Caítulo 5 A Canção Sobre a Neve

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- A moeda de prata deve ser uma lembrança da terra de seus pais então... Você não tem medo de perdê-la um dia?

- As únicas coisas que guardei de minha família foram dois sinetes da armadura de meu pai, que são de bronze. São as duas outras moedas que uso no jogo das taças. É o registro do meu nome, caso volte para aquelas terras um dia.

- Aqui não é de todo ruim... Se é não será por muito tempo, eu lhe asseguro. Você é um jovem muito esperto, como pensei que seria.

Os dois viram uma enorme massa de vento e de neve se formar. De repente um espectro de um castelo se fez na frente deles. Parecia a vista dos desfiladeiros de Merry Meridian. "Uma miragem" pensou Pheus. "Poderes de ilusão ao que parece também são atributos de quem está por trás destas maldições". Pheus ergueu o cajado em suas mãos, titubeou no gelo deslizante, mas Alcino o apoiou, logo manteve-se de pé e ergueu novamente o cajado. No momento em que a nevasca rumou para os dois, Pheus murmurou palavras estranhas. O cajado lançou uma forte luz verde espectral para todas as direções. O vulto desapareceu e a nevasca se desfez na frente deles subitamente. Uma luz apareceu ao norte após a margem do rio.

- É isso... O quando o rio congela o caminho fica livre pra atravessar rapidamente, mas as pessoas são desorientadas pelo medo da imagem fantasma, se não fosse isso realmente seria o melhor caminho para os andarilhos cortarem caminho por cima do rio. Não é de admirar que os mais céticos venham direto para cá, sem ligar para o que dizem os colonos.

- Vamos em frente guri. Temos que acabar com isso rápido ou podemos começar uma aventura sem precedentes.

- O senhor é mago, Pheus?

- Não diria mago, pelo menos não ainda.

- É, parece novo demais pra ser mago.

- Por enquanto sou apenas um andarilho, apreciador da grande magia do mundo.

Após a margem, entraram numa floresta de árvores antigas, pinheiros imensos que cobriam o chão e protegia da tempestade, podia sentir um ar menos gélido se formar. No mesmo instante uma melodia se formava nos ouvidos dos aventureiros. Um som inebriante e doce que aos ouvidos parecia o som de uma leve voz feminina. Dava impressão de estarem em um dia de fim de primavera, com ventos dos Andes das montanhas de Merry Meridian. Alcino ouve a voz de sua mãe; o vulto disforme se transforma nela, com os cabelos ruivos, presos com um laço velho de renda que cobria o coque, sentada sobre as pedras, com os pés na água enquanto lava roupa do pequeno e cantarola uma canção dos festejos de onde viera. O rio corre lento como o tempo, as águas tremulam e batem nas pedras e nos pés do menino. Marille, sua mãe está radiante, ilumina-se com o reflexo dos últimos feixes de luz solar antes do outono, as folhas voando como pássaros para cair na água e aquela voz de Marille... Uma voz que ele nunca esquecera.

- Alcino! – Disse uma voz ao longe. O menino abriu os olhos, seus pés perderam toda força e desabou nos braços de Pheus. Eles estavam frente à gruta de onde saíram raios de luz. Pheus não fora afetado pelo som por causa da magia de seu cajado. Deu uns tapas no menino até ele acordar:

- Vamos garoto, não caia nesse sonho! – Alcino abriu os olhos lentamente, lagrimas rolavam sobre suas bochechas rosadas, o ar congelante saia de sua boca em suspiros demorados. - vi minha mãe- Disse ele. Era uma armadilha tão suave que as almas tolas simplesmente se deixavam levar pelos sonhos reprimidos, embalados pela leve canção de tons femininos. - Então é isso... - Pensou e disse baixo o homem de barba castanha. Engrossou os passos e penetrou na gruta. O chão era coberto de uma camada fina de neve, que o pouco vento carregava para dentro, mas havia um gramado verde vivo e flores mimosas que faziam um tapete para dentro da gruta. A gruta era feita de pedras empilhadas como um sepulcro feito há poucos anos.

Lá dentro, Pheus acendeu o cajado com um fogo mágico de cor azulada, cobrindo toda a profundidade da gruta. Havia muitos pertences pelo caminho, prataria e utensílios variados, um baú com roupas e uma cama de palha sobre pedras e... Uma mulher deitada. Os dois ficaram surpresos. A mulher de aparência jovem irradiava uma aura de muitas cores que pareciam as galáxias dançando ao redor dela. Pheus ficou extasiado com aquilo. Alcino, porém não era capaz de o efeito da magia do corpo da jovem moça.

– Meu deus, então é isso que vem provocando toda essa confusão. Essa deve ser uma jovem feiticeira. Uma bruxa branca talvez.

A aparência dela parecia de morte recente, o corpo ainda quente, mas sem respiração. Pheus checou os pulsos. Ela estava morta, porém de algum modo sua alma ainda estava presa ao corpo, o espirito também agia através da magia que irradiava pelos poros. Alcino tocou a face dela, depois abriu os olhos dela para ver se voltava a si de alguma forma.

- Queima o corpo dela senhor Pheus! – Sugeriu Alcino.

- Não é assim que funciona Alcino. - Pheus disse enquanto coçava as sobrancelhas grossas. E continuou: - Ela tem uma aura poderosa envolta dela, mantendo o corpo aquecido. Não somente o corpo, mas parece que algum tipo de campo que cobre até a outra margem do rio...

- Não é o espirito dela que vai até lá a margem?

- Não tenho como dizer ao certo. Precisamos nos comunicar com o espirito dela.

- Como vamos fazer isso?

- Tem um método, porém eu não consigo fazer isso em meu estado de espirito atual. Você terá que fazer isso por mim.

- Eu? – Alcino ficou intrigado pelo fato de Pheus não poder entrar em contato com o mundo dos mortos, por ser um aprendiz de mago talvez... se isso fosse atribuição dos magos.

A Canção sobre a NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora