Temporada de Caça

5 - A Heroína na Parede

ASTRÍDE ACORDOU com patas andando pelo seu corpo, elas eram macias e percorriam cada canto seu provocando cócegas gostosas. Abriu os olhos para ver o que era, a primeira visão que teve foi de luminosos olhos azuis a te encarar, uma cauda negra sacudia-se para lá e para cá em sinal de felicidade, logo percebeu que um lindo gato siamês estava por cima dela.

- Cheshire! - exclamou ela surpresa - O que faz aqui? Como chegou aqui, bonito?

Estendeu a mão e trouxe o gato para o seu colo enquanto se sentava, afagou atrás das orelhas do bichano que, em sinal de alegria, ronronava alto. Olhou em volta procurando uma segunda pessoa no quarto, mas estava sozinha. Pegou o gato pelas axilas e o levantou na altura dos olhos.

- Quem te trouxe aqui, Cheshire? - perguntou ao animal.

- Fui eu. - uma voz ecoou pelo quarto.

Astríde levantou o olhar há tempo de ver Kênan entrando no quarto, trazia consigo numa das mãos uma caneca da qual subia vapor, na outra tinha uma sacola plástica. Astríde soltou o gato que estava protestando pelo aperto.

- Bem, fui eu e sua mãe, na verdade! Trouxemos suas roupas, estão no armário - Kênan sentou ao lado dela na cama - Aqui, trouxe-lhe café - disse estendendo a caneca para a garota, que a pegou cuidadosamente; depositou a sacola plástica no colo dela, e logo em seguida se levantou - Tome logo o seu café da manhã, daqui a pouco precisaremos descer para irmos até a corte dos transmorfos, um portal estará nos esperando.

- Ah, claro! - Astríde realmente havia esquecido desse detalhe, a noite de sono havia sido ótima, lhe fizera esquecer todos os problemas e prioridades, mas Astríde ainda estava curiosa em conhecer os transmorfos - Pode deixar, logo que terminar aqui, me arrumo e desço.

- Ok, se precisar de mais alguma coisa é só me chamar.

- Tá bom!

Kênan saiu do quarto depois de lhe lançar um carinhoso sorriso amarelo. Astríde deu o primeiro gole no café, o sabor lhe fez suspirar. Olhou dentro da sacolinha sobre seu colo, um pão doce e três rosquinhas açucaradas contiam ali. Pegou o pão e começou a comer, no final, só conseguiu comer uma rosquinha e metade de outra, elas eram muito grandes, Astríde se saciara rápido. Descansou a caneca, agora vazia, em cima da cômoda ao lado da cama, deu o resto das rosquinhas para Cheshire comer, ele havia encarado ela comer durante toda a refeição.

Se espreguiçou e levantou da cama, foi até o banheiro e lavou o rosto. Abriu o guarda-roupas pensando em que roupas seriam adequadas para conhecer pessoas que se transformavam em animais gigantes, acabou escolhendo uma calça jeans azul e uma simples blusa branca que caia confortávelmente.

Se olhou no espelho da porta do guarda-roupa para pentear o longo cabelo ondulado, quando terminou, focou seu próprio rosto no espelho, ele estava reluzente, sem nenhum resquício sequer do dia terrível que vivera ontem.

Olhou ao seu redor e viu Cheshire dormindo na beirada da cama, o gato havia devorado as rosquinhas, e com um ar relaxado, estava deitado em forma de círculo.

Astríde procurou o seu tênis e os calçou, e ao sair do quarto, fechou a porta em silêncio para não acordar o gato.

Seguiu o corredor até o final, venceu as escadas e foi em direção ao grande corredor principal que dava na sala; ao chegar no corredor, no exato ponto central onde o corredor se torna um "T", viu algo na parede, olhou atentante e percebeu que uma grande tapeçaria pendia nela. Uma gravura de guerra estava bordada à fios dourados, carmim e branco; a imagem era de uma mulher de cabelos curtos, trajando uma armadura imponente, montada em um cavalo branco, em uma das mãos, tinha uma espada levantada em uma pose vitoriosa, na outra mão, portava um estandarte no qual se lia 'Jesus', acompanhado de uma gravura do Messias, dois anjos ladeavam a figura sagrada de Jesus. A paisagem era verdejante, um campo aberto, no céu, nuvens brancas se abriam dando espaço para que raios de luz dourados se posicionassem em direção à mulher, dando um ar divino para aquela cena.