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157 dias, 2 horas e 25 minutos

"Eu encontrei!" alguém ao longe gritou. Essas duas palavras puxaram-me do meu sono como gentis garras. As palavras que todos vinham esperando desde o dia do plano. Meu cansaço, fruto da minha expedição e da minha vez como guarda do grupo fazia umas duas horas, sumiu com o surgimento da esperança. "Eu achei o rio! Finalmente!"

Todos nós levantamos e começamos a comemorar, nos abraçando e gargalhando.

Então, depois do frenesi passar, finalmente pudemos utilizar as bolsas feitas por Robert, outro soldado, com restos de coisas que encontramos. Ter um artesão na equipe havia sido ótimo, no final das contas. Tivemos que cuidar dele durante muitas batalhas, mas, afinal, todo mundo ali tinha seu valor.

Estimamos que levaria uns dois dias para chegar ao rio, porque Peter havia visto o rio de cima — teríamos que descer o quase-penhasco, caminhar um pouco para chegar no leito do rio e ainda descansarmos no meio do caminho.

+1 dia e 18 horas

Havíamos finalmente chegado no leito do rio. Observamos seu curso e percebemos que ele seguia para o oeste; portanto, era o mesmo rio que eu falara.

Andamos, andamos, andamos. 

Andamos até nossas pernas se cansarem, e isso que nós éramos soldados. Andamos até anoitecer e se tornar perigoso demais para continuarmos. Nos camuflamos em uma caverna de pedras e ali dormimos. Sempre em guarda, sempre vigiando se não havia ninguém atrás de nós.

++1 dia e 1 hora

Enfim, a praia. Às nove da manhã, era uma visão espetacular. Tudo estava perfeitamente bem.

Então, por que eu não me sentia bem? Por que parecia que havia um vazio dentro de mim? Por que parecia que eu não queria ir embora?

Decidi andar ali por perto, e acabei indo bem, bem longe, para pensar sobre o que faríamos a seguir. Estávamos ali, mas ainda faltava atravessar um oceano inteiro. Como fazer para chegar em casa? Carona num navio? Um barco?

Um barco... Um barco bem na minha frente.

Um barco cuja existência resolvi ignorar e voltei ao nosso grupo como se nunca tivesse o visto. Pois, pensando bem, o que ganharíamos se voltássemos assim? Fugindo dos inimigos. Fracassados. Sem honra alguma.



"Lou, eu juro que vou te matar!" Alice gritou lá da cozinha. Ops!

"Não foi culpa minha!" gritei de volta, rindo. Sinceramente, era minha culpa, sim.

"Você derrubou minha tigela de gelatina! Eu não acredito!" falou, já encostada no batente da porta que nos separava. "Era a sobremesa!"

"Eu sei, desculpa. Fui pegar um pouco, mas me desequilibrei por causa dessas coisas," apontei para as muletas que estavam apoiadas no braço do sofá. "Sabe, acho que não vai dar certo..." desabafei.

"Não diga isso," Alice disse, aproximando-se. "Nós... É... Sua mãe vai conseguir."

"Mas qual é o ponto? Mesmo que ela consiga o dinheiro para comprar a prótese... Qual é o ponto? É só desperdício. Sou um inválido, Ali. Tenho que aceitar. E você... Quero dizer, você poderia estar trabalhando em algum lugar, ganhando seu dinheiro, mas está aqui, ajudando seu amigo aleijado. E, por falar nisso, por que você está fazendo isso?"

"Ei, Lou," sentou-se, abraçando-me de lado. "Você não é um inválido. Vai dar tudo certo, eu prometo. Sempre, okay? E, hm, você quer mesmo saber o porquê de eu estar aqui?"

"Quero."

"Então promete que não vai ficar bravo se eu fizer uma coisa," pediu.

"Eu prometo," respondi. "Eu acho."

"Bom, eu vou te beijar agora," falou. E o fez.

Suas mãos encontraram meu rosto e seus lábios tocaram os meus.

"Sabe," ela disse. "Esse foi meu primeiro beijo."

If I Had A BoatOnde histórias criam vida. Descubra agora