1 - Chamas e Escuridão

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 Rio de Janeiro, 2018

    UM VENTO GELADO soprou no rosto de Astríde fazendo suas madeixas loiras se agitarem enquanto saia do carro de sua mãe; ela puxou o capuz do moletom verde sobre a cabeça para se proteger do frio. Naquela manhã o tempo estava gélido, e acima, as nuvens ameaçavam cair em um temporal.

   Astríde odiava segundas-feiras, tanto quanto odiava vir à escola todas as manhãs, mas se não o fizesse, sua mãe iria ficar resmungando o dia inteiro sobre "não ser alguém na vida".

- Te pego às 5 - gritou a mãe dela de dentro do carro. Astríde se abaixou para olhar seu rosto, naquela manhã sua mãe tinha olheiras fundas que a deixavam com uma aparência de cansaço, seus olhos castanhos quase apagados esperavam uma resposta.

- Ok, mãe! - respondeu impaciente enquanto se voltava para a escola.

   Ouviu os pneus do carro de sua mãe cantarem na estrada e ao arriscar uma olhada para trás viu o carro preto de sua mãe virar a esquina.

   Encarou a escola, uma construção retangular cercada por um muro em tons de azul marinho; olhando aquela fachada, uma nostalgia ardeu praserosamente em seu corpo, de certa maneira era bom voltar àquele lugar onde aconteceram coisas tão boas que marcaram a sua memória.

   Ao atravessar os portões de metal da escola e adentrar ao pátio, Astríde sentiu uma sensação estranha, como se alguém tivesse a te observar e na menor oportunidade te atacar; ela olhou em volta e não viu nada suspeito, na verdade estava tudo normal, alunos ocupavam os bancos do pátio, um casal estava debruçado sobre um ipê-amarelo enquanto se abraçavam com sorrisos no rosto e outros alunos entravam a todo momento pelos portões e passavam ao seu lado em direção ao corredor de salas de aula. Mesmo sabendo que ao seu redor tudo estava normal, aquela sensação persistia, foi quando sentiu alguém atrás de si e quando tocaram o seu ombro, pulou de pavor.

Ao se virar com o coração na mão para ver quem a tocou, vislumbrou um sorriso furtivo.

- Está assustada? - perguntou Katharyne, sua amiga de classe, ela usava o seu cabelo loiro em um coque mal feito e os olhos castanhos brilhavam em divertimento.

- Ah, é você Kathy - arfou aliviada - você me assustou!

- Percebe-se - cobriu os lábios com a mão para ocultar o sorriso que se prolongava, e quando abaixou a mão, envolveu a amiga em um abraço caloroso. - Senti saudades, não respondeu minhas mensagens depois da sua viagem de volta.

- Ah, descupa - suplicou - É que foi meio corrido esses últimos dias, ter que volta de viagem e voltar às aulas em seguida - começou a andar em direção ao corredor de salas com a amiga ao lado - mas ... tem algo novo que ainda queira me dizer?

- Eu e o Itan, voltamos - disse com um sorriso nos lábios.

- Eu disse "algo de novo", vocês dois vivem nessa crise amorosa de guerra e paz desde que começaram a namorar, não é  novidade mais pra ninguém que vocês separam e voltam toda semana, ou melhor, todos os dias, o que deve ser um recorde... AI - gritou ao ser beliscada pela amiga.

- Ah, para! Dessa vez eu estou sentindo que vai ser diferente ...

- Ah, claro ... - interrompeu a amiga - Vai na fé - disse entre risos.

- Vou te provar, você vai ver - viraram uma esquina para outro lance de salas - preciso ir ao banheiro, vem comigo?

- Eu também preciso ir - concordou enquanto iam em direção ao banheiro.

As paredes do banheiro eram pintadas em um tom claro de verde, exceto a parede principal de onde pendia o grande espelho retangular acima da pia de mesmo comprimento, essa parede tinha um tom sombrio de azul marinho; no banheiro haviam quatro cabines adornadas por azulejos. O banheiro não possuia nenhum basculante, a iluminação era feita só por uma lâmpada no teto que emitia fracos fechos de luz, deixando o banheiro em uma leve penumbra.

Temporada de CaçaOnde histórias criam vida. Descubra agora