+6 - Sidney Thompson - 2015

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O mundo enlouqueceu...

— Todos estavam tão ansiosos pela passeata da paz... Hoje, completa oito anos desde as mortes daquelas crianças no pântano, e três anos desde os jovens assassinados no cemitério. Crianças matam outras crianças com a mesma frequência que bêbados brigam nas mesas de bar...

Aconcheguei Margaret no meu abraço, enquanto assistíamos ao noticiário na cama. Quanto mais os repórteres relembravam, mais me sentia frustrado pela falta de segurança a qual estávamos sujeitos.

— Que tipo de psiquiatra é o pai de Neil Miller, afinal? Como não perceber que o próprio filho é um suicida assassino? E Liam Seamus? Ouvi dizer que o garoto já era bem problemático. As famílias dos jovens que morreram tomaram a frente na passeata, e o que aconteceu? Um tal de Kurt Turner passeou com a cabeça de um homem, na frente de todo mundo, fantasiado de Stingy Jack, e depois matou a namorada da vítima. Esse não é criança, mas há quem o defenda dizendo que raciocina como uma.

Margaret costumava ficar sonolenta àquela hora, porém estava atenta ao meu desabafo sobre as tragédias do centro da cidade. Acontecia sempre na mesma época do ano... Nesta época.

Desliguei a televisão e me voltei totalmente para minha esposa.

— Prometi que sempre cuidaria de você quando éramos jovens, e sei que quer se mudar. Agora, sou um velho de 74 anos que não encara a idade como desculpa pra não cumprir com a palavra. Vamos começar a pesquisar por um lugar mais sereno amanhã. O que acha?

Margaret sorriu, atraindo meu sorriso em resposta. Ela me transmitia sua paz.

— Você tem sido maravilhoso...

— Gosto do espaço daqui, mas farei de tudo pra que continuemos tendo uma boa velhice. Mudamos quando você melhorar.

— Sim. Vamos viver tranquilos e seguros juntos.

— Durma bem, meu amor. Me chame, caso precise de algo.

Apaguei a luz e peguei no sono após mais ou menos uma hora de tentativa. Aquelas notícias me deixaram ansioso.

No meio da madrugada, o barulho de vidro quebrando me acordou. Margaret tinha um sono pesado, nem sequer se mexeu na cama quando me levantei. Um calafrio proveio da impressão que tive, de que a casa estava sendo invadida. Portanto, sacudi cuidadosamente o ombro de minha esposa.

— Margaret, acorda. Tem alguém na casa.

— O quê?

A pergunta foi só um sussurro preocupado, para concordar com meu tom precavido, enquanto eu colocava o telefone sem fio na mão dela.

— Preciso que chame a polícia. Vou descer e expulsá-lo. Seja quem for, não vai subir aqui.

Assim que consegui minha antiga escopeta em nosso closet, caminhei para fora do quarto. Não dava para ficar só esperando a polícia. Eu tinha que proteger Margaret.

Morávamos numa casa de campo. Nosso vizinho mais próximo residia a dois quilômetros. Para uma ocorrência do tipo, o ladrão provavelmente sabia que se tratava do domicílio de um casal de idosos, talvez também soubesse um estava doente... Nunca me entendi como vulnerável e não iria começar naquela noite. Eu estava determinado a pegá-lo primeiro.

— Não vá...

— Não se preocupe, querida. Vai ficar tudo bem, eu prometo. Volto logo.

Sem acender as luzes, desci as escadas lentamente. Ainda na metade dos degraus, eu estava na mira do vento gelado. A vidraça da sala tornara-se estilhaços no chão. Havia cacos até no corredor da cozinha. Trovejava lá fora. Respirei fundo e firmei minhas mãos, quando ameaçaram tremer.

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