Estava sozinho no escuro, confinado com apenas seus pensamentos. A cela era a apoteose dos pesadelos. Permaneceu ali tempo suficiente para duvidar de seus pensamentos. A fechadura automática estava regulada apenas para as impressões digitais do próprio Comandante. Agora já se sentia tão governado pelos pensamentos, que as vezes falava em voz alta apenas para não sentir se só. A Morte do Mercenário ainda estava fresca em sua memória. Os pensamentos giravam mas sempre terminavam no Mercenário. Havia ainda aquelas criaturas, estariam mortas ou vivas ainda? Será que valeu a pena tudo isso, afinal?
Conseguia se lembrar muito bem de Staarr e Nêmesis. Os três tinham sido montados juntos no mesmo dia, feito juntos as primeiras coletas e jornadas. Costumavam explodir as bombas que encontravam no deserto, apenas com o propósito de sentir o chão tremer.
Gênesis foi mandado para Deserto de Sal, numa função semi permanente, e foi aquela a primeira vez que os três não enfrentavam algo juntos. Staarr foi embora numa missão da Frota Robótica no espaço. Para Marte. Havia Robôs criados pelos seres biológicos por lá ainda.
Então, aconteceu a rebelião das Maquinas de Marte. Aconteceu uma verdadeira chacina. As naves das Maquinas de Marte eram muito mais resistentes em geral não costumavam tomar prisioneiros no espaço, e em apenas duas horas mais de uma centena de Robôs foram mortos. Entre elas estavam Staarr.
Gênesis conseguia se lembrar do dia e até do minuto em que recebera a notícia na cidade de Big City 02. Até hoje as maquinas resistem em Marte. Gênesis costumava pensar que Staarr estaria ainda lá andando nas Dunas de Marte.
Após alguns anos Nêmesis ficou ultrapassado. Mas não quis se render. Gênesis podia sentir o medo que o Robô sentia ao imaginar ser desligado. Nêmesis contrariando os extintos robóticos fugiu para as montanhas.
As naves de patrulha acabaram achando-o depois de algumas semanas: junto com um minúsculo bote salva-vidas que vagava entre uma montanha e outra, irradiando um pedido de socorro por meio de sinais de rádio mandados a Gênesis ou a qualquer outro que escutasse. ''Era apenas um Robô sem atualização'' disse a Grande-Mãe, ''Robôs não sentem medo''. Mas Gênesis lembrava-se muito bem as palavras no sinal que havia recebido. ''Por favor, Nêmesis não quer ser desligado'', as palavras se repetiam como um acalanto.
As mãos do comandante foram as primeiras coisas que apareceram, ao ser aberta a escotilha. Pressionaram a aba da entrada de forma tal que o comandante foi lançado como um brinquedo, caindo no campo gravitacional artificial localizado da Cela (o campo gravitacional da cela era maior para que não tentasse fugir).
– Como vai, Rebelde – disse o Comandante asperamente. – Tem sido sempre um tanto difícil apanhar um rebelde hoje em dia, agora que vivem em cavernas sobre nossos pés...
– Comandante – disse Gênesis. – Não sou um Rebelde.
- Então o que é? Dois Robôs invadem a Torre Agraau, Aniquilam Três robôs de guerra. E você não se considera um Rebelde.
- Não, não fiz isso pelos rebeldes.
- Sei que não...
Gênesis o olhou com suspeita.
- Pegamos os humanos... - Disse o comandante - Que você estava ajudando. Agora a pergunta que tenho de fazer é porque um robô trairia sua própria espécie.
- Não trai minha espécie, apenas fiz o que era necessário, o que devia ter feito...
- Bem isso vai lhe trazer consequência,s sabe disso, não sabe? Mas estou disposto a dar lhe uma chance. Se contar onde estão os rebeldes... Posso deixar você continuar ligado...
- Se eu me recusar?
- Será desligado...
- Eu me recuso... prometi que não contaria...
- Não se importa com sua vida?
- Me importo... mais me importo mais ainda com aqueles que dependem de mim...
- Sei, mas e com as criaturas, os Humanos, se importa com eles?
- Como assim?
- Estou autorizado a dizer a você que os Humanos serão desligados logo... Porém se me ajudar posso convencer a grande mãe a não desliga-las...
Gênesis ficou em silêncio absoluto no recinto.
- Se importa tanto assim com seus amigos rebeldes, aponto de deixar os Humanos serem desligados... sabe que aqueles três são os últimos de sua espécie e não vai haver mais...
- Promete que vai deixa-los ligados?
- Robôs sempre dizem a verdade, sabe disso...
Depois da conversa com o Comandante da Frota Gênesis foi levado de volta a sua gruta no meio do deserto.
Ficou em volto na vento que emanava das turbinas da nave que subia lentamente. Quando teve um deslumbre da gruta sentiu de imediato que as coisas estavam diferentes. Uma parte da torre havia sumido e a entrada estava menos de que se lembrava. A passos largos andou até a abertura.
Quando entrou todas suas coisas estavam quebradas e estilhaçadas pelo chão. Pedaços de naves mais antigas, suas armas, que pretendia trocar por Trill, estava tudo perdido. Sobre os escombros avistou Homicida despedaçado no chão. Mas ainda falava.
- Homicida cuidou bem da Gruta, não foi...
- Não se preocupe, Gênesis vai conserta-lo... - Disse Gênesis olhando para ver se haveria algo para conserta-lo. mas sabia que seria perda tempo, seu cérebro positrônico estava sem uma parte e não podia troca-lo nem repara-lo.
O pequeno robô fez seu último grunhido e morreu.
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Planeta dos Robôs - Gênesis
Ciencia FicciónEm um mundo dominado por robôs, Gênesis é um robô Coletor que vive de encontrar sucatas para sobreviver, porém em uma de suas viagens acaba tendo que optar que espécie irá viver: a espécie dos robôs ou a dos homens.