Capítulo 3

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Talvez eu tenha sido imprudente em aceitar vir, e eu não avisei ninguém. Talvez tenha me deixado levar por sua beleza física, e agora, aqui dentro do carro com ele, eu me arrependo sentindo a tensão no ar.

—Algum problema? Parece tensa.

Ele riu e olhei para o mesmo. Suas mãos seguravam o volante com inconsistência e ele parecia estar relaxado em seu assento, enquanto eu me mantinha rígida.

—Eu to bem, só estou sem fome.

—Você disse que estava morta de fome.

—Uh, eu disse?

— Disse. Não precisa se fazer de difícil agora.

Voltei a olhar para frente, observando a movimentação de carros e logo uma música tomou meus ouvidos, juntei as sobrancelhas ao ouvir a letra e olhei para o rádio, um pen drive vermelho estava conectado e me surpreendi com seu gosto musical.

—Você chama isso de música? Quem canta?

Deixei um riso fraco escapar e pude sentir seu olhar sobre mim, antes de voltar a se concentrar no caminho a frente.

—Tenta falar mal, que eu te farei descer desse carro. — Olhei para ele tentando decifrar se estava falando sério. Conclui que não. —Não conhece System of a Down? Em que mundo você vive?

—Não. — Balancei a cabeça negativamente. — É totalmente o contrário do que ouço, chega a ser uma situação engraçada. Eu gosto de música clássica.

Revirei os olhos enquanto ele fingia sons de vômito.

—Não é tão ruim assim, vai. — protestei enquanto ele baixava o som para que pudéssemos conversar. — aposto que só ouviu a 5ª sinfonia de Beethoven.

—Se isso for aquele "tantantantan!" — Ri diante sua imitação —Conheço sim, qual a graça desse tipo de música?

Não tem graça porquê é música e não piada. Pensei. Mas resolvi guardar para mim.

—Tocar! Eu queria aprender tocar piano também.

Fiz um biquinho enquanto esperávamos o sinal ficar verde.

—Minha mãe tocava piano quando eu era pequeno. Você toca isso aí?

Ele apontou para a capa que continha o violino dentro.

—Aham, um dia te...

Me interrompi. Seria estranho insinuar que tocaria para ele, sendo que a única coisa que sabia sobre o mesmo era seu nome e o gosto musical.

—Claro que gostaria de ver você tocar.

Tirei o cinto de segurança assim que ele parou o carro na vaga em frente ao Loddy's — uma lanchonete que eu frequentava às vezes — e desci. O espaço familiar me tranquilizou um pouco. O segui para uma mesa vazia e me sentei antes dele.

—Então, o que você gosta de comer?

—Qualquer coisa. — Dei de ombros — Contando que seja comida, to comendo.

—Ótimo.

A garçonete apareceu, e anotou nossos pedidos ao mesmo tempo em que praticamente se jogava pra cima de Harry, sem nem ao menos se importar com minha presença. Não que faça diferença.
Arqueei a sobrancelha e logo desviei meu olhar para uma criança que passou de mãos dadas com sua mãe, o cabelo ruivo do garotinho era apaixonante e sem dúvidas senti um pingo de inveja, já que o meu era de um castanho sem graça, e a tinta que eu havia usado um tempo atrás já tinha desbotado.

O som do coração |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora