Polarize

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Meu esconderijo vinha se tornando cada vez mais tranquilo que a guerra em minha casa, que se instalou tão rápido que feriu a todos. Desta vez, trouxe comigo algo novo, um pedaço de papel e uma caneta frágil como minha alma.

Minha cabeça parecia girar, e as lembranças das broncas que levei ainda eram possíveis de se escutar.

"Help me Polarize".

Foi o que acabei escrevendo no papel. Polarizar. Separar as perversidades que cometi, todo o mal que causei.

Me esforçava para ser algo bom, mas não era suficiente. Eu desejava ser um bom filho e até um bom irmão, e isso era uma árdua tarefa que eu falhara diversas vezes. Eu era rodeado de vários problemas, mas conseguia os esconder.

As primeiras lágrimas começaram a cair. E mais e mais delas fizeram a mesma trajetória por meu rosto, minha garganta queimava por eu segurar os soluços da dor que minha alma emanava.

Abracei minhas pernas e coloquei minha cabeça entre elas. Gostaria que tudo sumisse.

Ouvi passos acima de minha cabeça, alguém descia as escadas sem se preocupar em ser ouvido. Tentei não fazer barulho, mas soluçava sem consegui conter como as lágrimas que ainda caiam.

Não vi de imediato quem era, mas deixei que me abraçasse, era reconfortante ainda que sufocante.

- Todos nós temos problemas.

Foi tudo o que a moça que me encontrar me disse, além de sussurrar que me levaria para casa, depois me puxou para um abraço como se soubesse que eu precisasse daquilo. Eu quis rir do que ela tinha dito, mas a dor na alma gritava mais alto e não consegui nem sequer dizer algo.

Aquela moça não entendia.

Não, ela nem compreendia.

Não entendia que eu só tinha uma casa ainda por me esconder por horas sob aquelas escadas junto com meus problemas.

Ela não iria compreender que eu lutava em diversas batalhas por conta da guerra conta o mal que existia em mim, o mal eu havia feito a outras pessoas.

Ela não entendia que eu necessitava de uma separação do mal que estava em mim com o bem que adormeceu por falta de esperanças. Eu queria acreditar que ainda existia algo bom dentro de mim, mesmo que por menor fosse.

Mas se tinha algo que, por mais que tentassem compreender,  era que ao contrário das pessoas normais, meus domingos calmos e agradáveis não se encaixavam comigo nem com minha família.

Esse dia, em específico, era o dia em que parecia queimar como fogo. E no final só restaria cinzas.

Escrito por: marinycabral

Coletânea de Contos - Twenty Øne PiløtsOnde histórias criam vida. Descubra agora