Saíra completamente natural, improvisada, e Noah se desculpou pela falta de coerência de algumas partes e as rimas baratas: nunca fora bom com poemas e poesia, gostava apenas de ler, não de fazer. Suspirou pesadamente, pois concluíra.
— Se chama "Moço, sai da sacada." — disse, por fim — Como você se chama?
— Isso não vem ao caso! Não importa! — o garoto gritou em resposta, e agarrou-se mais à cerca.
— Verdade. Meu nome é Noah, por acaso. Eu gosto de batatas fritas. Você gosta de batatas fritas, moço? — falou Noah, tentando se soltar. Todos faziam silêncio, e nem mais uma buzina tocava naquele ambiente. Noah conseguia escutar o garoto fungando lá em cima.
— Gosto — timidamente, o garoto respondeu — Meu nome é Nash, mas todos costumam me chamar de Trash¹. Você pode me chamar assim também, pois é verdade...
— Trash? Trash? Logo Trash? Eu odeio a pronúncia de Trash! Prefiro Nash, muito mais bonito. Aliás, é o que consta na sua identidade, sim? — falou Noah — Prazer te conhecer, moço Nash. Gostaria de te conhecer mais. — se aproximou demais do prédio.
— Parado, Noah! Ou irei pular! — Nash fez um gesto para que o outro parasse.
— Não deve usar esses argumentos, moço Nash. — Noah continuo caminhando.
— Ele está falando sério, garoto! — um dos policiais falou.
— Ah, sei disso! — dissera Noah, e depois pegou a escada que estava perto dos policiais.
— Tem uma vida em risco, espero que saiba o que está fazendo — sussurrou um dos policiais.
— Pelo menos eu estou tentando, senhor. Vocês nem chegaram perto disso — Noah foi indiferente, e viu um outro policial tocar no ombro daquele que antes lhe sussurrara, já que sua expressão mudou e ele deu um passo à frente. — Olha, Nash! — virou-se para o garoto e encostou a escada no prédio — Eu vou subir, e não ouse me impedir!
— Não! Não suba! Não sabe o que está acontecendo comigo! Não sabe, Noah. Vai embora! — Nash voltou a chorar.
— Tudo vai ficar bem. Não é uma promessa, apenas peço que acredite. — Noah já estava subindo a escada.
— Se eu morrer, Noah...
Noah riu, para a surpresa de todos e inclusive a de Nash. Fora uma gargalhada, seca, mas fora uma bela gargalhada. Daquelas que contagiam, fazem todos rirem e se perguntarem o porquê. Mas ninguém o acompanhou.
— Ah, qual é, pessoal!? — subiu alguns degraus, disfarçadamente — Vindo de você, Nash, ainda mais nesse estado... Hm... Bem... Agora parei para perceber... Te entendo muito bem, Nash. Vou me juntar a você. — subia vagarosamente, para não assustá-lo, mas continuava falando — É, vamos morrer juntos!
— Acha que isso é uma brincadeira, Noah? Eu não estou brincando! Não pensa que nem todos, não é? Acham que tudo o que falo é brincadeira, é para chamar atenção! Acham que é drama meu! — Nash inclinou-se um pouco para frente, e Noah se assustou com a ação. Seu coração veio a boca.
— Espere por mim, amigo. E não estou de gozação. Não conseguirei viver um dia se você pular daí. Então antes eu pule junto do que viver a minha vida infeliz, não é mesmo? Não é mesmo, moço? — Noah ainda subia, e já estava cansado disso, culpa da sua vida sedentária — Ou eu subo, ou você desce.
— Você sabe que vou descer daqui. Mas não do jeito que todos querem — disse Nash, mas saiu mais como um sussurro. — Não suba, Noah! Desça já!
— Eu me acabei todo para subir, para depois você me dispensar? Ah, não, Nash. Sinto muito, mas iremos fazer isso juntos! — enfim, Noah conseguiu subir e agarrou-se ao cercado da sacada, onde Nash ameaçava pular e acabar com a sua vida. — Aqui estou! — sentou-se ao lado de Nash, mas o garoto se afastou.
Nash finalmente sentiu o vento vir, e o Sol descer um pouco. Não sabia que aquilo tudo havia demorado tanto, mas estava feliz em poder sentir o vento em seu rosto e ter seu cabelo bagunçado.
— Eu quero morrer, Noah — contou, como se fosse uma criança contando um segredo.
— Eu sei. E é por isso que estou aqui — Noah tentou sorrir, mas saiu algo torto e sofrido, não um sorriso real. Nash se contentou com aquilo, e abaixou a cabeça para sofrer um pouco.
***
Total de 698 palavras.
Trash¹: lixo, em inglês.
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Moço, sai da sacada
RomanceNão fora só treze motivos que fizeram Nash estar naquele edifício no centro da cidade, fora muito mais. Eram tantos, que o pobre rapaz não conseguia nem mencionar um. E, caso pensasse em algum, não hesitaria e se jogar dali, no meio de um domingo en...