Capítulo 2

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Acordo, sonolento, com meu estômago implorando por comida, despertando meu lado esfomeado.

Levanto-me e espreguiço-me, bocejando.

Eu estava um pouco afastado do caixote do lixo, mas havia marcado "território" pelo caminho, até ao meu novo ninho.

Vou cheirando até encontrar o caixote do lixo, e outros muitos cães à sua volta.

Vou até lá e vejo um pouco de carne, corro até ela e devoro-a com toda a força e rapidez, num movimento ágil e agitado.

Mas o meu estômago implorava por mais, implorava para que eu o aconchega-se com um pouco de comida.

Procuro mais comida, avistando um pedaço de batatas.

Flashback On

Pai — Anda, anda!

Mãe: Corre atrás do pai — fala com um sorriso reconfortante no rosto.

Corro atrás do meu pai, alcançando-o e saltando até ele.

Pai: Tolo! Amo-te pequenote! — diz e beija minha boca e eu lambo sua face.

Mãe: Toma aqui estas batatinhas. — Ofereceu 3 batatas.

Quando coloquei um coto da batata na boca, fiquei rendido ao sabor salgado e viciante da batata.

Flashback Off

Vou até ao pedaço miserável de batatas, comendo uma a uma, parando na terceira batata, pois já não havia mais.

Procurei mais e mais comida, mas tive um resultado negativo.

Deito-me perto do caixote quando ouço os passos de algum humano se aproximarem de mim.

Entro em transe, com um medo inexplicável, sendo que não me mexi.

Ganho coragem e encaro o ser à minha frente.

Humano: Olá patudo! — disse acariciando minha cabeça.

Aquele ser, estava prestes a levar-me para sua casa, quando avistou outro cão, acho que era um caniche.

Ela larga-me e corre até ao miserável cão, pegando nele e entrando num carro bem depressa.

Foi como levar uma facada no coração, um pontapé na barriga, e uma chicotada na cara.

Eu sentia-me sem chão. Perdi o teto, e agora o chão.

A dor que eu senti, a dor de ser renegado, tudo pelo o aspeto.

A dor de ser trocado facilmente.

A dor de ser encarado, só pela imagem.

A dor de ser trocado, por um cão que, que estava ali, e que não estava nem sequer magro.

A dor de ser enganado.

A dor de ser desprezado.

Observei o a mulher partir, com o cão a ladrar.

Uma lágrima solitária desce, acumulando-se no meu pelo.

Corro, corro, corro, corro em direção ao meu ninho. Um ninho de folhas velhas, folhas pisadas.

Ao chegar ao ninho.

Encolhi-me, ladrei, chorei, senti...

Senti a dor de todos os outros cães, a dor psicológica, a que forma feridas, feridas que não cicatrizam, uma ferida aberta.

A cede tomou conta do meu psicológico.

Levanto-me e vou ao encontro d'água.

Encontro e bebo, como não ouvesse um amanha.

E realmente, será que haverá um amanhã?

😢

Qual era o meu destino? Morrer cruelmente, com o estômago a borbulhar enquanto implora por comida, ou eu num lar, aconchegado pelo calor de uma lareira, com uma mão no meu pelo, fazendo-me mimos?

Eu tinha que partir, partir daquele sítio para outro, à procura de um humano que me acolhe-se. Tinha que sair do desprezo e do fundo do poço.

"Tinha que saí porque a opção é correr e não esperar!"

Com dificuldade, encaro a realidade, colocando-me pronto para enfrentar mais dor.

Vou andando por quelhos e becos, arriscando a vida às vezes ao atravessar a estrada iluminada e movimentada por vários carros, acho que era uma autoestrada.

Quase fui atropelado por um camião e por um carro, mas escapei da morte.

Fui até um restaurante ou casa, não sei o que era aquilo.

Procuro água e bebo e deito-me no meio das silvas irritantes, folhas secas apanhando a brisa no meu corpo.

Destino d'um Cão Abandonado (EM REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora