Hope Morgan - Capítulo 1

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Hope

O meu despertador fazia um barulho extremamente irritante. Eu já odiava aquele som com todas as minhas forças, não importava se eu o trocava, todos pareciam perfurar meus ouvidos às 8h30. Levantei recitando uma pequena (lê-se enorme) lista de xingamentos e desligando-o.

Apanhei minha toalha e marchei para o banheiro automaticamente, liguei a água gelada e deixei que escorresse pelo meu corpo, aproveitando para lavar o cabelo. Não enrolei muito, afinal já estava "tarde" (9h00 pra mim era muito cedo, mas para os meus pais, levantar essa hora era um crime).

Depois de vestir um simples vestido branco e secar meu cabelo, calcei meus sapatos e sai do quarto. Ao abrir a porta dei de cara com Astrid. Minha irmã mais nova era simplesmente maravilhosa, com seus cabelos ruivos e olhos azuis, que combinavam perfeitamente com seu rosto delicado. Já eu... Eu era um caso delicado. Meu cabelo era de um ruivo forte, mas às vezes conseguia lembrar um laranja desbotado, e meu rosto era mais fino que o dela (Pode-se dizer que eu estava abaixo do peso). Mas pelo menos os meus olhos eram 50% parecidos com os dela, pra ser mais exata, apenas o direito. Meu olho esquerdo ao redor da pupila era castanho claro (Âmbar, talvez?), mas a maioria da íris era de um verde claro.

- Bom dia, Princesa! - Falei com a pequena na minha frente que esfregava os olhos.

- Só se for pra você, Hop. - Ela respondeu, bocejando logo depois.

- Educação mandou lembranças. - Resmunguei.

Astrid era o meu porto seguro, ela só tinha oito anos, mas era impossível imaginar uma vida sem minha pequena e eu amava cada pedaço daquele ser.

Desci abraçada com Tris e fomos para a cozinha, onde uma bancada com o café da manhã já nos esperava. Sentamos uma de frente para a outra e eu servi um pouco de salada de frutas.

- Ontem eu vi o príncipe, Hop! - Disse Tris enfiando algumas (lê-se muitas) torradas na boca.

- Onde, Princesa? - Perguntei meio desinteressada.

Era um pouco comum Astrid ver o príncipe, ela estava estudando etiqueta no palácio já havia alguns meses. Eu por outro lado, havia tido aulas particulares quando mais nova já que não tinha quem me levasse para estudar fora de casa.

- No jardim do palácio. - Ela parou para beber seu suco antes de continuar. - Ele disse que eu sou muito bonita.

- Ele está totalmente certo, Tris. - Terminei de comer e me levantei depois de um tempo, colocando os pratos, copos e talheres, que tínhamos usado, em cima da pia.

Subi novamente com Tris e ela foi direto para o banheiro em seu quarto, enquanto ela tomava banho, separei um vestido azul, para realçar seus olhos, e sapatilhas pratas, arrumei sua mochila com os livros que ia usar no dia e esperei ela sair. Ela se vestiu com a minha ajuda e eu fiz uma trança em seu cabelo, colocando alguns enfeites de flores azuis. Quando a buzina soou no jardim, a levei até a porta e me despedi.

Depois que o carro já tinha se afastado, entrei e caminhei até o piano que tinha na sala. Ultimamente, eu estava sem o que fazer em casa, já havia terminado de estudar, graças às aulas particulares, e eu não era muito de fazer algum outro tipo de tarefa. Era somente eu e Astrid, e tínhamos nos virado muito bem nos últimos três anos, na verdade, eu tinha, Astrid nunca tinha sofrido ou sequer se lembrava de algo.

Deslizei meus dedos pelo piano, sentindo cada som emitido por ele acender algo em mim. Isso eu havia herdado de minha mãe. Eu lembrava claramente de como ela tocava com perfeição e fazia cada parte do meu corpo arrepiar com sua voz, a voz que eu sentia falta durante as noites que eu não conseguia dormir. Ela era do tipo "mamãe-coruja", que estava sempre ali querendo saber de cada detalhe da sua vida, desde o primeiro beijo até o último namorado que tinha esmagado seu coração, do tipo que gostava de passar todo o conhecimento de uma vida para que você pudesse se dar bem lá na frente. E eu sentia falta de cada detalhe, cada música, cada abraço, cada sorriso e até de cada briga.

Era fresco na minha memória o dia em que eles partiram, afinal, eu estava lá. Era só mais um dia de festa para eles, a dama de honra da rainha e o companheiro do rei. Já para mim, era como ir ao parque de diversões pela primeira vez. Era a primeira festa que eu ia, era um presente de 13 anos ir ao palácio para os 15 do Príncipe e da Princesa, tudo bem que o meu aniversário já havia passado havia semanas e eu já havia recebido ótimos presentes, mas mesmo assim eles quiserem me levar. Lembro que eu não havia conversado com o Príncipe Lucca ou com a Princesa Valentina, ficava apenas grudada em minha mãe sentindo que não pertencia àquele lugar. Astrid estava em casa com a babá, só tinha cinco anos e eu agradecia todos os dia por ela não ter presenciado a morte dos nossos pais.

A festa acontecia tranquilamente e eu me lembrava de que os príncipes já iriam para próximo à mesa com o bolo para que fosse cantado os parabéns. Era uma cena extremamente dolorosa pra quem assistia. A princesa Valentina havia chegado primeiro, já que o príncipe Lucca estava no jardim com um primo e sua mãe havia saído para chamá-lo. Valentina observava o bolo, imaginei que estivesse pensando em um pedido para fazer, deveria ser difícil desejar algo quando já tem tudo, e, nesse momento, eu me permiti analisá-la. Ela era tão calma, doce e delicada, tinha seus cabelos loiros e olhos azuis brilhantes, totalmente opostos aos cabelos pretos e olhos verdes claros de Lucca. E então eu observei uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha calmamente.

Era confuso de entender, em um segundo o "guarda" estava atrás dela e no outro atravessava uma faca por suas costas. Lembro de seus olhos me encararem e ela se permitir sorrir. Eu não entendia o porque do sorriso em um momento que toda sua felicidade era arrancada, mas ela o fazia, como se desafiar o esperado fosse seu maior desejo. E que sorriso maravilhoso. Eu estava totalmente vidrada na princesa e não percebi quando apontaram uma arma pra mim, mas minha mãe sim. Eu não sabia se a amava ou odiava por ser tão observadora. Ela se jogou na minha frente e eu pude ver sua boca se formando em um perfeito "O", enquanto me encarava nos olhos. Eu não sabia o que fazer, apenas paralisei.

- Corre. - Ela disse, em uma espécie de sussurro.

E eu obedeci, como a "boa" filha que era, avancei para o jardim. Péssima escolha. Foi no exato momento que eu cruzei a porta que vi meu pai se jogar na frente de uma bala, que, imagino, tinha como destino o peito do príncipe. Os olhos dele se encontraram com os meus uma última vez e ele sorriu para mim depois de esboçar um "eu te amo". Aquilo estava me matando, definitivamente eram muito sorrisos que me impediriam de dormir a noite. Não me permiti derramar uma lágrima, apenas corri para a floresta, escalei a árvore mais bem escondida que encontrei e aguardei tudo acabar para ir embora.

Desde aquele dia, era só eu e Astrid. Eu não havia voltado ao castelo, muito menos visto o príncipe, o rei ou a rainha. Eles apenas cuidavam de nós, mandavam dinheiro, guardas e criadas que cuidavam de nós como se fôssemos realmente algum membro real. Isso era errado, todos sabiam, deveríamos ir para orfanatos ou coisa do tipo, mas a rainha não permitiu que as filhas de sua falecida melhor amiga fossem arrancadas de seu lar, provavelmente separadas e sofrêssemos sequer a perda de nossos pais.

Comecei a tocar algo simples no piano, apenas para esquecer desses pensamentos, enquanto ouvia uma das criadas voltando com algumas compras para fazer o almoço.

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Notas da autora
Começando.
Me digam o quem acharam.
Vale uma estrelinha?

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