1º Conto - Tiros na rua

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Ouviram-se tiros naquela rua deserta com apenas quatro casas dispostas uma do lado da outra, naquele infame bairro nojento. Era tarde da noite estrelada, cigarras cantavam, vaga-lumes dançavam e o que teria acontecido?

Não sabiam seus habitantes do que se tratava tamanho barulho que havia ecoado na escuridão, nem tão pouco porque as janelas tremeram.

— Merda, justo agora — o programa havia ido para os comerciais, quando o participante estava quase respondendo uma pergunta — ele disse com medo do que assombrava lá fora, após ouvir aquele som, mesmo com a TV ligada.

O rapaz alto, corpo magro, cabelos castanhos, olhos azuis estava somente de cueca boxer com sua barba por fazer na cama com sua esposa, eles estavam assistindo TV, aquele programa de chute uma resposta e ganhe dinheiro. Ridículas essas pessoas, como podem errar perguntas tão idiotas — pensou a mulher metida a inteligente levantando-se da cama fazendo um gesto do tipo — gato eu já volto — e indo até a cozinha. Chegando lá, ela abriu a porta que dava acesso a área de serviço e acendia seu cigarro. A noite está tão linda, mas que porra de barulho foi esse? — pensou dando uma forte tragada. O marido que ficara no quarto, estava pulando os canais com o controle, até que encontrou um canal pornô, suas mãos foram para dentro na cueca massageando seu membro que estava ficando duro em suas mãos calejadas por causa do trabalho, ele era mecânico.

A mulher que estava usando uma camisola preta transparente, deixando aparecer sua calcinha e seu sutiã — esse é o meu pijama — dizia para o marido de vez quando se deitando de costas para ele, encostando sua bunda na virilha dele, sentindo sua barba no pescoço, continuava a fumar seu cigarro.

Olhou para a rua — escuridão, negra, fria — observou um cachorro grande, preto e babando parecia que estava possuído — esquisito — entrar no quintal da sua vizinha, Francis, uma senhora viúva que morava a sua esquerda. As luzes estavam acessas. Estranho, luzes acesas há essas horas, normalmente ela dorme cedo, pensou a esposa. Então ela apagou o seu cigarro, subiu as escadas em direção ao quarto, seu marido já tinha dormido — ele estava fingindo dormir. Ela aproveitou então que seu amor tinha partido para o mundo dos sonhos, vestiu uma calça jeans e uma blusinha branca que realçava seus belos peitos e desceu para a varanda. A luz da Sra. Francis continuava acessa.

Débora, a esposa saiu de fininho pelo seu portão baixo e entrou no quintal da sra. Francis, dirigiu se até as portas do fundo pelo pequeno corredor. Ouviu um barulho, espreitou-se num canto escuro e então viu a cena, a viúva, morena, cabelos enrolados, bocas grandes estava beijando o xerife da cidade, ele era casado — safado, filha da puta, traidor, cachorro — pensou a mulher. Mas o beijo era de despedida. Ele tinha que verificar o que tinha acontecido naquela rua, os tiros — apenas aproveitara a oportunidade para visitar — afogar o ganso, como diria a avó de Débora — uma civil indefesa. O xerife Todd saiu pelos fundos seguindo pela rua.

A jovem mulher continuara em seu esconderijo, quando Francis adentrou a casa novamente. Dessa vez, Débora deu a volta pela casa indo para outro lado dela, esse corredor dava acesso a janela do quarto da viúva, semicerrou seus olhos pelo vidro agachada, de forma que não fosse notada. Viu a Sra. Francis pegando uma caixinha de cima do guarda-roupa. Arregalou os olhos, jogou a cabeça para frente a fim de tentar enxergar melhor o que estava vendo. Francis estava tirando da caixinha, uma coisa roliça, grande e meio acinzentada e dizendo: — Saudades, meu amor, saudades meu tesão, logo estarei com você, Albert.

— Não pode ser, não creio, é o pênis de seu falecido marido — a mulher disse baixinho para si, mesmo espantada. Débora então havia descoberto o segredo de Francis, ela havia assassinado seu marido que segundo os legistas, morreu de causas inexplicáveis. A viúva tinha roubado seu souvenir na funerária quando a equipe estava preparando o corpo. Meu Deus, preciso avisar o xerife pensou a esposa do mecânico saindo rápido de onde estava seguindo o rumo que o xerife havia tomado. Ela avistou novamente o cão preto na rua, ele encarou-a. Débora apenas correu.

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