Hope Morgan - Capítulo 8

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Hope

De certo modo, aquele almoço adiantado ou café da manhã atrasado estava extremamente quieto. Depois que todas se deram conta de que as outras oito meninas não viriam, que elas realmente haviam sido eliminadas, foi como se calassem a boca com medo de que acabassem voltando para casa também. Eu, por outro lado, estava apenas comendo e tentando ignorar os olhares das meninas de pavor, como se cada dia naqueles castelo fosse sincronizado com as batidas do coração delas, uma vez do lado de fora daqueles portões, adeus vida.

Tudo era dramático demais, falso demais, forçado demais. Aquelas meninas não estavam ali porque o príncipe na outra sala era encantador, ou porque elas viam algo de interessante nele, apenas queriam a coroa que estava na cabeça da Rainha Lilian, ou pelo menos uma parecida com a dela. Tudo aquilo era ridículo, eram todas bonecas sem vida que aguardavam ansiosamente para serem controladas por suas donas. Um monte de besteira.

Então Lucca atravessou as grandes portas da sala de jantar, acompanhado da Rainha e do Rei. Levantamos e fizemos uma reverência, sentamos novamente, e, no meu caso, esperei que o príncipe falasse alguma coisa. Esperei que ele dissesse que havia chutado aquelas meninas da outra sala, esperei que ele humilhasse elas por serem forçadas demais, por terem algum defeito, esperei que ele fosse um completo babaca. Eu esperei que com isso, essa merda dentro de mim que diz bombear sangue, visse que ele era um completo arrogante que só queria se aproveitar das meninas que estavam em volta daquela mesa.

Mas eu estava completamente enganada, Lucca sentou com seus pais, disse apenas que as meninas voltariam para casa no dia seguinte, que teriam ajuda do palácio se precisassem, e além disso, noticiou que ficaríamos no quarto até o almoço do dia seguinte.

Estava tudo aceitável, até que ele conseguiu estragar tudo.

O príncipe passou os olhos pela sala e parou exatamente nos meus. Nos encaramos por alguns segundos e parecia que travávamos uma batalha para ver quem reagiria primeiro.

Até o momento que ele sorriu.

Mostrando aqueles dentes brancos, perfeitos, capazes de levar minha sanidade para outra dimensão, ele sorriu para mim, e eu senti como se meu estômago fosse substituído por uma sacola de cubos de gelo que estavam se revirando como se tentassem imitar borboletas. Que clichê, Hope. Poderia ser, mas eu não podia negar que foi uma das melhores sensações que eu já senti em toda a minha vida.

— Hope? — Summer estalou os dedos na minha cara, e eu acabei tendo que quebrar o contato visual que estava revirando minha cabeça, e que, a qualquer momento, substituiria meu cérebro por terra.

— Oi, desculpa, não te ouvi. — Olhei-a.

— Como se eu não tivesse percebido na terceira vez que te chamei. — Ela revirou os olhos.

— Summer, minha querida. — Eu falei com a voz mais falsa que eu já havia escutado sair da minha boca. — Nunca, nunca mesmo, revire esses seus maravilhosos e invejáveis olhos azuis para mim se não quiser ficar sem eles. — Ela riu. — Entendeu?

— Não revirar os olhos para Hope Morgan, jamais. — Ela levantou a mão no ar, fingindo uma espécie de juramento. — Acho que entendi. Mas voltando ao que eu estava tentando te falar, que tal ficarmos no meu quarto hoje jogando conversa fora?

— Deixa eu verificar minha agenda. — Levantei meu pulso, fingindo olhar um relógio. — Eu sou muito ocupada, mas acho que terei um horário para você.

— Ridículo, Hope. — Ela disse sorrindo.

O resto do almoço, vou chamar assim, foi tranquilo. No final, fizemos nossas reverências e fomos para os quartos, segui Summer até o segundo andar e logo estávamos jogadas em sua cama conversando sobre todas as coisas possíveis.

(...)

— Então eu balancei mais forte, como ela pediu, mas Astrid escorregou das minhas mãos. Voou por uns dois metros até acertar com tudo na bancada da cozinha. Ela chorou tanto naquele dia que eu não sabia como ainda tinha água naquele corpo. Então eu a peguei no colo e planejava ir até nossa mãe, perguntar se tinha sido grave, mas quando eu fui passar com ela pela porta da cozinha no colo, acertei sua cabeça no batente... — Eu contava sobre um dos meus piores castigos para Summer, mas houve algumas batidas na porta que me interromperam.

— Uau, já escureceu, daqui a pouco vão trazer o jantar, o tempo voou. — Falou Summer enquanto abria a porta. — Posso ajudar?

— Eu sou Lea, vim chamar a Srta. Morgan, sua presença está sendo solicitada no escritório da rainha. — Eu pude ouvir e me levantei, acenando para Summer, que me olhava confusa, e segui minha criada.

Não é preciso ser um gênio pra saber que eu estava com um pouco de, vamos dizer, receio. Era apenas meu segundo dia ali e eu provavelmente tinha feito alguma merda alheia. "Devem ter esquecido de te mandarem pra rua hoje no almoço". Minha consciência sempre tinha que recorrer a essa possibilidade.

— Você bate na porta, senhorita, vou indo, quando ela responder, você entra. — Lea falou quando já estávamos no terceiro andar, de frente para o escritório da rainha.

Ainda receosa, bati na porta e esperei que Lilian autorizasse minha entrada. Quando entrei, fiz uma reverência á ela, que se encontrava no fundo da sala, atrás de uma mesa, enquanto dizia o típico "Majestade". No momento seguinte, passei os olhos pelo local e encontrei duas pessoas que não esperava ver até o dia seguinte.

Em um canto próximo aos livros, estava o príncipe, aparentemente nervoso enquanto se atrapalha com o que eu imagino ser as fichas das selecionadas. Cumprimentei-o também, mas dessa vez dizendo "alteza". No canto oposto, em uma poltrona de frente para a rainha, estava Astrid, com uma cara que eu conhecia muito bem. Aquela que diz:

"Eu fiz merda, vou dizer pra todos que sinto muito, mas você sabe que eu não me arrependo".

— Ah, Astrid. — Suspirei. — Você tem "problema" tatuado na testa. — Sentei ao lado dela.

No canto, eu vi Lucca segurar uma risada, aparentemente ele sabia o que ela tinha feito.

— Então, Hope... — Começou a rainha. — Hoje, durante as aulas de etiqueta, a turma de Astrid teve classe de pintura, e ela virou um pote inteiro de tinta azul no cabelo de uma das garotas da turma. Ela estava prestes a me dizer o motivo quando você chegou.

— Em minha defesa, — Começou Astrid. — ela disse que a cor do coração que ela ia pintar parecia com a cor do meu cabelo. — Até agora eu não tinha escontrado o motivo da tinta no cabelo da menina. — E que o mesmo era dessa cor porque eu sou muito "esquentadinha". Então eu peguei a tinta azul que eu tava usando, e joguei no cabelo dela. — Ela me olhou como se fosse a coisa mais certa a se fazer.

— "Deixa eu pintar o seu cabelo de azul, Becka, pra ver se apaga esse seu rabo que tá pegando fogo." — Comentou o príncipe e em seguida gargalhou.

Senti o sangue sumir do meu rosto.

— Astrid Morgan! Onde aprendeu essas palavras?! — Eu me esforcei ao máximo para não bater no príncipe por achar engraçado ou por me fazer ter vontade de acompanhar suas gargalhadas.

— Não vamos prolongar isso, Srta. Morgan. — Falou a rainha.

— Apenas Hope, magestade. — Corrigi-a.

— Tudo bem. Que isso não se repita, Astrid. Vocês devem ir para seus quartos, amanhã vai ser um dia cheio. Falando nisso, Lucca você já decidiu com quem vão ser os encontros amanhã? — Levantei-me e segurei na mão de Tris para que ela me seguisse.

— Terminei agora mãe. — Ele citou as meninas para Lilian, mas eu não reconheci muitas.— ... E por ultimo, Hope Morgan. — Finalizou quando eu já estava na porta e eu parei, me virando logo em seguida.

Ele procurou os meus olhos, como se esperasse que eu estivesse saltitando ou alguma coisa do tipo, mas quando os encontrou, eu apenas sorri e me despedi dos dois com uma reverência junto de Astrid, e deixamos a sala. Voltei pro meu quarto depois de deixar Tris no seu, e só aí eu fui digerir aquela notícia insignificante que eu havia recebido, mas lá no fundo, eu sabia que estava fingindo demais, quando o que eu mais queria era gritar aos quatro ventos como tudo aquilo era uma mistura de um pesadelo com um sonho, e logo tudo despencaria como uma avalanche sobre mim.

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Notas da autora
Vale uma estrelinha 🤸‍♂️?

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