Senti a dor de todos os outros cães, a dor psicológica, a que forma feridas, feridas que não cicatrizam, uma ferida aberta.
A cede tomou conta do meu psicológico.
Levanto-me e vou ao encontro d'água.
Encontro e bebo, como não ouvesse um amanha.
E realmente, será que haverá um amanhã?
😢
Qual era o meu destino? Morrer cruelmente, com o estômago a borbulhar enquanto implora por comida, ou eu num lar, aconchegado pelo calor de uma lareira, com uma mão no meu pelo, fazendo-me mimos?
Eu tinha que partir, partir daquele sítio para outro, à procura de um humano que me acolhe-se. Tinha que sair do desprezo e do fundo do poço.
"Tinha que saí porque a opção é correr e não esperar!"
Com dificuldade, encaro a realidade, colocando-me pronto para enfrentar mais dor.
Vou andando por quelhos e becos, arriscando a vida às vezes ao atravessar a estrada iluminada e movimentada por vários carros, acho que era uma autoestrada.
Quase fui atropelado por um camião e por um carro, mas escapei da morte.
Fui até um restaurante ou casa, não sei o que era aquilo.
Procuro água e bebo e deito-me no meio das silvas irritantes, folhas secas apanhando a brisa no meu corpo.
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Destino d'um Cão Abandonado (EM REVISÃO)
Short Storybaseado numa história verídica | Will apenas não sabe para onde vai, está perdido, abandonado e a sua única companhia é a sua sombra que aparece e desaparece ao sabor que passa pelos candeeiros da rua. Ele sentia que fora traído. Mais um cão entre...