Caítulo 6 A Bela Adormecida

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- Por sorte ela tem lenha velha ali, vou fazer um fogo para os preparativos. – Pheus ateou fogo em um punhado de madeira velha que havia perto da entrada da gruta, e depois jogou algum tipo de pó nas brasas. Pegou um pouco de sua água e pôs para ferver, logo em seguida despejou outro tipo de pó na agua e o deu para Alcino. – Um homem vive sua vida para buscar sabedoria que mesmo em muitas vidas não é suficiente para se aprender. Muitos magos tem a honra de viver até que seu eu transcenda as barreira da dependência humana, que muitos chamam de pecado. O pecado é a ferida na alma, que o homem cria como regras para reprimir a si próprio, depois descobre que quando se quebra as próprias regras cria uma força reversa da busca pela transcendência, a dependência, a regressão ao estado animal instintivo que chamamos de prazer. Por isso um andarilho deve ser como uma criança, que vê as possibilidades sem medo. Você deve ir Alcino. Descubra qual a história dela e depois veja o que pode fazer por essa alma. Veja que às vezes, almas se aprisionam na dor e no desespero, a missão de um andarilho é de vez em quando, dar luz a estas almas. – Alcino tomou a bebida, depois de alguns minutos via em sua volta como se estivesse no fundo do rio, formas animalescas flutuavam e dançavam com uma melodia doce da voz que vinha da moça deitada.

- Moça... Você está acordada?

- Estou. – Diz a moça enquanto abre belos olhos verdes-jade e de repente vê um menino alvo, de cabelos avermelhados e pintinhas nas bochechas. Meio corado ao vê-la, Alcino apenas consegue ensaiar umas palavras que não saem de sua boca. Está de noite, um tanto frio lá fora, mas eles estão aquecidos por uma fogueira perto da porta. "Moça linda como uma princesa" (pelo menos é como uma princesa deve ser). De cabelos escuros em mechas onduladas amarrados com uma fita azul turquesa atrás da cabeça, mas com duas mechas para frente cobrindo as orelhas. Um vestido de mangas e colarinho branco, um corpete azul em um tom desbotado, um sorriso de lábios carnudos rosados.

– O que faz aqui Alcino?- Perguntou a moça.

- Vim falar com você... Mas como sabe meu nome?

- Não sei... Às vezes sei o nome das pessoas assim que as vejo. E o que você quer falar comigo, pequeno.

Alcino fez uma pausa, olhou bem nos olhos dela e depois envolta da casa procurando Pheus. E de repente se tocou que ele não estava lá. E viu que era ele que na verdade não estava. Agora Alcino estava onde a mulher estava. Em algum plano que não era o dos seres vivos, pois ela estava morta.

- Você está morta, senhorita. – Diz Alcino, eufórico como se lembrasse de repente alguma tarefa a cumprir.

Ela, assustada, se levanta rapidamente e põe as mãos na boca.

- Do quê está falando? Como veio para aqui Alcino?

- Eu respondo, mas primeiro me diz, por favor Porque dorme aqui nesta cabana?

- Não entendo o que você diz Alcino, me explique você! O que está fazendo aqui?

- Eu vim com o meu mestre Pheus ver acontecimentos estranhos, que pelo visto tem origem deste lado do rio. Há alguns anos você trouxe maldições para esta terra e fez com que muitas pessoas morressem... inclusive minha família. Eu não sei, mas de repente me lembro de tudo o que acontece como se fosse um sonho ruim.

A moça se reclina na cama de palha, como se diminuísse de tamanho. Balança a cabeça como se negasse para si mesma.

- Há alguns anos? Como pode se eu estou há apenas... Não... – A moça chora, com tristeza magoada, Alcino se adianta e a abraça com força. - Eu deveria ter desaparecido deste mundo Alcino, eu sou amaldiçoada desde que nasci.

- Qual é o seu nome Senhorita?

- É Lowryel.

- E Qual é a sua história, Lowryel.

- Eu... eu...

***

Em sonhos, eu sempre via um jardim, que parecia o meu, estava sempre sozinha. Plantava, movia as pedras colhia as flores, fazia-as crescer e o tempo lá parecia não passar. E vinha o sol, o vento, a chuva... Sentia meus pés afundarem na terra macia, e o tempo da vida era diferente das outras coisas. Um dia quando acordei descobri que dormira o inverno todo. E depois disso hibernava todos os invernos. Mas o tempo pra mim não passava, estava no meu jardim, contemplando as montanhas onde meus pais cresceram. Com o tempo descobri poderes, que quando sonhava podia criar coisas do nada, na colheita de meus pais, brincar com a chuva e com a neve. Mas isso assustava as pessoas do vilarejo. Eu cantava durante o inverno, nos sonhos e eles podiam ouvir mesmo de muito longe. E tinham medo me mim a ponto de fugir da aldeia. E me retirei o mais longe que pude das pessoas. E aqui tentei refazer minha vida. Porém aqui é inverno quase o ano todo e acho que devo estar dormindo há muitos anos. Sempre tive uma tristeza de ficar sozinha então sempre vou ao rio, que nos sonhos é lindo de mais... Sussurro tristemente para as águas. Este sonho se tornou meu cárcere.

Abaixo de Alcino e Lowryel havia um caminho de luz que corria para o infinito, era a mesma essência que estava envolta da moça. Alcino já não controlava mais as lágrimas, que ao invés de escorrerem pelo rosto flutuavam pela gruta.

A Canção sobre a NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora