O Chacal

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O garoto abriu os olhos, acordado pelo som do gotejar de uma poça. Fora isso, o silêncio predominava. A cabeça latejando dificultava que discernisse muita coisa ao olhar à sua volta. Estava escuro. O chão de pedra fria estava úmido, fazendo-o tremer até os ossos.

Notou uma chama distante que se agitava e crescia lentamente, sendo aquela a única fonte de luz do local. Embora não pudesse ver as paredes, pensava que estava em um local fechado. Sentia-se em uma masmorra, como se houvesse sido jogado ali para pagar pelo seu grande pecado.

Passos lentos e demorados o levaram através de algo semelhante a um corredor até a distante chama. Quanto mais se aproximava, mais sentia um olhar pesado caindo sobre si. Tinha certeza de que algo o esperava no final do caminho. Seu pulso acelerava a cada passo, e embora tentasse não se mover, suas pernas forçavam a caminhada, que culminou em um imenso portal, da mesma pedra antiga e molhada do chão. Fazendo-o imaginar que aquele lugar estivesse ali o esperando por toda uma eternidade.

Em frente ao grande portão, repousava o monstro.

Sentado sobre as pernas traseiras, o que se assemelhava a um imenso chacal negro o fitava com olhos laranja incandescentes, observando-o com uma consciência assustadora. O ser sobrenatural tragava as sombras com a negritude dos seus pelos, fazendo com que parecessem se contrair e retorcer sobre ele, o que era ainda mais intensificado pela chama acesa.

O rapaz sabia que não estava sonhando.  No entanto, lá estava a criatura, estática, com uma pesada respiração sendo o único indício de estar viva.

Uma vela era a razão da chama. Ela repousava no chão, entre os dois, grande e ainda quase sem cera derretida, indicando que fora acesa recentemente. Quebrando o longo momento, o chacal subitamente moveu a cabeça, indicando que o garoto pegasse a vela. Hesitante e com medo do que se seguiria, o menino obedeceu.  

"Que lugar era aquele?", pensava ele. "Por que motivo um ser tão medonho o esperava? E para que o esperava?". A cabeça pesada ainda o deixava grogue, e talvez apenas por isso o desespero não o tinha domado completamente.

Agora, com a vela em mãos, diante da fera, não sabia o que esperar. Ao ter tirado a chama do chão, pôde então enxergar no alto do portal um entalhe curioso. Cravado na pedra estava grande e claro o seu nome.

O tempo ali passava de uma forma estranha. Poderia ter estado parado ali por um momento ou uma eternidade. Era irrelevante.

Foi o Chacal quem finalmente quebrou aquele estado inerte, movendo-se para o lado, desobstruindo o caminho até o portão. Cada instante a mais em que passava olhando a criatura, o garoto pensava distinguir mais claramente formas se movendo pelo corpo negro do animal. Com mais um aceno com a cabeça, o Chacal indicou ao menino que se aproximasse das grades.

Com os passos ressoando pelo chão molhado, o rapaz chegou ao portão, que mesmo com a chama em sua frente, não revelou nada através das grades. A imensidão da abertura era tanta que sua tranca ficava fora de seu alcance. Então esperou. Pensou que talvez estivesse a caminho do nada, o vazio do pós-morte onde sua alma se dissiparia.

O imenso corpo da fera se estendeu sobre o jovem, movendo a grande fechadura do portão com o focinho. O som de metal de arrastando ressoou alto, parecendo vibrar em cada rocha do lugar, ecoando tão distante que sua duração se manteve muito tempo depois do portão já aberto.

Os passos pesados do Chacal se juntaram ao eco, e ele atravessou o limiar. A escuridão manteve-se e apenas os olhos incandescentes do ser sobrenatural podiam ser vistos quando o rapaz o acompanhou através das sombras.

 A escuridão manteve-se e apenas os olhos incandescentes do ser sobrenatural podiam ser vistos quando o rapaz o acompanhou através das sombras

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