Mil Guerras Psíquicas - Parte 2: Pane

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Leon acoplou Erha com carinho à nave, pelo lado de fora, e assumiu a direção da Turquesa, com Cide de copiloto. Na câmara, único cômodo além da cabine de comando, Ayat e Vomadar se encostaram de pé rentes a uma das portas, e Nadine verificou os sistemas bélicos. Tanya se juntou a eles.

A nave partiu e Nadine passou a distrair-se com um livro de astronomia, enquanto Tanya cochilava. Ayat e Vomadar alternavam olhares entre uma janela redonda no alto da porta, por onde viam Erha, e monitores de controle espalhados a seu redor.

— Ainda acho que Cide concordou muito fácil em procurar esse reservatório — disse Nadine, segurando a página em que parou. — Se o muiril impede os ataques, então por que aqueles tanques perseguiram vocês?

— Vomadar pensa que é o vulto que nós vimos — respondeu Ayat. — Ele tem alguma coisa de diferente.

Mantiveram-se voando a sempre menos de seis metros de altura, para não arriscar a detecção por caças autônomos. Um tanque foi avistado no horizonte por Leon, que conseguiu despistá-lo, e abriu a porta da cabine para avisar aos demais.

— Havia alguma coisa em cima dele. Um robô diferente, torto.

Vomadar foi a janela, mas não viu nada e voltou para o lado de Ayat. Ainda tinha medo, mas confortava-se com o prosseguimento da viagem. O ganho em poder e velocidade dissipava seu incômodo com a intromissão do grupo em seus sonhos.

Aproximavam-se do norte do Mar Morto, por sobre onde viajariam para evitar ataques terrestres, quando detectaram no radar oito tanques se aproximando pelo noroeste. Não se assustaram de imediato, pois bastava se distanciar sobre o mar para se livrar das ameaças deste e de qualquer outro exército terrestre. Entretanto, assim que atingiram as margens do Mar Morto, uma falha no controle da propulsão da Turquesa os arremessou de volta para trás. Leon gritou para que se segurassem, mas não a tempo. A nave girou em torno de seu próprio eixo, inclinou de lado e desabou sobre o solo à margem.

Ayat caiu em cima de Vomadar, sobre uma das portas da nave que tomou o lugar de chão. Num instante confuso, viu Nadine agarrar-se à haste da porta da cabine e Tanya acordando de sobressalto, correndo desequilibradamente até seu lado. E, pela janela, Erha, em cima da nave, metade do corpo desacoplado, perigosamente pendente. Parecia sofrer como um animal, debatendo-se com o intuito de se recolar à nave principal, ou talvez para cair de uma vez e tentar escapar.

— Segurem firmes, vamos voltar à posição — bradou Leon de dentro da cabine.

Como Ayat, desorientada, permaneceu em silêncio, Vomadar demorou a entender o perigo que Erha corria. Tão logo percebeu, suplicou em vão para que parassem. Leon já havia iniciado a manobra.

— Qual é o problema, Pombal? — disse Nadine. — Não podemos ficar parados aqui, os tanques já estão a poucos metros.

— É que... É que Erha...

Após girar algumas vezes, a nave tombou em sua posição original. Com o choque, Erha se desacoplou por inteiro e deslizou sobre a areia para trás. Tão logo a Turquesa reganhou posição, disparou na direção do mar.

— Não! Erha! — gritou Vomadar.

Pela janela viram quando os tanques, que se aproximavam da margem, encontraram o veículo desamparado. Três rajadas foram suficientes para destruí-lo.

***

Vomadar engoliu a seco e Ayat o abraçou, sem que ele notasse suas lágrimas. Nadine olhou para baixo e, circunspecta, disse:

— Estamos no Mar Morto. Estamos vivos e a salvo enquanto estivermos sobre o mar, espero que isso sirva de algum consolo. O mais fácil era que estivéssemos todos mortos.

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