Narração Pela Loucura

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(Sem Revisão)

Os dedos de David tamborilavam na mesa, deixando transparecer sua ansiedade. Fora isso, o único outro som no lugar vinha do médico, riscando com a caneta o bloco de receitas.

Não era a primeira vez que o rapaz sentava-se à mesa de seu psiquiatra. O que não diminuía em nada o estresse de ver mais e mais remédios lhe sendo receitado.

Não bastasse a situação, o silêncio do doutor lhe oprimia. David se sentia desconfortável com qualquer interação social. Nunca sabia o que dizer e como se portar. Talvez, esta distância com o mundo externo tenha influenciado diretamente sua decisão de ser um escritor. Os mundos que sua mente criava eram algo que ele conseguia entender e controlar. Havia lógica ali, diferente da caótica realidade.

Sentado ao seu lado, uma terceira pessoa também permanecia em silêncio. Um homem mais velho, de ar imponente e vestes formais. O terceiro homem soltou uma risada abafada, quase inaudível, que ele disfarçou com uma tosse fingida. Era quase como se ele tivesse escutado os pensamentos do rapaz e debochasse deles. David o olhou, desejando com todas as forças que aquela pessoa odiosa não estivesse ali.

Chamando a atenção de David, o médico pigarreou.

O olhar de reprovação estampado em sua face prolongou-se por alguns pesados segundos, até que ele começasse a falar.

— Bem...— ajeitando os óculos, o doutor parecia medir suas palavras. — Não tem um modo fácil de dizer, então serei direto, David.

O assunto vinha rondando ambos já há algumas consultas, mas até aquele dia, era apenas uma sensação. David sabia que as palavras a seguir tornariam a sensação em algo concreto.

— É a nossa última tentativa. — estendendo a receita para o rapaz, o psiquiatra completou. — Não quero assustá-lo, mas acho que poderia pedir alguns dos folhetos para Jan quando passar pela recepção. Há lugares agradáveis para se passar um período de internação.

As indicações e observações sobre os medicamentos que David tinha em mãos pareciam não acabar. Sua esperança minguava a cada linha. O rapaz segurou uma imensa quantidade de perguntas que rondava a sua mente. Concentrou-se em acabar logo com a consulta.

— Acho que desta vez teremos algum resultado. — disse David, tentando soar esperançoso.

— Mas é claro!

Guiados até a porta de saída pelo médico, David e o homem que o acompanhava se despediram e deixaram o lugar.

Relutante, David aceitou pegar os panfletos indicados. Não tinha ideia da quantidade de clínicas que havia na região.

Atravessou a entrada do prédio, observando a fachada do mesmo. Ainda não entendia como alguém com as qualificações do doutor William poderia trabalhar em um lugar tão avariado. Faltava pouco para o prédio parecer completamente abandonado.

— Olha só, Dave. Quantos doces novos! — disse sarcasticamente o Outro Homem, indicando a receita nas mãos de David.

— Já disse para não me chamar de Dave. — murmurou o escritor.

O sarcasmo do homem parecia nunca lhe abandonar. Não fosse o terno preto, ele mais pareceria um velho palhaço.

David apertou o passo, evitando os olhares curiosos dos que passavam por ele na rua. Sentia uma arrepio subindo por suas costas. Olhou para trás, seguindo o cochicho que ouvira. Não havia ninguém. Apenas estaria seguro em casa. Pensou que, talvez, devesse passar o mais rápido possível em uma farmácia. Porém, a ânsia de chegar logo em casa era maior. Compraria o remédio em uma outra hora. Não seria a primeira vez que deixava de se medicar.

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